Diocese de Macau vai ouvir a comunidade católica
Entre o próximo mês de Novembro e meados de Fevereiro de 2022, a diocese de Macau vai tomar o pulso às expectativas das várias “comunidades católicas” do território. A consulta pública, promovida no âmbito do Sínodo dos Bispos, pode ajudar «a reforçar pontes entre diferentes grupos no seio da Igreja», defende o padre Franz Gassner. Os resultados da consulta deverão ser apresentados a 26 de Fevereiro, dia para o qual está prevista a conferência de encerramento da fase diocesana do processo sinodal.
A diocese de Macau vai conduzir, entre o início de Novembro e 13 de Fevereiro de 2022, um processo alargado de consulta pública que tem por objectivo auscultar o maior número possível de fiéis e dar voz, sobretudo, aqueles que “por várias razões se encontram em situação marginal”.
A iniciativa, promovida ao abrigo da fase diocesana do Sínodo dos Bispos – o primeiro Sínodo descentralizado na história da Igreja Católica – decorre sob a supervisão do padre Cyril Law. O actual chanceler da Diocese é coadjuvado por um leigo, Simon Lei, que assume a coordenação das várias unidades que a partir do início do próximo mês vão procurar ouvir os católicos de Macau e dotar a Igreja Católica local de uma natureza mais participativa.
A fase diocesana do Sínodo dos Bispos arrancou no passado sábado, com a celebração de Missa Solene, a que se seguiu um encontro entre o bispo D. Stephen Lee, os responsáveis pelas paróquias e os representantes das unidades que vão auscultar a comunidade católica. A exemplo do que sucede no resto do mundo, o processo de consulta pública agora anunciado assenta em três conceitos: “participação”, “responsabilização” e “renovação”.
Num documento a que O CLARIMteve acesso, a diocese de Macau lembra “que o Espírito Santo sempre iluminou o caminho da Igreja ao longo da história” e define a orientação que os procedimentos de consulta pública devem seguir, ao esclarecer que “o processo eclesiástico deve ser participativo e inclusivo e oferecer a todos – em particular aqueles que por várias razões se encontram em situação de marginalização – a oportunidade de se expressarem e de serem ouvidos, de forma a contribuir para a edificação do povo de Deus”.
Neste processo, conceitos como “responsabilidade” e “responsabilização” caminham de mãos dadas, com a Diocese a convidar o clero e os fiéis “a explorar formas participatórias de exercer responsabilidade na proclamação do Evangelho, e também a examinar como é que a responsabilidade e o poder são vividos no seio da Igreja”, de forma “a trazer à luz e a tentar rectificar preconceitos e práticas distorcidas que não estão enraizados no Evangelho”.
CAMINHAR JUNTOS
Durante a missa inaugural do Sínodo dos Bispos, realizada há dias, o Papa Francisco reivindicou uma Igreja «não asséptica», mas apegada à realidade e aberta aos seus problemas. Questões como a falta de fé interna, a corrupção e o sofrimento a que foram sujeitos menores e outras pessoas vulneráveis, devido a abusos de natureza sexual, deverão ser encarados com seriedade para que os católicos possam «caminhar em conjunto», uma ideia essencial no âmbito do processo de renovação da Igreja. «Esta perspectiva de caminhar juntos é já uma realidade em diversos aspectos, mas é preciso aprofundar as dimensões globais da ideia de “caminhar juntos”, enquanto parte da família de Jesus», defende o padre Franz Gassner, em declarações a’O CLARIM. «O discernimento em questões de fé é estimulado e sustentado pelo Espírito da verdade. É exercido sob a orientação da autoridade dos textos sagrados. Nesse sentido, “Sínodo” significa “peregrinar juntos” sob a orientação do Espírito Santo para o bem de toda a Igreja e da família humana», acrescenta o director da Faculdade de Estudos Religiosos e Filosofia da Universidade de São José.
Antes ainda do processo de auscultação dos fiéis do território ter início, as unidades que vão conduzir a consulta pública terão de escolher, até ao derradeiro dia do corrente mês, três entre dez temas propostos pela diocese de Macau. Entre os tópicos elencados pela Cúria Diocesana estão aspectos como o diálogo no seio da Igreja e na sociedade, a perspectiva ecuménica, a capacidade para ouvir e para falar ou o exercício da autoridade e a capacidade de discernimento e de decisão. O processo, sustenta o padre Franz Gassner, pode contribuir para uma maior convergência entre as diferentes comunidades católicas que têm Macau como casa. «Pode ter o poder de aprofundar a natureza da peregrinação cristã nesta parte da vinha de Deus e pode, em particular, intensificar a nossa compreensão do Evangelho e do sinais dos tempos e inspirar-nos a encontrar novas formas de traduzir e de viver a nossa missão cristã no nosso quotidiano. Pode ajudar-nos ainda a construir e a reforçar pontes entre diferentes grupos no seio da Igreja, quer em Macau, quer no exterior», considera o missionário da Congregação do Verbo Divino.
As unidades que vão conduzir a consulta pública têm autonomia para iniciar o processo de auscultação “da forma que considerarem mais apropriada” e as conclusões poderão ser apresentadas tanto sob a forma de um relatório escrito, de um documento de natureza audiovisual ou mesmo através de uma qualquer outra forma artística de expressão.
Os procedimentos para a recolha de testemunhos e de opiniões decorrem até 13 de Fevereiro de 2022. Para o dia 26 do mesmo mês está agendada a conferência de encerramento da fase diocesana do Sínodo dos Bispos, durante a qual deverão ser apresentados os resultados preliminares da consulta pública. Depois de devidamente processados, os dados serão enviados para o Vaticano, acompanhados por uma análise ou em língua portuguesa ou em língua inglesa.
Marco Carvalho