Natal: o Presépio

REFLEXÃO

Natal: o Presépio

Isaías grita com alegria: “Quão belos sobre os montes são os pés daquele que traz boas-novas, anunciando a paz, trazendo boas novas e anunciando a salvação”. Como é bom proclamar a todos a maior notícia: “Cristo nasceu para nós”. Cristo que é Emanuel ou “Deus connosco”, cujo nome é Jesus, ou seja, “Deus salva”. Quão misterioso e sublime: «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus». Jesus é a Palavra definitiva de Deus, a palavra final, a palavra totalmente suficiente: “Dando-nos o Seu Filho, a Sua única Palavra, Deus disse tudo numa só Palavra” (São João da Cruz).

Para recordar o primeiro presépio feito por São Francisco de Assis na pequena cidade de Greccio, em Itália (Dezembro de 1223), e para explicar o seu significado hoje, o Papa Francisco escreveu, em Dezembro de 2019, uma bela Carta Apostólica (Admirabile Signum) sobre o significado e a importância do presépio. Vale a pena recuperá-la de novo. Nesta maravilhosa mensagem que nos dirige, o Papa convida-nos a contemplar o mistério do nascimento de Jesus no Natal. Ao contemplar o presépio, São João de Deus afirma: “Se queres ver e contemplar a beleza da terra, pede ao Senhor que te dê olhos para ver uma jovem com uma criança nos braços num pórtico de Belém. Não há nada mais bonito”. Com fé e ânimo recolhido, imaginemos nos nossos corações a cena da Natividade de Jesus.

PERSONAGENS PRINCIPAIS DO NASCIMENTO DO FILHO DE DEUS – Imagine! É noite. Belém está coberta pela escuridão. Há o som do silêncio: a natureza dorme, mais as montanhas e os vales. No estábulo, as pessoas dormem. Pode-se sentir o cheiro de feno seco e ouvir a respiração lenta e ritmada dos burros e de outros animais. Pode-se também ouvir o murmúrio suave dos riachos circundantes. Acima da manjedoura estão os anjos cantando: “Glória a Deus nas alturas e paz aos homens de boa vontade”. À volta da manjedoura encontram-se alguns animais domésticos, entre os quais, o boi, o burro e a ovelha, que aquecem o Menino! Entre as muitas estrelas no céu podemos ver uma estrela maior, a que guia os Reis Magos até ao estábulo.

Entre as pessoas diante do presépio, vemos pastores, os primeiros a chegar depois de saberem do nascimento do Menino. Estão ajoelhados diante do berço com os seus presentes. Representam os humildes e os pobres: “os pobres são os privilegiados deste mistério; muitas vezes são eles os primeiros a reconhecer a presença de Deus no meio de nós” (Carta Apostólica, 5). Com os pastores, aprendemos a gratidão, a alegria e a humildade. Esta humildade agradecida e alegre dos pobres convida-nos “a não nos deixarmos enganar pelas riquezas e pelas promessas efémeras da felicidade” (Carta Apostólica, 6).

De frente para o presépio, vê-se, do lado direito, José, esposo de Maria, guardião e protector da Mãe e do Filho, de pé, curvado perante o Menino. Numa das mãos, José segura o cajado do peregrino que levará a Mãe e o Filho, primeiro, ao Egipto e, depois, a Nazaré. São José, o “homem justo”, fala-nos da graça da fidelidade obediente e convida-nos a sermos fiéis às exigências da nossa vocação; fazer o que devemos fazer com a graça e o amor infalíveis de Deus.

