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Vila do Conde: São João e o arquitecto dos Jerónimos

Junho, que terminou ainda há dias, é por tradição mês de Santos Populares um pouco por todo o mundo português. Primeiro é o Santo António de e em Lisboa, com todas as freguesias da zona histórica da cidade a competirem entre si. Há marchas populares e os arraiais bairristas duram até de manhã. Quem visita a capital portuguesa, nesta época do ano, muito dificilmente passa indiferente ao ambiente festivo que se vive.

Depois da folia de Lisboa e das preces ao seu santo padroeiro, é mais a norte que a festa continua, desta vez em honra de São João. Quando se fala de festas são-joaninas, é o Porto que vem à memória colectiva, embora não seja apenas na Invicta que se celebra este santo. Aliás, o São João é, muito provavelmente, o santo mais festejado em todo o País e pelas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.

Em Vila do Conde, cidade portuária bem conhecida e parte integrante do Distrito do Porto, também se festeja esta data, e senão mesmo com mais pompa do que na cidade do Porto. O São João é festejado no Porto há vários séculos, o mesmo acontecendo em Vila do Conde. À semelhança do Porto, São João Baptista também é o santo padroeiro da denominada “capital da renda de bilros”, sendo a sua igreja matriz também a ele dedicada.

A Igreja Matriz de Vila do Conde está localizada no coração da zona histórica da cidade. Grande parte da estrutura do templo, de notável ornamentação manuelina, data do princípio do século XVII. A sua massiva porta de madeira e metal foi esculpida pelo famoso arquitecto João de Castilho, que também trabalhou, entre outras obras, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, e no Convento de Cristo, em Tomar.

De acordo com registos históricos, o edifício principal da igreja foi concluído em 1518, mas vários elementos foram adicionados em diferentes momentos, como a impressionante torre do sino, erguida durante o século XVII.

Na sacristia da igreja – o interior é composto por três naves, separadas por colunas esculpidas e pela cabeceira – está instalado o Museu de Arte Sacra de Vila do Conde. Este exibe uma colecção pequena – mas interessante – de arte eclesiástica que, só por si, merece uma visita.

A historiadora especializada em arte religiosa, Catarina Oliveira, descreve assim a história deste importante edifício: “A primitiva matriz de Vila do Conde, um edifício medieval de que não resta qualquer vestígio, situava-se no Monte Castro de São João, fora do perímetro urbano. Cerca de 1496 foi ordenado que se edificasse uma nova igreja no Campo de São Sebastião, cuja obra ficou a cargo do mestre biscainho João Rianho.

Durante a sua peregrinação a Santiago de Compostela em 1502, D. Manuel I ficou hospedado em Vila do Conde, e no regresso da viagem enviou uma carta para a edilidade local onde concedia financiamento à obra e enviava uma planta com a traça do novo templo.

Na primeira fase de edificação empreendeu-se a construção da cabeceira, terminada em 1506, e a abóbada da abside, colaborando na campanha o mestre Gonçalo Anes e o biscainho Rui Garcia de Penagós, que em 1509 dirigia a fábrica de obras.

No ano de 1511 a direcção das obras era entregue ao arquitecto João de Castilho, e no ano de 1515 a estrutura estava terminada, abrindo-se ao culto três anos depois.

De planta em cruz latina, composta por três naves de diferentes alturas e cabeceira tripla, a Matriz de Vila do Conde repete o módulo das ‘hallenkirchen’ manuelinas, de que fazem parte, entre outros, os templos de Freixo de Espada à Cinta, Arronches, ou Azurara. O grandioso portal axial trilobado, obra de João de Castilho, profusamente ornamentado, ladeado por contrafortes e pináculos com cogulhos vegetalistas, dá ‘um novo tom à edificação’ manuelina, sendo o seu modelo repetido no templo de Azuaga, perto de Badajoz.

Do lado esquerdo da fachada, João Lopes o Moço ergueu em 1573 a torre sineira quadrangular, cuja maciça estrutura pouco ornamentada e excessivamente vertical sobressai no ritmo da frontaria.

No interior destaca-se a cobertura da capela-mor, em abóbada de ‘combados’ da autoria de Castilho, e as abóbadas dos absidíolos, uma com lanternim e outra decorada com baixos relevos que apresentam vestígios de policromia. As duas capelas abertas no transepto, de edificação quinhentista, possuem retábulos de talha dourada barroca e azulejos seiscentistas”.

As festas de São João de Vila do Conde começam cinco dias antes da própria data. Desde 2018 contam com um novo evento, denominado Vila do Conde Street Food. Este ano reuniu 25 conceitos, tendo nós marcado presença pela segunda vez com o carro de comida tailandesa. Os resultados foram semelhantes aos do ano passado, com os nossos pratos a serem muito bem aceites, tanto pela população local como pelos milhares de turistas que visitaram a localidade durante aqueles dias.

Vila do Conde pára, literalmente, para festejar o São João, especialmente a zona central; há animação em todas as ruas, nas esquinas e nos jardins. Na noite de São João (de 24 para 25 de Junho) realiza-se um espectáculo de fogo-de-artifício, que dura mais de meia-hora. Semelhante demonstração de criatividade pirotécnica é repetida na noite do dia 25, assinalando o final das festividades. Só este evento atrai às margens do Rio Ave milhares de pessoas. Este ano – à data em que escrevo estas linhas – ainda não foram dados a conhecer os números oficiais, mas no ano passado foram mais de cinquenta mil.

A programação oficial das festividades inclui uma procissão, não fosse esta uma festividade religiosa; a tradicional ida à praia e a grande noite de São João, com a participação dos ranchos das rendilheiras do monte e da praça. Este ano actuaram os UHF. Concluído o cartaz oficial, patrocinado pela edilidade local, a festa continuou com iniciativas privadas, organizadas por varias associações da cidade, até ao raiar do dia.

João Santos Gomes

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