Uma graça para a Paz e felicidade das Famílias de hoje
Está a decorrer até ao dia 25 de Outubro a XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no Mundo contemporâneo”.
Em tal assembleia, reunidos os Bispos escolhidos das diversas regiões do mundo, reflecte-se, em união com o Papa, sobre a situação das famílias do mundo, com as suas alegrias, as suas dificuldades e as suas esperanças (Código do Direito Canónico, 342).
O Sínodo dos Bispos, que foi instituído pelo Papa Beato Paulo VI (Motu Proprio “Apostolica sollicitudo”), já tinha tratado do tema da família na sua V Assembleia Geral Ordinária, com o Papa São João Paulo II a publicar a Exortação Apostólica “Post-sinodal Familiaris Consortio”.
Nesta Exortação foi sublinhado que a Igreja «consciente de que o matrimónio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade, quer fazer chegar a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimónio e da família, procura vivê-lo fielmente; e a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade e a quem está impedido de viver livremente o próprio projeto familiar. Sustentando os primeiros, iluminando os segundos e ajudando os outros, a Igreja oferece o seu serviço a cada homem interessado nos caminhos do matrimónio e da família» (“Familiaris Consortio”,1).
Continuando com as mesmas preocupações, o Papa Francisco convocou a III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, realizada em Outubro do ano passado, com o tema “Os desafios pastorais sobre a família no contexto da Evangelização” (Relatio Synode, 2014), como preparação para a próxima sessão, a deste ano.
Sua Santidade exprimiu com as seguintes palavras a situação actual das famílias, com suas alegrias e tristezas, na vigília de oração preparatória para o Sínodo Extraordinário:
«Desce já a noite sobre a nossa assembleia. É a hora em que de bom grado se regressa a casa para se reunir à mesma mesa na consistência dos afectos, do bem feito e recebido, dos encontros que abrasam o coração e o fazem crescer, vinho bom que antecipa, nos dias do homem, a festa sem ocaso. Mas é também a hora mais pesada para quem se vê cara a cara com a própria solidão, no crepúsculo amargo de sonhos e projectos desfeitos. Quantas pessoas arrastam os seus dias no beco sem saída da resignação, do abandono, se não mesmo do rancor! Em quantas casas falta o vinho da alegria e, consequentemente, o sabor – a própria sabedoria – da vida!» (4 Outubro 2014).
De facto, muitas famílias não podem dormir em paz e alegria pelos problemas que enfrentam na vida do dia a dia. Como um pai pode dormir descansado, quando se sente impotente perante os inúmeros problemas económicos da sua família? (Relatio Synode, 2014, n.º 6). E as famílias feridas no seu seio: separados, divorciados não recasados, divorciados recasados (Relatio Synode, 2014, n.os 44-47), que se sentem numa situação discordante com as normas da Igreja? Os homossexuais, tão inquietos? E os cristãos casados civil ou tradicionalmente, que são reconhecidos pela sociedade, sob o aspecto legal e cultural, mas não perante a Igreja?
O Relatio Synode chama também a atenção para outras situações como os monoparentais, sobretudo as esposas abandonadas, viúvas e mães solteiras (Relatio Synode, 2014, n.º 47). Também elas não podem ter uma noite tranquila, a que toda a Humanidade tem direito.
Perante este triste panorama, o Santo Padre Francisco quis realizar este Sínodo, apelando à Misericórdia Divina e à atenção da Igreja, como podemos ler no “Instrumentum Laboris” do Sínodo. Participam neste Sínodo mais de 400 pessoas, entre as quais, 34 mulheres e 267 padres sinodais com direito a voto (Agência Ecclesia, 15 de Setembro de 2015).
O “Instrumentum Laboris” apresenta três partes, que mostram a continuidade entre a Assembleia Extraordinária do ano passado e esta:
A escuta dos desafios sobre a família (1ª Parte), evocando a Assembleia anterior; e as outras duas partes: “O discernimento da vocação familiar” e “A missão da família de hoje”, que oferecerão «à Igreja e ao mundo contemporâneo estímulos pastorais para uma evangelização renovada», nas palavras de D. Lorenzo, Cardeal Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo dos Bispos (“Instrumentum Laboris”, Paulinas, p.9).
Entretanto, o Santo Padre Francisco, correspondendo aos anseios do Sínodo Extraordinário, publicou no dia 15 de Agosto de 2015 o Motu Proprio “Mitis Iudex Dominus Iesus”, reformando vários pontos do primeiro capítulo dos processos matrimoniais do Código do Direito Canónico, em que se fala da declaração da nulidade do matrimónio, do Cânone 1631 a 1691. É um grande alívio para tantos matrimónios falhados, podendo encontrar aqui um caminho para a saída do seu sofrimento.
Mas a grande alegria para todas as famílias chegará quando o Sínodo dos Bispos, pela Misericórdia de Deus, apresentar os caminhos da Vontade de Deus para que todos a vivam com «coragem da fé e aceitação humilde e honesta da verdade na caridade» (Relatio Synode, 2014, n.º 61)
Rezemos para que o Sínodo seja, realmente, uma graça para a Igreja, como se espelha na oração preparada pelo Papa Francisco e publicada como conclusão e oração pelo Sínodo no “Instrumentum Laboris”, fazendo-as também nossas:
Oração à Sagrada Família
Jesus, Maria e José,
em Vós contemplamos
o esplendor do verdadeiro amor;
a Vós, com confiança, nos dirigimos.
Sagrada Família de Nazaré,
tornai também as nossas famílias
lugares de comunhão e cenáculos de oração,
escolas autênticas do Evangelho
e pequenas Igrejas domésticas.
Sagrada Família de Nazaré,
que nunca mais se faça nas famílias
experiência de violência, egoísmo e divisão:
quem ficou ferido ou escandalizado
depressa conheça consolação e cura.
Sagrada Família de Nazaré,
que o próximo Sínodo dos Bispos
possa despertar, em todos, a consciência
do carácter sagrado e inviolável da família,
a sua beleza no projecto de Deus.
Jesus, Maria e José,
escutai, atendei a nossa súplica.
Ámen.
Sé Catedral, Macau, 27 de Setembro de 2015
Pe. Domingos Soares
Vigário Paroquial