Por que herdámos o pecado original?
E o que é o pecado mortal?
Explicámos a diferença entre o pecado original (o pecado dos nossos primeiros pais) e o pecado actual ou pessoal (o pecado que cada um de nós comete). Uma pergunta que muitas pessoas fazem é por que razão herdamos o pecado dos nossos primeiros pais? Não o podemos recusar?
Para responder a esta pergunta, precisamos entender a natureza do pecado. O pecado é real, mas não é “alguma coisa”, é sim a falta de algo que devemos ter. Essa falta de algo que deveríamos ter denominamos de “privação”. Podemos entendê-lo melhor com uma analogia: a cegueira é real, mas não é “alguma coisa”; falta algo que deveríamos ter: o poder da visão. A cegueira é a privação da visão.
Como os nossos primeiros pais recusaram a oferta de Deus, perderam todos os dons que Deus lhes havia dado no momento da sua criação (TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ, 54). A perda do maior dom – a graça santificante – é o pecado dos nossos primeiros pais. Porque eles a perderam, não havia como passarem adiante. Pelo seu pecado, deliberadamente e livremente, privaram-se do dom da graça santificante e, como consequência, nós, os seus descendentes, não podemos desfrutar desse dom, a menos que o recebemos no Sacramento do Baptismo.
O PECADO MORTAL
O pecado actual, o pessoal, pode ser classificado de muitas maneiras, mas a classificação mais importante tem como base a gravidade ou maldade da falta ou falha. Por isso, distinguimos entre pecado mortal e venial.
Onde encontramos o pecado mortal na Bíblia? Na Primeira Carta de São João, este afirma: «Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não leva à morte, ore, e Deus dará vida ao que pecou. Refiro-me àqueles cujo pecado não leva à morte. Existe pecado que conduz à morte, não estou ensinando que se deva orar por esse. Toda injustiça é pecado, contudo há pecado que não induz à morte» (I João 5:16-17).
Quando é que um pecado é mortal? O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC) explica, no ponto 395: 1– Os elementos ou condições que fazem parte de todo o pecado mortal; 2– as consequências do pecado mortal; e 3– a maneira como se pode obter o perdão do pecado mortal.
ELEMENTOS ou CONDIÇÕES –Comete-se um pecado mortal quando estão presentes, simultaneamente: 1– um assunto grave; 2– o pleno conhecimento (a pessoa o faz conscientemente); e 3– o consentimento deliberado (ela o faz deliberadamente).
CONSEQUÊNCIAS –O pecado mortal 1– destrói a caridade em nós; 2– priva-nos da graça santificante, e 3– se não nos arrependemos, leva-nos à morte eterna do inferno.
PERDÃO –Pode-se ser perdoado, de forma ordinária, por meio dos Sacramentos 1– do Batismo e 2– da Penitência ou Reconciliação.
Mesmo uma pessoa que cometa apenas um só pecado mortal, exclui-se livremente e deliberadamente, da amizade de Deus. O pecado mortal é como fechar as portas do coração para qualquer coisa que seja de Deus, incluindo a oferta de amor e felicidade eterna. O pecado destrói a caridade e, como diz São Paulo na sua Primeira Carta aos Coríntios (13, 1-3), quando nos falta a caridade (amor), falta-nos todo o resto, porque a caridade está no centro da santidade.
Não é preciso dizer, deliberadamente e explicitamente, que se odeia e abomina Deus, para cometermos pecado grave ou mortal. Basta que se desobedeça aos Mandamentos num determinado assunto sério. Assim, nosso Senhor disse aos Seus apóstolos, que amar a Deus significa observar os Mandamentos (cf. João 14:15,21). Porque uma pessoa em pecado mortal exclui-se, livremente e deliberadamente, da amizade de Deus (isto é, recusa a graça santificante), e também se exclui dos Sacramentos que exigem essa amizade (a saber, os Sacramentos da Confirmação, Eucaristia, Matrimónio, Ordem e Unção dos Enfermos). Somente depois de reconciliado com Deus na confissão, se pode receber estes Sacramentos. Se os recebermos sabendo que estamos em pecado mortal, não os confessando, então cometemos um pecado mortal adicional.
O pecado mortal é como o confinamento solitário deliberado. Se a morte vier e a pessoa não se arrepender, o seu coração será selado para sempre – ter-se-á excluído de desfrutar da infinita verdade, bondade, beleza, vida e felicidade.
Pe. José Mario Mandía