As Notícias Falsas.
“Fake news” ou notícias falsas publicadas como autênticas, consiste numa construção de conteúdo intencionalmente enganoso, falso e atraente, escritas e publicadas com a intenção de enganar, muitas vezes com manchetes sensacionalistas, exageradas ou mesmo falsas para chamar a atenção e aumentar o número de leitores com o fim de obter ganhos financeiros, políticos ou outros.
O Papa Francisco preocupado com os perigos de ódio e conflitos provocados pelas notícias falsas, escolheu como tema “fake news e jornalismo de paz”, para a sua mensagem do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que será celebrado a 13 de Maio de 2018, alertando para os riscos da difusão desta desinformação.
No contexto duma comunicação cada vez mais rápida e dentro dum sistema digital, está potenciado o fenómeno das notícias falsas, implicando a importância de um “esforço comum” no sentido de “prevenir a sua difusão” e “redescobrir o valor da profissão jornalística e a responsabilidade pessoal de cada um na comunicação da verdade”.
Aos jornalistas, o Papa apela para que apostem num jornalismo “que não se limite a queimar notícias, mas se comprometa na busca das causas reais dos conflitos, para favorecer a sua compreensão das raízes e a sua superação através de processos virtuosos; um jornalismo empenhado a indicar soluções alternativas às escaladas do clamor e da violência verbal”.
Os autores das “fake news”, acrescenta ainda Francisco, usam a “lógica da serpente”, que é “capaz de se camuflar e morder em qualquer lugar”. Estas notícias falsas “tornam-se frequentemente virais, ou seja, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável, não tanto pela lógica de partilha que caracteriza os meios de comunicação social, como sobretudo pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável que facilmente se acende no ser humano”. E isso torna cada vez mais relevante a necessidade de “educar para a verdade”.
Os profissionais devem ser como “os guardiães das notícias”: “Informar é formar, é lidar com a vida das pessoas”. No mundo actual, o jornalista “não desempenha apenas uma profissão, mas uma verdadeira e própria missão”. Por isso, “no meio do frenesim das notícias e na voragem dos scoop, tem o dever de lembrar que, no centro da notícia, não está a velocidade em comunicá-la, nem o impacto sobre as audiências, mas as pessoas”.
“Vós tendes uma tarefa, ou melhor uma missão, entre as mais importantes no mundo de hoje: informar correctamente, oferecer a todos uma versão dos acontecimentos o mais possível aderente à realidade. Sois chamados a tornar acessíveis a um vasto público problemáticas complexas, de maneira a realizar uma mediação entre os conhecimentos à disposição dos especialistas e a concreta possibilidade de uma sua ampla divulgação”.
“A vossa voz, livre e responsável, é fundamental para o crescimento de qualquer sociedade que queira definir-se democrática, a fim de que seja assegurado o intercâmbio constante de ideias e um debate profícuo, fundamentado em dados reais e correctamente divulgados”.
É necessário informar, mas informar bem. “Na nossa época, muitas vezes dominada pelo anseio da velocidade, pelo impulso ao sensacionalismo em detrimento da exatidão e da exaustividade, da emotividade exacerbada deliberadamente, em vez da reflexão ponderada, sente-se de modo urgente a necessidade de uma informação confiável, com dados e notícias averiguados, que não vise surpreender e emocionar mas, ao contrário, que se proponha fazer aumentar nos leitores um sentido crítico saudável, que lhes permita levantar interrogações adequadas e chegar a conclusões motivadas”.
“Deste modo, evitar-se-á estar constantemente à mercê de fáceis slogans ou de campanhas de informação extemporâneas, que deixam transparecer a intenção de manipular a realidade, as opiniões e as próprias pessoas, originando com frequência inúteis ‘polémicas mediáticas’”.
“Sente-se a urgente necessidade de notícias comunicadas com serenidade, exatidão e exaustividade, com uma linguagem moderada, de modo a favorecer uma reflexão profícua; palavras ponderadas e claras, que rejeitem o excesso do discurso alusivo, gritado e ambíguo”. “É importante que, com paciência e método, se ofereçam critérios de juízo e informações, de tal maneira que a opinião pública seja capaz de entender e discernir, e ao contrário não seja atordoada e desnorteada”.
Urge pois uma imperiosa necessidade de que a informação seja respeitada de maneira escrupulosa, juntamente com o direito à dignidade de cada pessoa humana, de modo que ninguém corra o risco de ser denegrido ou vilipendiado.
Liberdade de informação implica seriedade de notícias, fontes credíveis, honestidade nos conteúdos e recta intenção jornalística para transmitir os factos. Intercalar juízos de valor, opinar ou divagar não é próprio de jornalismo puro, que deve primar pelo escrúpulo ético de saber e querer distinguir juízo de facto, de juízo de valor.
Susana Mexia
Professora