O recente debate televisivo entre os dois candidatos à liderança do PSD português confirmou aquilo que já se pressentia. Qualquer dos candidatos estava mais interessado em não ferir as susceptibilidades do seu eventual eleitorado no interior do partido, avaliado por vários estudos internos, do que falar sobre o seu próprio projecto para Portugal, no caso de sair vencedor destas eleições internas e, mais tarde, ser o partido vencedor das próximas eleições legislativas nacionais, assumindo o lugar de primeiro-ministro.
De qualquer forma e independentemente das reservas dos candidatos quanto ao essencial do futuro político e económico do País, foram notórias as diferenças de estilos entre os dois.
Enquanto Santana Lopes tentou denegrir Rui Rio, usando e abusando da descontextualização de declarações feitas por este último há alguns anos, incluindo a publicação das suas fotos junto de elementos da Associação 25 de Abril, durante uma conferência em que este participou, para insinuar a sua ligação à esquerda política, ou tentando colá-lo ao actual primeiro-ministro António Costa, Rui Rio, mais contido neste tipo de declarações, limitou-se a defender-se das insinuações do seu companheiro de partido e a lembrar-lhe que se não fosse a sua desastrosa actuação, aquando a sua breve passagem como primeiro-ministro há uns anos, o Partido Socialista não teria ganho as posteriores eleições com maioria absoluta.
Santana Lopes partiu para este frente a frente com a clara intenção de injuriar eticamente o seu adversário, não se poupando a utilizar a intriga política para o “encostar às cordas”. Por seu lado, Rui Rio tentou ultrapassar estes golpes de baixa política, reflectindo sumariamente sobre o que pretende para o País, sem no entanto dar uma visão clara dos seus objectivos e a forma de os alcançar.
Uma coisa ficou clara. Um e outro esforçaram-se por não hostilizar os seus eventuais apoios dentro do partido, evitando declarações sobre a política interna e externa que pudessem condicionar o seu comportamento no futuro, embora fosse manifesta a colagem de Santana Lopes ao ideário do ainda actual presidente do partido, Passos Coelho, utilizando as já habituais e propaladas acesas críticas às “feridas” de algumas das nossas instituições do Estado (Tancos, incêndios, criminalidade, etc.), sem exemplificar como pensa curá-las. Tudo isto na expectativa de ganhar o apoio dos correligionários do seu presidente demissionário.
É bem verdade que este debate se destinava sobretudo aos militantes social-democratas, mas, por uma “estranha” consideração da estação televisiva do Estado (a RTP), foi visto por muitos portugueses que nada têm a ver com este partido ou com qualquer um e que, face à relativa descredibilização das actuações partidárias (bem patente na recente tentativa, quase secreta, de aprovar uma lei que traria bastantes benefícios financeiros aos partidos políticos), esperavam que este debate lhes propiciasse uma maior confiança nas lideranças partidárias que se avizinham. Tal não aconteceu!
O PSD, tal como alguns outros partidos políticos portugueses, continua a falar para dentro de si próprio e das suas clientelas, não conseguindo enxergar que, para a grande maioria dos portugueses, o melhor partido político é aquele que melhor defenda os interesses nacionais, que não podem ser apenas de alguns e, mesmo que isso o conduza a abdicar de algumas vantagens eleitorais, de pedir desculpa pelos seus erros de apreciação e acção ou a assumir compromissos com outros partidos como, por exemplo, o PS (igualmente um partido social-democrata, mas considerado pelo PSD como o seu pior inimigo), um partido político verdadeiramente nacional, não pode ficar refém da rigidez da sua estrutura ideológica ou dos interesses pessoais e particulares de militantes e/ou dirigentes do seu próprio partido.
Para tal, é preciso coragem para enfrentar as vicissitudes que tal comportamento acarreta, frontalidade, sentido de responsabilidade e comportamento ético nas declarações públicas e, sobretudo, gostar muito de Portugal.
Nesta fase da disputa entre os dois candidatos não se vislumbrou, no essencial, nenhuma das qualidades antes enumeradas, para além das diferenças de carácter entre eles. Por isso, no próximo dia 13 de Dezembro, o “diabo” que escolha!
LUIS BARREIRA