TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (138)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (138)

Qual o alinhamento da Missa?

Existe um documento, da época da Igreja Primitiva, que revela que a Missa que celebramos nos nossos dias tem o mesmo conteúdo básico e estrutura que a Missa celebrada nos primeiros séculos do Cristianismo.

O Catecismo da Igreja Católica, no ponto 1345, cita o referido documento – carta em que São Justino escreve ao imperador pagão Antonino Pio (138-161) “sobre as grandes linhas do desenrolar da celebração eucarística”.

Escreveu então São Justino: “No dia que chamam Dia do Sol, realiza-se a reunião num mesmo lugar de todos os que habitam a cidade ou o campo.

Lêem-se as memórias dos Apóstolos e os escritos dos Profetas, tanto quanto o tempo o permite.

Quando o leitor acabou, aquele que preside toma a palavra para incitar e exortar à imitação dessas belas coisas.

Em seguida, levantamo-nos todos juntamente e fazemos orações […] por nós mesmos […] e por todos os outros, […] onde quer que estejam, para que sejamos encontrados justos por nossa vida e acções, e fiéis aos mandamentos, e assim obtenhamos a salvação eterna.

Terminadas as orações, damo-nos um ósculo uns aos outros.

Depois, apresenta-se àquele que preside aos irmãos pão e uma taça de água e vinho misturados.

Ele toma-os e faz subir louvor e glória ao Pai do universo, pelo nome do Filho e do Espírito Santo, e dá graças (em grego: eucharistian) longamente, por termos sido julgados dignos destes dons.

Quando ele termina as orações e acções de graças, todo o povo presente aclama: Ámen.

[…] Depois de aquele que preside ter feito a acção de graças e de o povo ter respondido, aqueles a que entre nós chamamos diáconos distribuem a todos os que estão presentes pão, vinho e água ‘eucaristizados’ e também os levam aos ausentes”.

Pela descrição de São Justino, podemos distinguir as duas partes básicas da Missa. “A liturgia eucarística desdobra-se em dois grandes momentos, que formam basicamente uma unidade: [1] A reunião, a liturgia da Palavra, com as leituras, a homilia e a oração universal; [2] A liturgia eucarística, com a apresentação do pão e do vinho, a acção de graças consecratória e a comunhão” (CIC nº 1346).

Note-se que esta sequência de duas etapas segue a ordem do milagre da multiplicação dos pães (Mateus 14:13-21, Marcos 6:31-44, Lucas 9:10-17 e João 6:5-15) e da aparição perante os dois discípulos em Emaús (Lucas 24:13-35). Jesus começa [1] por ensinar, explicando as Escrituras, depois [2] pega no pão, abençoa-o, parte-o e dá-o. A Missa só está completa quando inclui estas duas partes principais.

Sobre esta estrutura, o padre Sebastian Camilleri OFMescreveu: “São Cesário de Arles (470-542) foi vigário papal da Gália e da Espanha num momento crítico para o mundo, quando os bárbaros invadiam e destruíam o Império Romano.

Ao escrever ao seu rebanho, em que grande número eram bárbaros recém-convertidos, ou seguidores do herético Ário (230-356), o venerável Arcebispo deu-lhes este bom conselho: ‘Quando vós estais na Missa, meus queridos irmãos, eu vos peço, por amor ao Pai, que não deixeis a Igreja antes do fim da Missa. Porque se vós reflectireis um pouco, vereis que a leitura das Escrituras não concluem a celebração da Missa. Tal apenas acontece quando as ofertas forem entregues; quando o Corpo e Sangue do Senhor for consagrado.

Vós podeis ler as Escrituras em casa ou ouvir outras pessoas lerem-nas. Quem quiser assistir à Missa para benefício da sua alma, deve ter o coração contrito e postura humilde; permanecer na Igreja até que o Pai Nosso (Pater Noster) seja dito e a bênção final concedida’”.

As advertências de São Cesário de Arles são válidas até aos nossos dias!

Pe. José Mario Mandía

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