O Modelo do Bom Pastor para todas as Vocações: Cinco Condições Essenciais
O Evangelho deste Quarto Domingo de Páscoa apresenta-nos a figura do Bom Pastor. Algumas pessoas poderiam pensar que este texto se dirige apenas aos padres. Seria como dizer que eles são os pastores e o povo as ovelhas. Apesar disso ser verdade, todos somos chamados a tornarmo-nos pastores. O ideal da vida não é permanecer como “ovelha”, mas tornarmo-nos bons pastores, segundo o Coração de Jesus. Independente da nossa vocação, Deus nos dará responsabilidades e todos teremos pessoas para cuidarmos, quer seja na família, no trabalho ou na sociedade. Se reflectirmos acerca do capítulo 10 do Evangelho de São João, conseguimos perceber que para alguém ser um bom pastor, ou um verdadeiro líder, segundo o modelo evangélico, cinco condições explanadas no exemplo de Jesus são fundamentais.
A primeira delas, como o próprio nome diz e parece óbvio, é preciso ser “bom”. Quando Jesus se define como o Bom Pastor, Ele fala sobre a Sua identidade. Antes de tudo, Ele era boa pessoa. Em alguns momentos da nossa vida encontramos pessoas que nos aceitam como somos, que realmente se preocupam connosco e que naturalmente se tornam modelos a seguir e a quem desejamos imitar. Essas pessoas nobres podem ser definidas simplesmente como boas. Se algum dia alguém disser que vós se pareceis com Jesus, que sois uma boa pessoa, com bom coração, fiquei feliz – este é um grande elogio. Antes de partirmos para a próxima característica, ser bom não significa ser um coitado que diz sim a tudo, mas alguém que tem firmeza para tomar decisões. A verdadeira bondade está na virtude do equilíbrio entre os extremos do autoritarismo e da fraqueza. Tal só alcançamos quando vivemos a caridade na verdade.
Em seguida, deve-se conhecer as ovelhas. O Papa Francisco dizia que o pastor deve «ter o cheiro das ovelhas», o que requer presença e proximidade. Só assim percebemos a singularidade de cada um, para tratarmos as pessoas como precisam e não segundo os nossos critérios pré-estabelecidos. Jesus, por exemplo, quando percebeu a abertura do coração do rico Zaqueu, chamou-o pelo nome e foi comer a sua casa (cf. Lc., 19, 5). Numa sociedade em que é mais fácil enviar uma mensagem por telemóvel do que falar directamente olhando nos olhos, só seremos verdadeiros pastores e conseguiremos ajudar quem Deus nos confiou se estivermos realmente presentes e amarmos, de facto, sem julgamentos apressados.
A terceira condição é ir à frente. O Papa Paulo VI, na Encíclica Evangelii nuntiandi, diz que “o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, dizíamos ainda recentemente a um grupo de leigos, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas” – significa: termos autoridade moral. Esta é a força inquestionável do exemplo, a força da santidade. Primeiro precisamos viver o que desejamos que os outros vivam. Normalmente somos muito cirúrgicos para vermos os defeitos dos outros e dizermos o que devem mudar. Porém, as primeiras palavras que saíram da boca de Jesus no anúncio do Evangelho foram: «arrependei-vos e crede no Evangelho» (Mc., 1, 15). Além da conversão pessoal é necessário aprender a servir por Amor. Jesus mostrou o caminho da eternidade pela clareza das suas palavras e acções, e por estar sempre disponível para amar, mesmo quando alguém O procurava de forma inesperada.
Outro sinal de que alguém é um bom pastor é procurar a ovelha perdida. Jesus afirmou que veio para os doentes (cf. Mc., 2, 17). Ele nunca excluiu ninguém pela sua história. Apesar do arrependimento preceder ao perdão divino, Jesus nunca condenou ninguém pela sua história, assim como não ignorou a necessidade de conversão para o Seu seguimento. O Bom Pastor não desiste das pessoas. Conta-se que a certa altura Cura d’Ars andava a abençoar pelas ruas da cidade, enquanto Francisco Dorel, caçador soberbo, passeava com o seu cão e gozava com a presença do santo. O sacerdote, então, parou na frente dele e disse: «–Senhor, seria de desejar que a sua alma fosse tão formosa como o seu cachorro». O santo queria dizer que o animal cumpria a sua missão, sendo fiel e ágil; mas ele, como cristão, estava a arruinar-se. O homem ficou muito irritado, saiu e começou a reflectir sobre a sua vida. Aquilo que aparentemente foi uma ofensa, ajudou aquele caçador a perceber a sua vaidade e desejou ser religioso. Pouco tempo depois, seguindo o conselho de Cura d’Ars, Francisco Dorel tornou-se trapista e morreu santamente 36 anos depois. Isto só foi possível porque ele, pecador, não foi abandonado.
Jesus ensina-nos que o Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas. Tudo seria apenas teoria se no momento mais importante Ele procurasse salvar a Sua vida, ao fazer um acordo com as autoridades da época. Jesus foi um homem de verdade. Mesmo sendo Deus, foi fiel até ao fim e mostrou que o Seu amor pelos discípulos e toda a humanidade ultrapassava o comportamento deles, tal como o amor de uma mãe que dá a vida pelo filho, não deixando de o visitar mesmo que este esteja na prisão. Amar é chaga, ou seja, muitas vezes dói. Ninguém será de facto um líder cristão se não seguir o exemplo de Jesus – de amar sem limites. Os Apóstolos foram capazes de dar a vida por amor a Jesus, porque viram o Seu exemplo; viram o próprio Amor. Independentemente da nossa vocação, sacerdote, pai, mãe, educador, esta apenas será frutuosa se se tornar um serviço de Amor.
Pe. Daniel Ribeiro, SCJ