Rota dos 500 Anos

Zwarte Piet, uma tradição de Natal

A quadra natalícia aproxima-se a passo de corrida. Em Macau, pelo que é dado a ver nas redes sociais e na Comunicação Social, a iluminação está como sempre: muito elaborada e como manda a tradição. Confesso que sinto falta dos presépios das esquadras de polícia. Um dos meus passatempos nesta época do ano era ver e apreciar a criatividade dos homens responsáveis pela segurança pública de Macau.

Aqui nas Caraíbas o Natal é quente, mas nem por isso deixa de ser vivido com maior intensidade. E devo dizer que recentemente fiquei a conhecer mais um aspecto curioso ligado à tradição do Pai Natal e desta quadra em si.

Desde sempre relacionei a figura rechonchuda do vermelho Pai Natal à Coca-Cola. Sempre me disseram que o senhor das barbas brancas vem todos os anos do Norte da Europa, sentado num trenó, puxado pelas suas renas. Mas aqui em Curaçao reina a tradição holandesa. Segundo me explicaram, os holandeses “não abrem mão” de terem sido eles a criar o São Nicolau. Ou, seja, o Pai Natal. De acordo com algumas fontes, terá vindo de Espanha, ou do Norte de África através da Península Ibérica. Mas confesso que nem foi este aspecto que mais me cativou.

O São Nicolau, ou Pai Natal, é aqui acompanhado por ajudantes – não pensem que são aqueles seres pequeninos que nos habituámos a ver nos filmes americanos, vestidos de verde – de pele preta, lábios bem vermelhos, vestidos com trajes muito aberrantes. São conhecidos como Pedro Preto (Zwarte Piet ou Pit Hitam como são chamados na Indonésia). Do meu ponto de vista, não há nada mais racista. O pobre do Pedro Preto acaba por ser o bobo da corte, fazendo de tudo para animar a festa e procurar agradar ao São Nicolau, seu patrão ou dono!

Na verdade, no início da tradição, explicou-me um português nascido na Holanda, o Pedro Preto até nem era preto; tratava-se apenas de um ajudante, não sendo a cor de pele importante para o efeito. No entanto, ao desempenhar as suas funções, que incluíam subir e descer centenas de chaminés para entregar presentes, acabava sempre por ficar preto com a sujidade. Daí que com o passar do tempo fosse confundido com um negro. A tradição pegou e a partir de então é dado adquirido que o ajudante do Pai Natal é negro. Assume hoje em dia proporções algo alegóricas, com a indumentária carnavalesca e a caracterização exagerada do negro, pintado de preto brilhante e lábios exageradamente vermelhos.

Claro está que os holandeses foram já várias vezes criticados por esta tradição, o que suscitou algum debate na própria Holanda, sendo que até ao momento a tradição tem levado a melhor. Por cá, como a maioria da população é de cor ou mestiça, é aceite sem qualquer problema. Pessoalmente considero um pouco exagerado, mas respeito e até acho uma certa piada, neste contexto, tanto mais que quem desempenha o papel de Pedro Preto é na sua esmagadora maioria jovens negros ou mestiços. Estes divertem-se o dia todo a fazer as maiores diabruras sem que ninguém os critique.

Em Curaçao e Aruba, ambas antigas colónias holandesas, desde o dia 5 de Dezembro que se vêem muitos Zwarte Piet nas ruas. As diabruras têm início no dia de São Nicolau e terminam por altura do Natal. Entretanto, no que respeita à vida em cima da água, continuo à espera que cheguem as peças encomendadas de Inglaterra para proceder ao conserto do motor de bordo. Devo recebê-las até ao final desta semana, devendo precisar de dois ou três dias para colocar o motor a funcionar dentro dos parâmetros aceitáveis.

Também nos próximos dias chega o resto da nossa tripulação. A NaE e a Maria aterram no dia 12 de Dezembro – vêm de Portugal, via Alemanha.

À excepção do motor e de outros pequenos aspectos que não influenciam o bom funcionamento do veleiro, está tudo operacional. No início da semana subi ao topo do mastro, com a ajuda de um velejador espanhol que ancorou ao meu lado. Aproveitei para inspeccionar todos os apetrechos do mastro e lubrificar as peças móveis do topo. Ao descer, verifiquei os estais do mastro, pois não sabia ao certo como se encontravam depois do incidente na marina.

Ainda antes da chegada da NaE e da Maria, tenho de voltar a encher os tanques com água potável. Depois de ter estado mais de um mês separado da minha família, quero aproveitar o máximo tempo possível com a NaE e a Maria, não tendo que me preocupar com assuntos relacionados com a manutenção do veleiro.

Temos ainda que decidir a rota a tomar depois de Curaçao – para onde iremos, quando iremos, etc… Isto e muito mais continuará a ser relatado nestas crónicas, para que possam saber onde andamos e acompanhar o nosso dia-a-dia.

João Santos Gomes

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