Gloriosa na sua história e extensão
China, sempre gloriosa na sua história e extensão, nunca passa despercebida. Na actual abertura ao resto do mundo, apresenta-se igualmente grandiosa; basta lembrar os Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim, que extasiaram o mundo inteiro. Ciosa de si mesma, guarda naturalmente as suas particularidades, sem deixar de avançar na marcação do seu lugar no concerto das nações. E o Cristianismo, realidade universal, como avança na China? Que expressão tem a Igreja?
O Cristianismo entrou na China no século sétimo com Nestório e companheiros, que inculturaram o Evangelho com um grupo de chineses, chegando a traduzir o credo para a língua chinesa. No século XIII o irmão Monte Corvino, OFM, foi enviado pelo Papa, em missão a Pequim. Muito mais tarde, no século XVI, Matteo Ricci, SJ, foi para a China, seguido por outras congregações internacionais. Na segunda metade do século XIX, a grande atracção missionária era a China, como já tinha sido em épocas anteriores.
No ano 2000, um dos sinais jubilares foi a canonização de mártires da China de diversas épocas históricas, incluindo o início do Séc. XX, em que a rebelião dos Boxers perseguiu os cristãos.
Já com grande implantação, selada pelo sangue dos mártires, a Igreja na China, em 1946, organiza-se em 117 dioceses com seu respectivo bispo, e foi nomeado, pelo Vaticano, o primeiro núncio apostólico com residência em Nanquim. Mas chega o ano de 1949, trazendo grande reviravolta, como novo marco histórico.
1949 – Fundação da República Popular da China, por Mao Tsé Tung.
Logo em 1951 são proibidas as actividades religiosas cristãs. O núncio e os missionários estrangeiros são expulsos. A maior parte das propriedades da Igreja católica são expropriadas e muitos leigos, padres e religiosos detidos e presos ou enviados para campos de reeducação. Alguns vindos do exterior são obrigados a regressar a suas casas; e outros obrigados a casar.
1957 – A Associação Patriótica Católica é instalada em Pequim pelo Governo da República Popular da China. No ano seguinte os bispos começam a ser controlados pela Associação Patriótica.
1966 – Revolução Cultural – A Igreja Católica é desenraizada e completamente reduzida ao silêncio, durante mais de dez anos.
Todos os padres e bispos, mesmo os que tinham aderido à Associação Patriótica, são detidos ou enviados para campos de reeducação.
1979 – Com a abertura política do Governo, os padres e os bispos são libertados pouco a pouco. Alguns que não quiseram juntar-se à Associação Patriótica começam organizar actividades religiosas que atraem muita gente.
Identificam-se como “Igreja Católica Subterrânea” e não como “Igreja Católica Nacional”.
Depois de trinta anos de silêncio, em 1980, a Igreja Católica Subterrânea e a Igreja Católica Nacional começam a reabrir um seminário para formação do clero.
Mas há muitas dificuldades… especialmente falta de pessoal capaz de ensinar a Teologia, a Filosofia, a Educação e a Formação Pastoral.
Algumas congregações religiosas femininas, presentes na China antes de 1950, recomeçam a recrutar candidatas. Muitas jovens, inspiradas pelas religiosas que tinham permanecido fiéis durante a perseguição, querem entrar na vida religiosa.
Alguns padres e bispos começaram a criar congregações religiosas diocesanas. Elas ajudam nas paróquias, orientam as orações e o canto dos fiéis, exortam, limpam as igrejas e colaboram em actividades pastorais.
São sobretudo as irmãs idosas, que tinham estado na prisão ou regressado à família, nos tempos difíceis da perseguição antes de 1980, que formam esta nova geração de religiosas. Tentam transmitir-lhes o que haviam recebido como formação na sua juventude, e edificar as jovens religiosas pelo bom exemplo. São convidados sacerdotes idosos a ensinar o Catecismo, os Estudos Bíblicos, etc.
Nesta época, a maior parte das vocações religiosas, masculinas e femininas, vindas de zonas rurais e com poucos estudos, tinham uma formação religiosa inicial apressada. Depois da profissão, as irmãs aprendiam a pintar imagens religiosas, ou a fabricar ornamentos litúrgicos, ou ainda depois de curta formação no domínio da Saúde, tornavam-se assistentes paramédicas em regiões rurais, comprometendo-se assim no ministério pastoral e na evangelização.
Mesmo com todos os esforços feitos, para que participem em sessões de renovação, permanece a dificuldade de uma formação estruturada e permanente.
Cerca do ano 2000, em resposta as necessidades da sociedade, algumas congregações femininas começaram a ter hospitais, orfanatos, casas de reeducação, casas para pessoas idosas, leprosarias e jardim-de-infância, tanto na cidade como no campo.
O trabalho é assegurado principalmente por religiosas que receberam formação profissional. Algumas destas instituições são permitidas e registadas pelo Governo, enquanto outras, operam como companhias comerciais.
Por causa da falta de professores qualificados para ensinar Teologia, Filosofia e as disciplinas académicas, algumas dioceses ou congregações religiosas enviaram padres e religiosas para o estrangeiro, em diversos países europeus, nos Estados Unidos ou nas Filipinas. Mas o programa de estudos que seguiram foi sobretudo académico, faltando a formação específica da consagração sacerdotal e religiosa.
Agora a maior parte dos sacerdotes, clérigos e religiosos idosos morreram. A idade média dos bispos, padres e religiosos ronda os 40 a 50 anos. Alguns são fortes na sua fé e dão testemunho no interior e exterior da Igreja Católica. No entanto, um certo número de sacerdotes e religiosas não tendo recebido formação inicial apropriada, experimentam dificuldade em viver segundo as exigências próprias do estado sacerdotal e religioso.
A dificuldade em viver verdadeiramente, segundo as exigências da Igreja e da vida religiosa.
LIBERDADE RELIGIOSA
A liberdade religiosa está inscrita na Constituição da República Popular da China, mas qualquer actividade religiosa tem de ser declarada no Departamento dos Assuntos Religiosos do Governo, que supõe que todos fazem parte da Associação Patriótica, dependente da Igreja Católica Nacional.
Porém, como as práticas da política religiosa nas diferentes províncias dependem muito da administração a nível local, ainda há espaço para actividades religiosas.
A Igreja da China está estreitamente controlada e tem de fazer face a numerosos obstáculos. No entanto, segundo uma estatística recente, a população católica aumenta.
Numerosos leigos ajudam a Igreja, e os sacerdotes e religiosas trabalham com muito zelo; fazem grandes esforços especialmente na evangelização. Actualmente, há uma dinâmica muito grande para a dilatação do Reino de Deus na China. Também nessa área, a China vai-se apresentando gloriosa.
Os muitos chineses, em cidades da Europa, a maior parte pela via do comércio e dos estudos, são o rosto e partilha da evolução do seu país, que também nesta área religiosa se vai apresentando uma China gloriosa.
Irmã Maria Celeste Lúcio
Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria