A Bíblia e a Sagrada Tradição são suficientes para sabermos acerca da nossa fé?
Identificámos duas fontes de conhecimento sobre Deus e o mundo – a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição. Estas duas fontes, como vimos, fluem da Tradição Apostólica.
Para além disso, vimos que a Sagrada Tradição não é como um fóssil a ser estudado pelos arqueólogos – um exemplar petrificado de um objecto morto. Não! A Tradição está viva!
O Papa Bento XVI disse durante a Audiência Geral de 3 de Maio de 2006: «A Tradição é o rio da nova vida que flui desde as origens, desde Cristo até nós, e nos faz participar na história de Deus com a humanidade». E acrescentou: «No rio vivo da Tradição, Cristo não se encontra afastado dois mil anos. Ele está realmente presente entre nós e dá-nos a verdade, ele dá-nos a luz que nos faz viver e encontrar o caminho para o futuro».
E assim aparece um outro conjunto de interrogações. Quem é que determina quais os livros da Bíblia que nos ensinam a verdade? Quem é que decide quais os antigos autores que estão qualificados como Pais da Igreja? Quando há – ou parece haver – ensinamentos conflituosos, quem actua como árbitro? Quem é que pode julgar se um novo desenvolvimento nos ensinamentos é fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo?
A Tradição Apostólica necessita de algo, de uma autoridade, para a receber e salvaguardar, explorá-la e transmiti-la. A essa autoridade chamamos “Magisterium” (“Magistério” – do Latim “Magíster”, professor).
De facto, o Catecismo da Igreja Católica (nº 84) ensina-nos que “o depósito da fé (depositum fidei), contido na Tradição Sagrada e na Sagrada Escritura, foi confiado pelos Apóstolos ao conjunto da Igreja”.
Jesus Cristo, que é Sacerdote, Profeta e Rei, dá à Igreja uma missão tripla: o Sacerdócio, o Profético e a Missão Real (múnus sacerdotal, profético e real). A missão profética inclui uma função de ensino: o Magistério.
São Paulo explica a necessidade de uma autoridade de ensino, designada e enviada por Cristo. «Mas, como é que os homens o chamaram se não acreditaram Nele? E como acreditariam Nele se nunca ouviram falar Dele? E como é que poderiam ter ouvido falar Nele, sem um pregador? E como poderiam os homens pregar a menos que tivessem sido enviados? (Romanos 10:14-15)».
O Catecismo da Igreja Católica refere: “‘O encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou contida na Tradição, foi confiado apenas ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo’ (Dei Verbum, 10), isto é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma” (nº 85).
No entanto, esta autoridade “‘não está acima da Palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido, enquanto, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo, ouve-a piamente, guarda-a religiosamente e a expõe fielmente, haurindo deste depósito único da fé tudo quanto propõe à fé como divinamente revelado’ (Dei Verbum, 10)” (Catecismo da Igreja Católica, nº 86).
O CIC explica também como o fiel (“fiel” inclui bispos, clérigos, leigos e religiosos) deve considerar o Magistério: “Os fiéis, lembrando-se da palavra de Cristo aos Apóstolos: «Quem vos escuta, escuta-me a Mim» (Lc., 10, 16), recebem com docilidade os ensinamentos e as directrizes que os seus pastores lhes dão, sob diferentes formas” (nº 87).
Portanto, podemos dizer que a nossa fé se baseia numa plataforma de três pernas: a Sagrada Escritura, a Sagrada Tradição e o Magistério. Neste âmbito, o Catecismo da Igreja Católica sublinha: “‘É claro, portanto, que a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, segundo um sapientíssimo desígnio de Deus, estão de tal maneira ligados e conjuntos, que nenhum pode subsistir sem os outros e, todos juntos, cada um a seu modo, sob a acção do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas’ (Dei Verbum, 10)” (nº 95).
Pe. José Mario Mandía