Como orar: algumas notas sobre os métodos de oração
Existem diferentes métodos de oração. Qualquer método ou tipo de oração é bom, desde que o resultado seja bom: união íntima de amor com a Santíssima Trindade e aumento do amor a Deus e ao próximo. Santa Teresa de Ávila diz-nos que a bondade da oração não se realiza por pensarmos muito, mas por amarmos muito (in Castelo Interior). São João da Cruz acrescenta que o valor das boas obras não provém da quantidade e da qualidade das nossas orações, mas do amor a Deus (in Ascensão ao Monte Carmelo). De facto, “apanhar um alfinete por amor pode converter uma alma” (Santa Teresa do Menino Jesus).
Qual é o melhor método de oração? Aquele que se adapta a cada um de nós. Encontramo-nos quando conhecemos estes métodos úteis: Rezar com a Bíblia (ler, reflectir e responder); Rezar com Maria (o Rosário, o Ângelus); Oração silenciosa do tipo Zen (com um mantra); Rezar como o Peregrino russo (repetindo várias vezes: “Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim, um pecador”); a Oração Lectio Divina, etc.
A Lectio Divinaainda é muito popular em muitos lugares do mundo, e não o é apenas para monges, sacerdotes e religiosos, também o é para os leigos. Continua a ser hoje um método de oração atractivo e frutuoso para muitos dos nossos irmãos e irmãs. As suas quatro partes tornam esta oração muito enriquecedora: Leitura (espiritual e atenciosa, especialmente quando se trata das Sagradas Escrituras); meditação (pensamento reflexivo sobre o significado do texto lido – em si mesmo e para mim agora); oração do coração (diálogo com Deus: agradecer e louvar a Deus, pedindo perdão e ajuda); contemplação (ouvir o som do silêncio de Deus, o amor afectivo, a adoração devota) e boas acções consequentes.
Qual a melhor posição para rezar? Aquela com que nos sintamos melhor: de pé, sentado, deitado, de quilha; aquela que nos ajude a concentrarmo-nos na real presença de Deus nas nossas almas.
Rezar é uma escada ascendente da vida, pois passamos de um tipo de oração a outro. O processo clássico é este: a partir da oração oral crescemos para a oração mental, e da oração mental para a oração contemplativa. À medida que subimos a escada, percebemos profundamente que o principal obstáculo à oração é o nosso egoísmo. Daí a necessidade contínua de nos “desinteressarmos”. À medida que amadurecemos na oração, passamos da oração egocêntrica à oração centrada em Deus, da oração peticionária à oração de adoração – acção de graças e louvor. Normalmente, diferentes tipos de oração coexistem nas nossas vidas, particularmente as orações orais e mentais: todas podem ser úteis e frutuosas.
São João da Cruz convida-nos a voltarmos para a nossa casa interior, onde o Amado vive. Cada um de nós precisa de cultivar o nosso espaço interior e rezar silenciosamente. Nos dias que correm, como podemos satisfazer o anseio de orarmos? No nosso mundo acelerado, para muitos de nós tempo é aquilo que não temos. Cabe a cada um arranjar dez, quinze, vinte, trinta minutos para estarmos em silêncio e, assim, realizarmos as nossas orações. Tal acalma-nos e alegra-nos.
O que é essencial é sermos diariamente fiéis à nossa decisão, e assim adquirimos o bom hábito da oração. Uma maneira fácil: Sente-se confortavelmente; feche os olhos; sinta a respiração; experimente a presença de Deus através da fé; oiça-O; repita – como um mantra – uma palavra maravilhosa: “Jesus”. Repita “Jesus”, lentamente, lentamente, uma e outra vez, “respire” Jesus (o Jesus do Advento, do Natal, da Quaresma, da Páscoa…; o Jesus que caminhou sobre o mar, o Senhor Crucificado e Ressuscitado).
Esforce-se por expulsar do seu coração – uma espécie de entre parênteses – os pensamentos de uma imaginação sempre fértil (“a loucura da nossa casa interior”, de acordo com Santa Teresa). Ansiamos por Deus: «A minha alma tem sede de vós como uma terra ressequida» (Sl., 143,6). Não force as coisas: relaxe, fique em silêncio. Oiça o Espírito Santo. Diga o que lhe vier à cabeça: “Desculpa, Senhor”, “Ajuda-me, Senhor”, “Amo-te, Senhor”, “Obrigado, Senhor”. Acima de tudo, mantenha o silêncio: encontre Deus no fundo da sua alma, do seu ser. Tente! E mesmo que falhe, tente e tente, sempre! Nunca desanime: o nosso esforço de cooperação é a graça e a oração de Deus.
Precisamos de silêncio na nossa vida apressada e precisamos ouvir «os sons do silêncio» (cf. Lc., 10, 38-42). “Ficarei em silêncio e deixarei Deus falar dentro de mim” (Meister Eckhart). Continuo a encorajar-me para pausas de silêncio – para além de uma mais longa – diariamente. Estas podem ajudar-nos a experimentar Deus num pôr-do-sol, ou no sorriso de uma criança, ou no pobre mendigo, no doente que sofre, nos nossos co-peregrinos no caminho da vida. Não se apresse, cheire as flores no caminho e contemple a ternura de Deus.
Mas não fiquemos por aqui. Ascendamos a Deus Uno e Trino: ao nosso Pai amoroso, através de Cristo, nosso Salvador e amigo; no Espírito Santo, nosso santificador e defensor. Assim, começamos todas as nossas orações e métodos de oração: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Qual é, pois, o melhor método de oração? Santa Teresa de Ávila responde: Se contemplarmos, se rezarmos oralmente e mentalmente, se curarmos os doentes, se servirmos nas tarefas domésticas, se executarmos um trabalho humilde, e tudo isto servir o hóspede (Jesus), o que é mais importante entre todas estas tarefas? Teresa perguntou a si própria: “O que devo fazer?”. E deu a resposta: “Faz o que mais te desperta para o amor” (in Quarta Mansão).
Na realidade, o que conta não é um método específico. O que mais importa é que a oração, seja qual for o tipo de oração, é boa quando nos ajuda a expulsar vícios, a praticar virtudes, a tomar a cruz, a amar todos os vizinhos, particularmente os pobres e marginalizados. A oração é um processo humanizador e divinizante: um processo para transformar a lagarta sedosa da nossa alma na borboleta branca de Deus (in O Castelo Interior).
Pe. Fausto Gomez, OP