Rota dos 500 Anos retomada por alguns meses

De regresso ao Dee.

Pensamos que é chegado o momento de revelar os nosso planos aos leitores que nos têm seguido na viagem à volta do mundo em veleiro. Depois de muitas incertezas, avanços e recuos, devido a problema de saúde, temos já definida a data de partida de Portugal rumo a Curaçao, onde temos guardado o nosso barco. Eu vou em Novembro. A NaE e a Maria irão em Dezembro.

Se tudo correr conforme o planeado, poucos dias depois viajaremos até Guadalupe ou Martinica, onde iremos aguardar por Maio de 2019 para iniciarmos a travessia que nos trará a Portugal.

Durante todos estes meses em Portugal, desde Setembro de 2016, várias foram as hipóteses ponderadas – desde a venda do veleiro, colocando definitivamente de parte o nosso sonho de vida, à possibilidade de manter o barco nas águas das Caraíbas durante o período de tratamento. Havia também a alternativa, assim que tivéssemos “luz verde” do corpo clínico do Instituto Português de Oncologia de Coimbra, de trazermos o barco para Portugal. Esta última foi a nossa opção. Primeiro, porque temos – e sempre tivemos – que a saúde está em primeiro lugar. E, segundo, porque o barco é a nossa casa e como tal nunca estivemos muito inclinados para a sua venda. Daí termos optado por uma solução que embora não seja a ideal é a possível dentro do prognóstico de tratamento que temos pela frente, ou seja, cinco anos.

Faremos a travessia do Atlântico até Portugal, devendo o Dee ficar aportado em Lisboa ou mais a sul, no Algarve, onde é possível desfrutar do mar durante todo o ano. Não está excluída a hipótese de voltarmos a viver no veleiro a tempo inteiro, pois sempre o encarámos como sendo a nossa casa. Após termos a confirmação do corpo clínico de que o pior já passou e ponderado vários factores, retomaremos a viagem.

Apesar desta nota positiva, há um facto que nos deixa tristes. A tripulação do Dee vai ficar desfalcada. O nosso companheiro de vida, o buldogue francês nascido em Taiwan que nos acompanha desde Macau, vai ter de ficar em Portugal. Tem problemas a nível das articulações que lhe dificultam a locomoção das patas traseiras. O Noel vai fazer nove anos e desenvolveu um quadro clínico usual neste tipo de raça. Tem um problema congénito (uma hemivértebra) que lhe casou uma hérnia. Ainda ponderámos realizar uma cirurgia, mas depois de feita uma ressonância magnética foi-nos dito que não iria trazer quaisquer benefícios. Tem sido tratado com cortisona e outros anti-inflamatórios para manter a dor controlada, e submetido a fisioterapia. Segundo nos explicaram, neste tipo de patologia o caminho é longo e demorado. Porque sabemos que estará bem entregue aos meus pais, fica em Portugal à espera que regressemos.

Quem nos conhece e tem acompanhado a nossa vida nos últimos meses ficou contente em saber que iremos retomar esta aventura. Embora não tomemos o Pacífico, podemos recuperar o estilo de vida que escolhemos, nem que seja temporariamente.

Estamos todos ansiosos por voltar à nossa casa na água. A Maria, por exemplo, não pára de perguntar «quando vamos para o barco?». Apesar de se ter ambientado muito bem à vida em terra e ao ambiente do jardim de infância, a Maria não esquece que cresceu num barco e sente saudades da água. Em Setembro vai ingressar no último ano do Ensino Pré-Primário. Vai frequentar a escola “física” até Dezembro e nas últimas semanas do ano lectivo. No resto do período de tempo cumprirá o currículo pedagógico em casa.

Relativamente à preparação da nossa ida, ainda há muito a fazer! O veleiro vai mudar de registo, de americano para uma bandeira europeia, que não a portuguesa. O registo em Portugal envolve demasiada burocracia e fica muito caro. É pois uma ironia do destino, uma vez que coube aos nossos antepassados deram novos mundos ao Mundo, precisamente pelo mar.

Assim que chegar a Curaçao, vou tratar do casco, proceder a pinturas e efectuar a manutenção do que for necessário. Para todos os efeitos, o veleiro está parado há cerca de dois anos em doca seca. O motor terá de ser revisto por um mecânico, por forma a que possa aguentar mais alguns meses. Vamos comprar uma vela principal, pois a que temos neste momento já começou a dar sinais de desgaste. O bote salva-vidas tem de ser inspeccionado, assim como todos os estais de alto a baixo.

Pessoalmente estou algo ansioso em saber como está o barco em termos gerais. Dois anos em doca seca, sem qualquer manutenção, é muito tempo parado para um veleiro. Espero que o mês que vou levar de avanço seja suficiente para que o possa colocar a funcionar.

Ainda não há mais quaisquer certezas ou planos. O único dado adquirido são as reservas de avião que já estão na nossa mão e que foram marcadas para o final deste ano.

Que finalmente tudo comece a correr bem, conforme o planeado ainda no tempo em que vivíamos em Macau.

João Santos Gomes

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