De que forma a ignorância afecta a consciência?
Vimos que a consciência não é uma sensação, mas um julgamento feito pelo intelecto. Para julgar, o intelecto precisa de dados. À ausência de dados damos o nome de ignorância (Catecismo da Igreja Católica nº 1790).
É ou não censurável a pessoa que actua de forma ignorante? A resposta depende se a ignorância é: (1) vencível ou culpável; (2) invencível ou inculpável. Qual a diferença?
Ignorância vencível: “Muitas vezes, tal ignorância pode ser imputada à responsabilidade pessoal. Assim acontece ‘quando o homem pouco se importa de procurar a verdade e o bem e quando a consciência se vai progressivamente cegando, com o hábito do pecado’ (Gaudium et Spes, 16). Nesses casos, a pessoa é culpada do mal que comete” (CIC nº 1791).
Como o nome indica, a ignorância vencível pode ser ultrapassada porque a pessoa é intelectualmente capaz de reconhecer os princípios envolvidos. Já se essa ignorância resultar de falta de esforço, é culpável – a pessoa pode ser culpada por más acções que tenha cometido.
Ignorância invencível: Esta espécie de ignorância exonera a responsabilidade da pessoa, sendo denominada como “inculpável”. A ignorância invencível também se pode dar com pessoas detentoras de grande capacidade intelectual, pois poderão ter aprendido mal ou de modo errado com quem até respeitavam, e por isso tenham aderido às suas ideias. O Catecismo da Igreja Católica refere, no ponto 1793: “Se, pelo contrário, a ignorância é invencível, ou o juízo erróneo sem responsabilidade do sujeito moral, o mal cometido pela pessoa não pode ser-lhe imputado. Mas nem por isso deixa de ser um mal, uma privação, uma desordem. É preciso trabalhar, portanto, para corrigir dos seus erros a consciência moral”.
COMO SE FORMA UMA CONSCIÊNCIA SANA? –Podemos citar três importantes formas de educar: (1) Estudo, Oração e Direcção Espiritual: Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, “a consciência moral recta e verdadeira forma-se com a educação e com a assimilação da Palavra de Deus e do ensino da Igreja. É amparada com os dons do Espírito Santo e ajudada com os conselhos de pessoas sábias. Além disso, ajudam muito na formação moral a oração e o exame de consciência” (CCIC nº 374).
(2) Administração frequente do Sacramento da Reconciliação: Através da Confissão podemos obter não só a Graça de Deus, mas também conselhos do nosso confessor, os quais são apropriados e adequados às nossas necessidades. Quantas vezes nos devemos confessar? São João Paulo II costumava fazê-lo semanalmente. Assim como o Papa Bento XVI. Já o Papa Francisco fá-lo uma vez a cada quinze dias.
(3) Formação da vontade através de luta pessoal e mortificação: Temos de treinar a nossa vontade de amar o bem e de lutar por ele, apesar dos sacrifícios que isso pode implicar. Um testamento aleijado com maus hábitos pode distorcer o julgamento da consciência.
POR QUE RAZÃO A CONSCIÊNCIA PRECISA DA LEI MORAL? –A consciência julga, como já vimos, a bondade ou a maldade de uma acção. É uma medida subjectiva ou uma norma de moralidade. Mas a consciência tem de basear os seus julgamentos em certas normas objectivas. A consciência é como o capitão de um navio que precisa de mapas e pontos de referência para navegar em segurança. A consciência não pode inventar as suas próprias regras de moralidade. Precisa de um ponto de referência estável, independente do capricho de um qualquer indivíduo. Precisa de saber o que é realmente bom e o que é verdadeiramente mau, para que possa julgar correctamente.
Pe. José Mario Mandía