Do lado esquerdo do Menino, na manjedoura, está sua Mãe, Maria, a alma contemplativa que continua – e continuará na vida do Menino – a meditar sobre tudo o que acontece à volta de Jesus: o mistério da Encarnação, o nascimento e o crescimento do Menino, a sua vida evangélica, a sua morte e ressurreição. Maria, a Mãe do Filho Unigénito de Deus pelo poder do Espírito Santo; o servo humilde e obediente: “Fiat”: «Eu sou o servo do Senhor; faça-se segundo a tua palavra» (Lc., 1, 38). De Maria aprendemos a obediência total à vontade de Deus, tanto nos momentos de alegria como nos momentos de angústia e sofrimento. Nossa Senhora convida-nos “a fazer o que Jesus nos diz” (cf. Jo., 2, 5). Ela ajuda-nos a dizer: Deixa estar. Seja feita a Sua vontade!

No centro do presépio vemos um menino numa manjedoura: “Não havia lugar para ele na hospedaria”. Na noite escura e fria de Belém, nasce a luz: Jesus, a luz do mundo! Contemplamos o Filho de Deus como uma criança, que é como qualquer criança ao nascer: “Dorme, toma leite da mãe, chora e brinca como qualquer outra criança”. Deus aparece como uma criança, o Filho de Deus como uma criança indefesa! Para os crentes, tal é incrível, incrível, a graça mais incrível! «E o Verbo se fez carne e habitou entre nós» (Jo., 1, 11). Realmente maravilhoso: “Ele se tornou no que nós somos para que nos possamos tornar no que Ele é” (Santo Atanásio).

Os últimos a chegar ao estábulo são os Reis Magos, que ainda estão a caminho, mas já perto do presépio. Eles vêm com os seus ricos e emblemáticos presentes para oferecer ao Menino: ouro como símbolo da realeza do Menino, incenso para assinalar a divindade do Menino e mirra, pois Jesus morrerá e será sepultado como qualquer outro ser humano (cf. Carta Apostólica, 9). Os Três Reis Magos do Oriente exortam-nos a estar vigilantes e atentos à estrela que guia cada um de nós à casa de Deus Pai – no caminho da verdade com amor, usando o dom da vocação de Deus, orando e perdoando, compartilhando e sendo compassivos com os necessitados que se cruzam nas nossas vidas.

ATITUDE DE ADORAÇÃO

O beato Fra Angelico pintou São Domingos ajoelhado diante do presépio, em adoração devota ao Menino. Esta é a atitude mais comum que podemos observar nos protagonistas do verdadeiro espectáculo da Natividade, nomeadamente, Maria e José, os pastores e os magos, todos se curvavam ou ajoelhavam diante do presépio, e adoravam o Menino Jesus. A atitude de adoração deverá ser a nossa atitude neste Natal: curvarmo-nos ou ajoelharmo-nos diante da manjedoura, tocar ou beijar o Menino Jesus e adorá-lo, submetendo-nos obedientemente a Ele: Ó vinde, adoremos o Cristo Senhor!

A cena da Natividade convida-nos a meditar com devoção sobre o mistério que envolve o nascimento do Menino Jesus. Mostra, sobretudo, o “terno amor de Deus” para connosco: “Deus amou tanto o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigénito”. O presépio, sempre lindo, faz-nos respirar um novo ar puro que pode transformar o nosso amores e renovar-nos. É um convite poderoso para amarmos Jesus. Uma menina questionou: “Diga-me o que é o amor”. E um menino respondeu-lhe: “Um homem chamado Jesus” (Charlie Brown e Snoopy).

Era São Bernardo ainda um menino e certa noite teve uma visão do presépio. A visão causou-lhe tanto impacto que chorava sempre que dela se lembrava. São Bernardo chorou lágrimas de alegria amorosa ao ver a divina criança na manjedoura. Os cristãos que contemplaram o presépio erguido por São Francisco de Assis ficaram cheios de alegria. Ao contemplarmos o presépio, especialmente no dia de Natal – e mesmo durante todo o período natalício –, também nós somos tomados de alegria. Sim, alegria para o mundo, alegria para si e para mim. Este é o dia que o Senhor fez para nós. Regozijemo-nos e alegremo-nos.

Pe. Fausto Gomez, OP

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