A Bíblia diz-nos tudo o que precisamos saber?
Vimos anteriormente que Deus Se revelou totalmente com a chegada de Jesus. Também vimos que Jesus Cristo escolheu sucessores que pudessem continuar o Seu trabalho, ou seja, transmitir a revelação até ao fim dos tempos. Esses sucessores têm transmitido através dos séculos o que é chamado de “Depósito da Revelação”. O termo “depósito” é uma alegoria – chamemos-lhe assim – ao dinheiro que depositamos no banco para aí ficar guardado em segurança e produza juros (cresça).
Jesus Cristo confiou as verdades aos apóstolos e seus sucessores, para que estes as pudessem preservar e transmitir, e consequentemente as fizessem crescer. Os apóstolos e os seus sucessores (os bispos) têm pois a obrigação de as salvaguardarem e ensinarem. Esta responsabilidade é denominada como “Gabinete de Ensino” ou “Magisterium” (Magistério) da Igreja. A maioria das verdades reveladas entregues à Igreja, para que ela as preservasse e transmitisse, foram entregues por escrito (Sagradas Escrituras) e verbalmente (Tradição Sagrada).
Algumas pessoas pensam que a Bíblia é suficiente para se conhecer Cristo e a Sua doutrina. Esta é a crença da “sola Scriptura” (“apenas as Escrituras”). Mas a Bíblia não nos diz que ela contém tudo; que deva ser a única regra da fé. Na realidade, o último capítulo do último versículo dos Evangelhos de São João diz-nos: «Mas existem muitas outras coisas que Jesus fez; se cada uma delas fosse escrita, penso que o próprio mundo não poderia conter todos os livros que teriam de ser escritos(João 21:25)».
É bom lembrarmo-nos que Jesus Cristo enviou os apóstolos para pregar, não para escreverem o que ouviam. Uma grande parte dos ensinamentos do Senhor foram primeiramente transmitidos oralmente e só mais tarde redigidos. São Paulo exorta os Tessalonicenses a não se limitarem apenas ao que está escrito, mas também a guardarem o que ouviram. Ambos se enquadram no título “Tradições”. «Assim, irmãos, aguentem firmes e mantenham as tradições que vos ensinaram, tanto oralmente como por escrito(II Tessalonicenses 2:15)».
O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC nº 12) define “Tradição” ou “Tradição Apostólica”: “A Tradição Apostólica é a transmissão da mensagem de Cristo, realizada desde as origens do Cristianismo, mediante a pregação, o testemunho, as instituições, o culto, os escritos inspirados. Os Apóstolos transmitiram aos seus sucessores, os Bispos, e, através deles, a todas as gerações até ao fim dos tempos, tudo o que receberam de Cristo e aprenderam do Espírito Santo”.
O Compêndio explica onde é que podemos encontrar esta Tradição Apostólica. O ponto 13 diz-nos: “A Tradição Apostólica realiza-se de duas maneiras: mediante a transmissão viva da Palavra de Deus (chamada também simplesmente de Tradição) e através da Sagrada Escritura que é o próprio anúncio da salvação transmitido por escrito”.
“A Tradição e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e comunicam entre si. Com efeito, ambas tornam presente e fecundo na Igreja o mistério de Cristo e provêm da mesma fonte divina: constituem um só sagrado depósito da fé, do qual a Igreja recebe a certeza acerca de todas as coisas reveladas” (CCIC nº 14). Esta fonte são os ensinamentos de Jesus, que Ele entregou aos Seus apóstolos e com os quais, por seu turno, estes pregaram aos primeiros cristãos.
Um documento importante que explica esta matéria extensivamente é o “Dei Verbum” (“A Palavra de Deus”). Busquem no Google!
Pe. José Mario Mandía