TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (190)

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (190)

De que forma a Santíssima Trindade se reflecte no Homem?

Uma vez que o homem é feito à imagem e semelhança de Deus, há um reflexo da Trindade no homem. Em Deus há uma relação de conhecimento e amor. Deus também quer que esta relação se reflicta entre os homens. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) afirma no ponto 1878: “Existe uma certa semelhança entre a unidade das pessoas divinas e a fraternidade que os homens devem instaurar entre si, na verdade e no amor”.

A Igreja ensina que viver com os outros é uma exigência intrínseca da natureza humana. A sociedade não é um complemento artificial do qual se pode prescindir. Por natureza, o homem não é apenas racional, mas também social. “A pessoa humana tem necessidade da vida social. Esta não constitui para ela algo de acessório, mas uma exigência da sua natureza. Graças ao contacto com os demais, ao serviço mútuo e ao diálogo com os seus irmãos, o homem desenvolve as suas capacidades, e assim responde à sua vocação (Gaudium et Spes25, 1)” (CIC nº 1879).

Podemos dizer que a natureza social do homem decorre da sua natureza racional. O facto de o homem ter um intelecto significa que ele pode comunicar com os outros e compartilhar ideias e ideais. E porque o homem tem vontade, pode amar e ser amado. Essa relação de conhecimento e amor fortalece as sociedades.

Alguns pensadores, como Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), ensinam que a sociedade não surgiu naturalmente, sendo o resultado de um contrato social. A Igreja, por seu lado, defende que a sociedade e a autoridade que a governa são exigências da natureza humana.

Deus quis que os homens necessitassem uns dos outros. Neste prisma, o CIC refere: “Ao vir ao mundo, o homem não dispõe de tudo o que é necessário para o desenvolvimento da sua vida corporal e espiritual. Precisa dos outros. Há diferenças relacionadas com a idade, as capacidades físicas, as aptidões intelectuais e morais, os intercâmbios de que cada um pôde beneficiar, a distribuição das riquezas (Gaudium et Spes29, 2). Os ‘talentos’ não são distribuídos por igual (cf. Mateus 25:14-30; Lucas 19:27)” (CIC nº 1936).

E continua no ponto 1937: “Estas diferenças fazem parte do plano de Deus que quer que cada um receba de outrem aquilo de que precisa e que os que dispõem de ‘talentos’ particulares comuniquem os seus benefícios aos que deles precisam. As diferenças estimulam e muitas vezes obrigam as pessoas à magnanimidade, à benevolência e à partilha: e incitam as culturas a enriquecerem-se umas às outras: ‘Eu distribuo as virtudes tão diferentemente, que não dou tudo a todos, mas a uns uma e a outros outra […] A um darei principalmente a caridade, a outro a justiça, a este a humildade, àquele uma fé viva. […] E assim dei muitos dons e graças de virtudes, espirituais e temporais, com tal diversidade, que não comuniquei tudo a uma só pessoa, a fim de que vós fosseis forçados a usar de caridade uns para com os outros; […] Eu quis que um tivesse necessidade do outro e todos fossem meus ministros na distribuição das graças e dons de Mim recebidos’ (Santa Catarina de Sena, Diálogo I, 7)”.

Por último, o Catecismo da Igreja Católica define a sociedade da seguinte forma: “Sociedade é um conjunto de pessoas ligadas de modo orgânico por um princípio de unidade que ultrapassa cada uma delas. Assembleia ao mesmo tempo visível e espiritual, uma sociedade perdura no tempo: assume o passado e prepara o futuro. Através dela, cada homem é constituído ‘herdeiro’, recebe ‘talentos’ que enriquecem a sua identidade e cujos frutos deve desenvolver (cf. Lc., 19,13,15). Com toda a razão, cada um é devedor de dedicação às comunidades de que faz parte e de respeito às autoridades encarregadas do bem comum” (CIC nº 1880).

Pe. José Mario Mandía

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