O que tem de especial a Presença Real?
O Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC) refere no ponto 282: “Jesus Cristo está presente na Eucaristia dum modo único e incomparável. De facto, está presente de modo verdadeiro, real, substancial: com o seu Corpo e o seu Sangue, com a sua Alma e a sua Divindade. Nela está presente em modo sacramental, isto é, sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho, Cristo completo: Deus e homem”.
PRESENÇA SUBSTANCIAL E SACRAMENTAL –De modo a se compreender o que queremos dizer por “presença substancial”, é necessário entender o que significam os termos “substância” e “acidentes”. De acordo com as filosofias aristotélica e tomista, cada Ser criado é composto por dois princípios: substância e acidentes. A substância é a própria coisa ou coisa em si. Simplificando: quando perguntamos “o que é isto?”, queremos pois saber o que é a substância. Já quando perguntamos “pode-me descrever ou mostrar as suas características?”, queremos descobrir os seus acidentes. Portanto, quando dizemos que Cristo está substancialmente presente, tal significa que Cristo, “com o seu Corpo e o seu Sangue, com a sua Alma e a sua Divindade…”, é total e inteiramente “Deus e Homem” (CCIC nº 282).
Além disso, a sua presença é “sacramental”. O que isto significa? Lembramos que os Sacramentos são definidos como o sinal visível de uma realidade invisível. Na Eucaristia, Jesus Cristo é a realidade invisível. Ele está substancialmente presente, mas a Sua presença não é “visível” por meio da Sua aparência física ou dos acidentes, mas por meio de duas realidades: o pão e o vinho. O que vemos, cheiramos e provamos são as cores, os odores e os sabores do pão e do vinho. Não vemos o corpo humano (físico) de Cristo. É por esta razão que a Igreja não diz que se trata de uma presença “física”, mas sacramental.
Podemos assim afirmar que Jesus pretende “estar” ou “ser” disfarçado no pão e no vinho. Não recorre à Sua aparência física para se nos revelar, mas fá-lo por meio do pão e do vinho.
O facto da presença de Cristo ser sacramental explica o porquê de ao partir-se fisicamente a Hóstia Consagrada não resultar a quebra física de Cristo: é que, precisamente, a presença de Cristo não é física, mas sacramental.
DE ONDE SURGE A PRESENÇA SACRAMENTAL? –A Presença Sacramental tem lugar na Missa, durante a Consagração, quando o celebrante pronuncia as palavras: “Este é o meu corpo” e “Este é o cálice do meu sangue”. Nesse momento dá-se a Transubstanciação.
E o que é a Transubstanciação? O CCIC dá a resposta, no ponto 283: “Transubstanciação significa a conversão de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue”.
O poder de realizar a Transubstanciação foi conferido por Cristo aos Apóstolos durante a Última Ceia. Ele lhes disse: «Fazei isto em memória de Mim» (1 Coríntios 11:24). O mesmo ponto do CCIC acrescenta: “Todavia as características sensíveis do pão e do vinho, isto é as ‘espécies eucarísticas’, permanecem inalteradas”.
Depois da Consagração, o pão e o vinho desaparecem, mas as suas características mantêm-se. Este fenómeno é único, pois quando algo muda na Natureza, de uma coisa para outra (mudança substancial), o seu aspecto também muda (mudança acidental). O que não acontece neste caso.
O Catecismo da Igreja Católica diz mais: “a presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e dura enquanto as espécies eucarísticas subsistirem” (CIC nº 1377). Portanto, quando O recebemos na Comunhão, enquanto as características do pão permanecerem o Senhor Jesus estará verdadeiramente, factualmente, substancialmente e sacramentalmente presente nos nossos corpos. Somos naqueles poucos momentos o bem mais precioso – verdadeiros tabernáculos vivos!
Pe. José Mario Mandía
FOTO: Ivan Leong