Coragem de Paz.
O Médio Oriente vive dias de grande tensão. Síria, Israel e Palestina são palco de violentos confrontos, cujo final é uma incógnita. O CLARIM publica excertos de uma homilia proferida pelo Papa Francisco, na qual promove a paz entre israelitas e palestinianos, e um texto de Joaquim Magalhães de Castro sobre o interesse dos sauditas na Síria.
Na Terra Santa «é preciso muita coragem e força de ânimo para dizer não ao ódio e à vingança e praticar gestos de paz». Preocupado pelas tensões que explodiram recentemente em Israel e nos territórios palestinos, o Papa Francisco lançou um apelo a «governantes e cidadãos», exortando os fiéis presentes no Angelus de Domingo 18 de Outubro a rezar «a fim de que Deus fortaleça em todos a coragem de se opor à violência e dar passos concretos de distensão». Para o Pontífice, «no actual contexto médio-oriental é decisivo como nunca que se estabeleça a paz na Terra Santa: pedem-nos isto Deus e o bem da humanidade».
Na homilia do passado dia 18 de Outubro o Papa Francisco recordou que o serviço é «a verdadeira autoridade na Igreja» e que arrivismo e ambição são incompatíveis com o seguimento de Cristo. De facto, Jesus recomenda aos seus discípulos que rejeitem «a tentação mundana de querer ocupar o primeiro lugar e comandar os outros» e convida-os a segui-lo no «caminho do amor».
«Diante de pessoas que lutam para obter o poder e o sucesso, para aparecer, face àqueles que querem que sejam reconhecidos os próprios méritos, as próprias obras – observou Francisco – os discípulos são chamados a fazer o contrário». O apelo de Jesus consiste em «mudar de mentalidade e passar da ambição do poder para a alegria de permanecer no escondimento e servir; em desenraizar o instinto de domínio sobre os outros e em exercer a virtude da humildade».
Portanto, há «incompatibilidade entre um modo de conceber o poder segundo critérios mundanos e o serviço humilde que deveria caracterizar a autoridade segundo o ensinamento e o exemplo de Jesus». Não é possível conciliar «honra, sucesso, fama, triunfos terrenos e a lógica de Cristo crucificado», repetiu o Pontífice, reafirmando ao contrário a perfeita «compatibilidade entre Jesus “perito no sofrimento” e a nossa dor».
A este propósito, Francisco observou que Cristo «exerce essencialmente um sacerdócio de misericórdia e de compaixão», porque «fez experiência directa das nossas dificuldades, conhece intimamente a nossa condição humana; o facto de não ter experimentado o pecado não o impede de compreender os pecadores». A sua glória, substancialmente, «não é a da ambição nem da sede de domínio mas a de amar os homens, assumir e partilhar a sua debilidade e oferecer-lhes a graça que cura, acompanhá-los com ternura infinita no seu caminho de tribulações».
Palavras do SANTO PADRE
“Amados irmãos e irmãs!
Sigo com grande preocupação a situação de forte tensão e de violência que aflige a Terra Santa. Neste momento há necessidade de muita coragem e de grande força de vontade para dizer não ao ódio e à vingança e realizar gestos de paz. Por isto rezemos, a fim de que Deus fortaleça em todos, governantes e cidadãos, a coragem para se opor à violência e dar passos concretos de distensão: no actual contexto do Médio Oriente é decisivo como nunca que se faça a paz na Terra Santa. É isto que nos pedem Deus e o bem da humanidade.
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À vista de tantos que lutam por obter o poder e o sucesso, por dar nas vistas, frente a tantos que querem fazer valer os seus méritos, as suas realizações, os discípulos são chamados a fazer o contrário. Por isso adverte-os: «Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo» (10, 42-43).
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Jesus convida-nos a mudar a nossa mentalidade e a passar da ambição do poder à alegria de se ocultar e servir; a desarraigar o instinto de domínio sobre os outros e exercer a virtude da humildade.
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«Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos» (10, 45). Na tradição bíblica, o Filho do Homem é aquele que recebe de Deus «as soberanias, a glória e a realeza» (Dn 7, 14).
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Há incompatibilidade entre uma forma de conceber o poder segundo critérios mundanos e o serviço humilde que deveria caracterizar a autoridade segundo o ensinamento e o exemplo de Jesus; incompatibilidade entre ambições e carreirismo e o seguimento de Cristo; incompatibilidade entre honras, sucesso, fama, triunfos terrenos e a lógica de Cristo crucificado. Ao contrário, há compatibilidade entre Jesus “que sabe o que é sofrer” e o nosso sofrimento.
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Cada um de nós, enquanto baptizado, participa a seu modo no sacerdócio de Cristo: os fiéis leigos no sacerdócio comum, os sacerdotes no sacerdócio ministerial. Assim, todos podemos receber a caridade que brota do seu Coração aberto, tanto para nós mesmos como para os outros, tornando-nos ‘canais’ do seu amor, da sua compaixão, especialmente para aqueles que vivem no sofrimento, na angústia, no desânimo e na solidão”.
Franciscus