No Evangelho, há figuras e profecias sobre a Eucaristia?
Antes Dele (Jesus) instituir a Sagrada Eucaristia, preparou os Seus discípulos, primeiro com um milagre que serviu como figura da Eucaristia, e uma profecia. Podemos encontrar ambos no capítulo 6 do Evangelho de São João.
Tomemos primeiro a figura do Sacramento que Jesus acabaria por instituir.
João começa por narrar o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, no qual Jesus alimentou cinco mil pessoas (ou talvez um numero maior, com a contagem das mulheres e crianças – ver João 6:1-15). Refira-se que este milagre é referido pelos quatro evangelistas (para além de João, também Mateus 14:14-20; Marcos 6:34-44; e Lucas 9:11-17). João, que escreveu o seu Evangelho numa data muito posterior, geralmente regista eventos que não foram mencionados nos Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas). Abriu uma excepção neste caso particular, porque o milagre é relevante para a instituição da Sagrada Eucaristia.
Podemos distinguir duas partes neste milagre: primeiro, Jesus ensina a multidão. São Marcos nota que «Ele começa por ensinar-lhes muitas coisas» (Marcos 6:34; Lucas 9:11). E não é isto que se faz na primeira parte da Santa Missa? Deus fala connosco na Liturgia da Palavra.
E aqui passamos para o que é a Liturgia da Eucaristia, composta por três partes essenciais: Ofertório, Consagração e Comunhão.
Depois de ter ensinado as multidões, Jesus instruiu os Seus apóstolos a darem ao povo «alguma coisa para comer (Mateus 14:16)». Depois de saber que um rapaz «tem cinco pães e dois peixes (João 6:9)», Jesus disse para o levarem a Sua presença (Mateus 14:18). Isto é exactamente o que Jesus nos diz com a Liturgia da Eucaristia durante o ofertório. Ele pergunta-nos sobre o que temos para oferecer. A contribuição do rapaz foi pequena, mas sem ela teria Nosso Senhor feito um milagre? Então, Jesus executa quatro acções: Pegou nos pães (e nos peixes), abençoou-os, partiu-os e deu-os a todos. Estas são figuras da consagração e da comunhão nas missas. De seguida, vamos ler esta passagem em cada um dos Evangelhos:
Mateus 14:19 – «Tomou, então, os cinco pães e os dois peixes e, olhando para o céu, os abençoou. Em seguida, tendo partido os pães, deu-os aos discípulos, e estes serviram às multidões».
Marcos 6:41 – «E, tomando Ele os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos ao céu, rendeu graças e partiu os pães. A seguir, os entregou aos seus discípulos para que os servissem ao povo».
Lucas 9:16 – «Então, tomando os cinco pães e os dois peixes, e erguendo o olhar em direção ao céu, deu graças e os partiu. Em seguida, entregou-os aos discípulos para que os servissem para toda a multidão».
João 6:11 – «Jesus pegou os pães e, tendo dado graças, repartiu-os entre os discípulos, e para os que estavam assentados; e da mesma maneira se fez com os peixes, tanto quanto desejaram».
Ora, quão importante são estas quatro acções? Para entender o que significam, teríamos que ir ao último capítulo de São Lucas, que descreve o momento em que o Senhor ressuscitado apareceu a dois discípulos, a caminho de Emaús. Eles não O reconheceram a princípio (Lucas 24:16). Mas depois, «quando estavam reclinados ao redor da mesa, tomando Ele o pão, deu graças, partiu-o e o deu a eles; neste mesmo instante, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram (Lucas 24:30-31)». Estas quatro acções são as credenciais de Jesus. Onde tomar, abençoar, partir e dar, têm lugar; aqui está Jesus e a Sua Igreja.
Imediatamente, os referidos dois apóstolos voltaram a Jerusalém para relatar aos restantes apóstolos que haviam visto o Senhor. «Então os dois comunicaram o que havia ocorrido no caminho e como Jesus fora reconhecido por eles enquanto partia o pão (Lucas 24:35)». “Partir o Pão” – assim era denominada a Eucaristia na Igreja primitiva, como podemos ler nos Actos dos Apóstolos: «Eles perseveravam no ensino dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações (Actos 2:42)».
Depois de alimentar as multidões, Jesus instruiu os apóstolos para que recolhessem o que restava. Então, «encheram doze cestos com pedaços dos cinco pães de cevada, deixados pelos que haviam comido» (João 6:13; Mateus 14:20, Marcos 6:43, Lucas 9:17).
Jesus mostra-nos assim que uma vez recebida e abençoada qualquer contribuição, por mais pequena que seja, dar-se-á o fenómeno da multiplicação, a ponto de sobrar mais do que o suficiente para saciar a fome das multidões.
Pe. José Mario Mandía