Mortos pela Lei, salvos pela Fé
A Igreja celebra a Festa dos Santos Filipe e Tiago no dia 3 de Maio. Trata-se da homenagem a dois dos primeiros discípulos de Jesus, que estavam entre os Doze Apóstolos originais. O Tiago (ou Iago) desta Festa é Tiago, o Menor, que era irmão do apóstolo Judas Tadeu, sendo ambos filhos de Alfeu e de uma das “Três Marias” que estavam junto à Cruz. Nas listas bíblicas dos Doze Apóstolos, Filipe ocupa sempre o quinto lugar, o que faz presumir que estaria entre os primeiros chamados pelo Mestre. Jesus chamou Pedro e André para O seguirem um dia antes de ir para a Galileia, onde terá então chamado Filipe.
Acredita-se que a razão pela qual os Santos Filipe e Tiago partilham o dia de festa residirá no facto de que as suas relíquias foram levadas para Roma no início de Maio de 560, tendo sido colocadas numa basílica a eles dedicada, localizada não longe do centro de Roma. Esta basílica foi por isso mais tarde rededicada aos Doze Santos Apóstolos.
Mas vejamos cada um dos dois santos apóstolos: Filipe nasceu em Betsaida e, antes de seguir Jesus, terá sido discípulo de João Baptista. Filipe foi um dos primeiros chamados pelo Senhor. Aparece em várias partes das Escrituras. Foi ele quem perguntou ao Senhor: «Como vamos alimentar tanta gente?» (Jo., 6, 5-7), preocupado com a multidão que seguia o Mestre sem nada que tivessem para comer. Foi também junto dele que se acercou um grupo de pagãos que queriam conhecer o Senhor (Jo., 12, 20-22), como foi também Filipe quem pediu a Cristo que «lhe mostrasse o Pai» (Jo., 14, 8-11), no decurso da Última Ceia. Depois, na sequência da Ascensão, com os demais apóstolos e a Virgem Maria, Filipe receberia também o Espírito Santo no Pentecostes. Seguiu, posteriormente, o caminho da “missão” pentecostal, bem como os demais apóstolos. No seu caso, partiu para a região da Frígia (região hiatórica no Centro-Oeste da actual Turquia), para ali anunciar a Boa Nova.
Como em relação aos demais, a vida não lhe correu fácil e a “missão” colidiu com o contexto pagão e idólatra, além da Lei Romana, tendo sido perseguido e delapidado até à morte, por volta do ano 80, em Hierápolis (perto de Laodiceia, no Sudoeste da actual da Turquia), segundo textos apócrifos. Ali se erigiu, no Século V, um “martírio”, templo celebrativo do fim brutal do Santo. Em 2011, foi achado também o que se julga ter sido o túmulo de Filipe, em Hierápolis. No Século VI as suas relíquias foram trasladadas para Roma e colocadas no que é hoje a Basílica dos Doze Apóstolos. Anteriormente, o martirológio romano celebrava a sua Festa no dia 1 de Maio, mas foi transferido para o terceiro dia do mês depois de 1965 (Novus ordo, ou novo rito romano), devido à instituição da Festa de São José Operário naquele primeiro dia do mês. A Igreja Ortodoxa celebra a 14 de Novembro.
O outro santo do dia é São Tiago Menor (por oposição a São Tiago Maior, ou Zebedeu, o Santo de Compostela!), ou Santiago, que é apelidado de “o Filho de Alfeu”. É também conhecido como “primo do Senhor”, pois a sua mãe era, segundo se acredita, parente da Virgem Maria. Tiago é ainda creditado como o autor da primeira epístola cristã, onde profere um dos princípios basilares da vida cristã, que ficou imemorial: “A fé, sem obras, está morta”. Nos Actos dos Apóstolos, Tiago é descrito como uma figura querida na Igreja de Jerusalém, muitas vezes designado de “o bispo”. São Paulo menciona-o na sua Carta aos Gálatas, colocando-o ao lado de São Pedro e de São João (Evangelista). Além disso, Paulio, o “Apóstolo dos Gentios”, comenta que depois da sua conversão na estrada de Damasco, terá querido ver Pedro, mas não terá encontrado nenhum discípulo de Jesus na cidade de Jerusalém, excepto Tiago. Na sua última visita a esta cidade, Tiago terá ido directamente para sua casa – a casa de Tiago – onde se encontrou com todos os líderes da Igreja de Jerusalém (Actos 21, 15).
Tiago é por vezes também designado como “aquele que intercede pelo povo”. Segundo a tradição, este apóstolo terá recebido este designação porque sempre que orava pedia perdão a Deus pelos pecados do Seu povo. A tradição recorda ainda uma história em torno de um episódio no qual Tiago terá sido motivo de escândalo entre fariseus e escribas do Templo de Jerusalém. O Sumo Sacerdote de então, Anás II, aproveitando a multidão que estava presente numa festa judaica, terá questionado Tiago, dizendo: “Pedimos-te, visto que o povo sente grande admiração por ti, que compareças diante da multidão e lhes digas que Jesus não é o Messias ou Redentor”. Perante este pedido, Tiago terá respondido: “Jesus é o enviado de Deus para a salvação daqueles que querem ser salvos. E um dia o veremos acima das nuvens, sentado à direita de Deus”. Então os sumos sacerdotes, enfurecidos com a sua resposta, porque temendo a conversão dos judeus ao Cristianismo, ordenaram a prisão de Tiago, e que fosse levado para a parte mais alta do templo. Dali, atiraram-no em direcção ao penhasco. O Apóstolo caiu de joelhos e morreu, enquanto repetia as palavras de Cristo: “Deus Pai, peço-te que os perdoes, porque não sabem o que fazem”.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa