A natureza e os tipos de oração
A oração é a água viva que alimenta a nossa vida cristã. É como a respiração da alma, sentindo a presença de Deus nas nossas vidas e comunicando com Ele. É “a elevação da mente e do coração a Deus” (São João Damasceno). A oração liga-nos a Deus: “Quando ninguém me ouve mais, Deus ainda me ouve… Se eu rezar, nunca estou totalmente só” (Bento XVI, Spe Salvi).
A oração é a linguagem do coração no amor de Deus. A oração é “a mãe e a fonte do movimento ascendente para Deus” (São Boaventura). Santa Teresa de Ávila, uma mestre incomparável da oração, define a oração como “um diálogo de amizade, estando-se sozinho muitas vezes com Aquele que sabemos que nos ama”. Ela não conseguia compreender por que razão o mundo inteiro não se tenta aproximar de Deus através desta amizade particular. A oração consiste mais em ouvir do que em falar; mais em exercer os afectos da vontade do que as especulações do intelecto (São João de Ávila, Audi filia…). A oração é a “Relação íntima com o Amado” (São Carlos de Foucauld).
A oração é universal. O amor cristão não é selectivo, mas sim solidário com todos, com os nossos irmãos e as nossas irmãs em Cristo. Oramos por todos: pela nossa Igreja, pelas nossas comunidades e pelas nossas famílias; pelos pecadores, pelas almas do purgatório e pelos nossos inimigos, «pelos que nos maltratam» (Lc., 6, 28; Lc., 23, 24).
A nossa oração pode ser uma oração de louvor, de acção de graças, de arrependimento e, mais frequentemente, uma oração de petição (cf. Catecismo da Igreja Católica 2629-2643). Somos pecadores e necessitados, por isso pedimos a ajuda de Deus para nós próprios e para os outros. Pedimos também a Deus pela saúde da mente e do corpo. O conhecido ditado “Mente sã em corpo são” (mens sana in corpore sano), não é só isso, mas também: Orandum est ut ut sit mens sana in corpore sano(rezamos para ter uma mente sã num corpo são). Os Padres do Deserto, os santos, deram um significado fundamental à oração de expiação ou reparação: como Jesus expiou e pagou pelos nossos pecados, nós unimo-nos a Ele para expiar os pecados do mundo.
A oração é pessoal e comunitária. Precisamos de ambos: somos pessoas individuais e seres sociais, seres humanos e filhos de Deus. Pertencemos à família humana e à família de Deus. Nenhuma oração verdadeira é individualista nem realmente privada. A celebração da Sagrada Eucaristia é a oração comunitária por excelência: tomamos a Comunhão em duas mesas, a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia. A Santa Missa é sacrifício e sacramento, acto de acção de graças, adoração, petição e expiação pelos pecados. A Eucaristia Dominical, se participarmos penitentemente, activamente e devotamente, é uma verdadeira experiência de Deus!
A oração é oral e mental, externa e interna, com palavras ou sem palavras. O que importa na oração é que ela seja bem feita. A boa oração oral ou vocal também é mental. Por isso, rezar não só com os seus lábios, mas com o coração e a língua (Is., 29:13). Quando rezamos, precisamos de estar conscientes de quem está a falar; com quem ele/ela está a falar; e o que ele/ela está a dizer (Santa Teresa de Ávila). Explicando as Sagradas Escrituras sobre a oração, os Padres da Igreja sublinharam o coração: nas suas profundezas íntimas Deus habita.
A oração é dirigida a Deus, através de Jesus, no Espírito: oração e devoção são os dois actos principais da virtude da religião através da qual nos relacionamos e nos unimos a Deus. Todas as orações são realmente dirigidas à Santíssima Trindade, Um só Deus e Três Pessoas. Só a Ele sejam a glória, o poder e a honra para sempre! Assim, todas as orações são orações trinitárias: A Deus Pai, através de Cristo nosso Senhor, no Espírito nosso Advogado. A Deus nosso Pai, que nos ama infinitamente e escuta as nossas petições; no Espírito Santo, que nos atrai para rezar (cf. 1 Cor., 12, 3), através de Cristo nosso Senhor: «Eu verdadeiramente vos asseguro que, tudo o que pedirdes ao Pai, Ele o concederá a vós, em meu Nome» (Jo., 16, 23). Obra “Comentários de Santo Agostinho”: “Ele [Jesus] reza por nós como o nosso sacerdote; reza em nós como a nossa cabeça; é o objecto das nossas orações como o nosso Deus”. […] “Oramos então a Ele, através Dele, Nele, e falamos com Ele e Ele connosco” (Comentário ao Salmo 85). Thomas Merton: “Que Jesus reze… Esqueça a si próprio. Entra na oração de Jesus. Deixai-O rezar em vós”.
Rezamos “em comunhão com a Mãe de Deus”, com Maria nossa Mãe e discípula dos discípulos, que guardou no seu coração tudo o que aconteceu à volta de Jesus (CIC 2673-2675) e que intercede por nós. Rezamos também aos santos. No entanto, tal como a devoção é, primeiro, adoração a Deus e, segundo, veneração aos santos. A oração é principalmente dirigida a Deus, dirigida a Jesus Cristo, que é o fim da nossa devoção aos santos. Rezamos aos santos para que unam as suas orações às nossas (cf. CIC 2664-2672).
Como seguidores de Jesus, Filho de Deus e de Maria, devemos ter uma devoção especial, o amor a Maria. Rezamos também a São José – o patrono universal da Igreja – cuja vida é uma oração contínua, silenciosa e de total confiança em Deus, de queremos fazer a sua vontade. Rezamos aos santos da nossa devoção. Na minha vida, a devoção a São Domingos, que falava sempre com Deus ou de Deus: “Nunca pede recompensa, ele apenas fala do Senhor”.
E que tal rezar pelas almas do purgatório? Resposta tradicional: rezamos por elas, mas não a elas, pois ainda não desfrutam da visão de Deus. Contudo, alguns teólogos modernos – incluindo K. Rahner – respondem de forma positiva.
Todos os santos são pessoas de oração. E nós também devemos ser! A oração, de facto, é a água da nascente que rega a nossa vida, o fogo que queima os nossos corações com o amor de Deus e do próximo.
Pe. Fausto Gomez, OP