Que Governo? Aceitam-se apostas!

Após uma semana de “diálogos” entre os partidos políticos, em que a figura principal que dá as cartas deste interessante jogo é António Costa do Partido Socialista, os portugueses ainda não viram “fumo branco”, ou seja, que Governo vai ter Portugal.

Com um novo hemiciclo dividido entre uma chamada “esquerda” maioritária e uma “direita” minoritária, os partidos políticos nacionais travam-se de razões interpretativas sobre o que queriam os portugueses quando votaram nas últimas eleições legislativas de 4 de Outubro:

– Para a coligação governamental (PSD/CDS), o povo deu-lhes a maioria, mesmo que relativa, logo, atribuíram-lhe um sim;

– Para o PS, BE e PCP, os portugueses, ao retirarem a maioria absoluta à coligação, disseram claramente que não, que eles não devem continuar a governar;

– Para os cépticos, os que não votaram, que o fizeram em branco ou anularam o voto, aqueles que não se sentem representados pelas forças políticas nacionais ou que duvidam das suas reais intenções, a resposta do povo a esta questão foi um “nim”.

Enquanto se tem desenrolado esta “novela subjectiva” da contabilidade eleitoral, as reacções dos vários partidos concorrentes a uma solução governativa vai deixando transparecer um certo entendimento entre uns e algum desentendimento entre outros.

Assim, parece que PCP e BE, apesar da verdadeira batalha campal que travaram com o PS, durante as recentes eleições e desde há muitos anos, estão a aproximar-se deste na procura de uma plataforma governativa, da qual ainda não se conhece a substância, nem a durabilidade. Uma aliança que não sendo anti-natura, num outro quadro democrático internacional, deixa muitas dúvidas sobre a sua duração em Portugal, não tanto porque BE e PCP não consigam tacticamente evitar a inclusão de alguns dos seus princípios antagónicos ao PS, num entendimento para uma legislatura, mantendo a sua estratégia, mas porque a desconfiança, o conflito permanente entre eles e o PS e a hostilidade permanente com que sempre se trataram, condiciona muito qualquer solução a longo prazo.

A coligação, ao contrário, está a encontrar muita dificuldade em se entender com o PS, situação que pode ter origem na sua incapacidade em admitir que tem de dialogar com o mesmo, após quatro anos em que não lhe deu “cavaco” ou (para quem pensaria ir perder as últimas eleições) aproveitar esta inesperada surpresa da maioria relativa para provocar novas eleições e a sua eventual vitória absoluta.

Para tal, e olhando para a sua “receita” anterior, bastar-lhe-á: vitimizar-se, evocando a falta de disponibilidade do PS para negociar e acusando-o de lhe querer impor o seu programa; tentar lançar o pânico entre os eleitores, face à hipótese de um Governo PS, apoiado pelo PCP e BE, situação semelhante à promoção do medo que antes utilizou contra o PS a propósito de Sócrates; voltar a colocar a ameaça das pressões da Europa e dos mercados financeiros e, por último, para que todas as “armas” sejam utilizadas, continuar a apelidar António Costa de todos os defeitos possíveis e imaginários, mesmo acusando-o de querer o poder a todo o custo e tentar fracturas dentro do seu próprio partido.

Nestas circunstâncias há quem aceite apostas para o que irá acontecer. Quem não precisa de apostar porque, ao contrário de toda a gente, “já tinha” este cenário previsto, é o Presidente da República. Reconhecendo que Cavaco não deixará de aplicar a sua “lógica” institucionalista, que sempre o caracterizou e que dificilmente irá defraudar a expectativa da maioria dos seus eleitores social-democratas, nomeadamente agora, em fim de mandato, o Presidente só pode ter uma atitude: empossar Passos Coelho como Primeiro-Ministro e esperar que o seu Governo caia proximamente.

E depois??? Bem, depois, quem vier a seguir que feche a porta! Na certeza de que já não será Cavaco Silva, há uma certeza que posso desde já enunciar: entrámos em nova campanha eleitoral e, se tal se confirmar, tudo o que os políticos nacionais possam dizer ou fazer é “material” eleitoral.

LUIS BARREIRA

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