TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (186)

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O que são Carismas?

O Catecismo da Igreja Católica explica, no ponto 2003, que para além da Graça santificante, da Graça actual e da Graça sacramental, há “as graças especiais, também chamadas ‘carismas’, segundo o termo grego empregado por São Paulo e que significa favor, dom gratuito, benefício (Lumen Gentium12). Qualquer que seja o seu carácter, por vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas estão ordenados para a graça santificante e têm por finalidade o bem comum da Igreja. Estão ao serviço da caridade que edifica a Igreja (I Coríntios 12)”.

Carismas (χαρίσματα, charismata) são graças concedidas a uma pessoa para o benefício de outros.

Conhecemos os carismas porque São Paulo falava deles. Na Primeira Carta aos Coríntios (12:4-7) escreve: «Existem diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Existem várias formas de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversas maneiras de actuação, mas é o mesmo Deus quem efectua tudo em todos. A cada um, contudo, é concedida a manifestação do Espírito, com a finalidade de que todos sejam beneficiados». E dá alguns exemplos: «Pelo Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra de conhecimento. A outro, pelo mesmo Espírito, é outorgada a fé; a outro, pelo único Espírito, dons de curar; a outro, poder para operar milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a outro, variedade de línguas; e ainda a outro, interpretação de línguas. Entretanto, o mesmo e único Espírito realiza todas essas acções, e Ele as distribui individualmente, a cada pessoa, conforme deseja (I Coríntios 12:8-11)».

São Paulo usa a analogia do corpo para explicar o que são carismas e por que existem diferentes tipos: «Porquanto, assim como o corpo é uma só unidade e possui muitos membros, e todos os membros do corpo, ainda que muitos, constituem um só organismo, assim também ocorre em relação a Cristo. Pois todos fomos baptizados por um só Espírito, a fim de sermos um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres; e a todos nós foi dado beber de um único Espírito. Porque também o corpo não é constituído de apenas um membro, mas de muitos. Se porventura o pé disser: “Porque não sou mão, não pertenço ao corpo”, nem por isso deixa de fazer parte do corpo. E se a orelha reclamar: “Porque não sou olho, não pertenço ao corpo!”, nem por isso deixa de fazer parte do corpo. Se o corpo todo fosse olho, onde estaria a capacidade de ouvir? Se o corpo todo fosse audição, onde estaria o olfato? Em verdade, Deus dispôs cada um dos membros no corpo, segundo a sua vontade. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Sendo assim, há muitos membros, mas um só corpo! O olho não pode ordenar à mão: “Não tenho necessidade de ti!” Tampouco a cabeça pode declarar aos pés: “Não preciso de vós!” (I Coríntios 12:12-21)». Contudo, São Paulo acrescenta que nem todos precisam ter estes carismas: E Deus designou, na Igreja, em primeiro os apóstolos, em segundo os profetas, em terceiro os mestres; depois os fazedores de milagres, os curandeiros, os auxiliares, os administradores e os oradores em várias línguas. Todos são apóstolos? Todos são profetas? Todos são professores? Todos fazem milagres? Todos possuem dons de cura? Todos falam em várias línguas? Todos interpretam? (I Coríntios 12:28-29; Romanos 12:6-8).

Os carismas são graças dadas em benefício dos outros. É por isso que São Paulo observa que estas não são as graças mais importantes, porque não santificam directamente a pessoa que recebe o dom: o dom é para os outros e não para si mesmo. Ser Papa ou bispo, ou falar em línguas, ou ter o dom de curar, por si só, não faz de alguém um santo. Assim, um cristão não deve almejar apenas obter carismas. É por isso que São Paulo conclui este capítulo dizendo: «Mas desejarei com zelo os dons superiores. E eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente (I Coríntios 12:31)».

No capítulo seguinte, São Paulo fala sobre este “excelente” caminho: ἀγάπη (em Grego: ágape, traduzido como “caritas” em Latim; “caridade” ou “amor” em Inglês), o presente mais necessário de todos. Afirma mesmo que se tivesse tantos dons, mas não tivesse amor, nada era ou nada ganhava (I Coríntios 13:2,3). Não nos podemos tornar santos sem caridade. E de onde vem esta caridade? É concedida pela Graça santificante que recebemos através dos Sacramentos.

Pe. José Mario Mandía

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