“Surprise”… o Syriza voltou a ganhar!

As eleições legislativas do passado Domingo na Grécia voltaram a dar a vitória ao Syriza.

Os gregos voltaram a votar maioritariamente no partido de Tsipras, que venceu estas eleições com uma maioria confortável de cerca de 36%, contra o seu principal rival, o partido conservador “Nova Democracia”, que atingiu 28%, após 80% dos votos contados.

Nestas condições, o Syriza voltou a renovar a coligação governamental com os “Gregos Independentes”, criando um Governo estável para os quatro anos de uma legislatura complicada que tem pela frente.

Como é que é possível os gregos voltarem a eleger o Syriza, depois de tudo o que antes aconteceu e da “forte” dose de austeridade que este partido teve de aceitar e com a qual vai ter de governar?

Na minha opinião há um conjunto de factores que, no seu conjunto, contribuíram para esta reacção do povo grego.

Os gregos são um povo orgulhoso da sua história e da sua cultura e dificilmente aceitaram a chantagem de que foram alvo, por parte do Banco Central Europeu, do Eurogrupo e dos credores, em Julho passado, obrigando-os a aceitar condições de austeridade ainda mais gravosas das que antes estavam previstas.

Os gregos rejeitam os partidos tradicionais que (des)governaram a Grécia durante décadas, independentemente da “maquilhagem” de que têm sido alvo para os tornar mais atractivos actualmente.

O Syriza “libertou-se” da sua facção mais radical, chefiada pelo seu antigo ministro das Finanças, Varoufakis, que, com outros 25 deputados, abandonou o partido para formar um outro, designado “Unidade Popular”, após a aceitação do terceiro resgate e as pesadas consequências que isso implicava por parte de Tsipras, o líder do Syriza. Agora, Varoufakis está com dificuldades em eleger um deputado nestas recentes eleições. O povo grego responsabilizou-o por, através do seus excessos, ter comprometido qualquer possibilidade negocial com os credores e de ter complicado ainda mais a situação de um povo que quer continuar na União Europeia e na moeda única.

Mas se bem que este Syriza já não seja o mesmo que há uns meses atrás e em referendo rejeitava qualquer austeridade adicional, ele continua a ser um sinal de esperança num projecto mais global de contestação à austeridade pela austeridade – política actualmente defendida pelas forças políticas maioritárias da Europa. A prová-lo está a primeira declaração do Syriza, após a sua eleição, em estabelecer como sua primeira prioridade a renegociação da sua dívida.

Naturalmente que (e apesar das modificações que sofreu) voltar a ter um Governo do Syriza a governar a Grécia e a representar o País na União Europeia é extremamente incomodativo para os restantes Governos europeus, aqueles que mais defendem a actual política europeia e nomeadamente aqueles que estão em más condições económicas, sofrem grande contestação interna e estão em vésperas de eleições.

Se tivesse ganho os conservadores da “Nova Democracia” seria mais fácil a aceitação pelo Governo grego de todas as medidas propostas no terceiro resgate e as consequentes negociações que vão ter lugar no próximo mês mas, “surprise”, tal não aconteceu e a Europa e o FMI vão ter de afinar o seu discurso perante a incapacidade lógica de defender publicamente a recuperação económica da Grécia, face aos obstáculos que lhe são criados pelo resgate e o “castigo público” que lhe foi imposto sob pretexto da arrogância do anterior ministro Varoufakis, que já não tem razão de ser, agora que este senhor está na oposição.

No entanto, se houver alguma alteração na política europeia, aceitando algumas cedências ao Governo grego, tal só acontecerá após as eleições espanholas e portuguesas para evitar prejudicar os actuais partidos no poder nesses dois países. Porque os interesses comuns falam mais alto…

A história recente da Grécia e as atitudes do seu povo podem parecer incompreensíveis para alguns mas, apesar das precipitações e dos erros cometidos, não deixará de ser uma referência a ter em consideração para todos aqueles que acreditam que o empobrecimento não conduz de forma alguma ao desenvolvimento económico e social e que os povos não devem desistir de lutar por isso.

Luis Barreira

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