Portugal

Peregrino tem dia nacional

O parlamento português aprovou, no passado dia 27 de Junho, a instituição do Dia do Peregrino, que vai ser assinalado a 13 de Outubro, por proposta da maioria PSD/CDS que visa «dignificar o papel do peregrino na construção da sociedade portuguesa».

O projecto de resolução 1050/XII recorda que «existe uma forte tradição na realização de peregrinações cristãs direccionadas para os mais variados locais de culto, com destaque para aquelas que se decorrem no Santuário de Fátima».

«O acto de peregrinar abrange uma amplitude que vai muito para além da condição de crente de quem o pratica, abrangendo uma dimensão social, cultural e económica que se deve também valorizar», acrescenta o texto.

Mas o que significa peregrinar?

Uma peregrinação (do Latim per agros, isto é, pelos campos) é uma jornada realizada por um devoto de uma dada religião a um lugar considerado sagrado por essa mesma religião.

O termo “Peregrino” aparece na língua portuguesa na primeira metade do século XIII para denominar os cristãos que viajavam a Roma ou à Terra Santa (onde actualmente se encontra o Estado de Israel e os Territórios Palestinos) para visitar os lugares sagrados. Às vezes a peregrinação era um acto de reparação com o objectivo de remir determinados pecados e outras vezes para cumprir penas canónicas. Desses peregrinos surgiria mais tarde a ideia das Cruzadas, enviadas para “reconquistar” os lugares que os cristãos consideravam sagrados e que estavam em poder de povos de outras religiões.

O acto de peregrinar e as peregrinações ocorrem desde os tempos mais remotos, mesmo nos chamados tempos primitivos em que predominavam os costumes ou ritos pagãos. Existem escritos de locais de peregrinação muitas vezes ofuscados pela própria religião cristã, como o caso da Catedral de Santiago de Compostela que pode ter sido construída onde passaria antes uma outra rota mais antiga, a peregrinação a Finisterra (fim-da-terra), à costa Ocidental para ver o deus Sol a “morrer” no mar e que no dia seguinte ressuscitava no Oriente.

As primeiras peregrinações do Cristianismo datam do início do século IV (quando o Cristianismo foi tornado religião licita) e tinham por destino a Terra Santa (a mais conhecida e a primeira a deixar um relato da peregrinação é a histânica Erétria, muito provavelmente familiar de Teodósio I, imperador romano). Mais tarde tiveram grande surto devido à pregação de São Jerónimo.

Para peregrinar há que ter em conta que não se trata apenas do acto de caminhar (no caso da peregrinação a pé), ou executar um trajecto com um determinado número de quilómetros; é reconhecido que peregrinar carece caminhar-se motivado “por” ou “para algo”.

A peregrinação tem, assim, um sentido e um valor acrescentado que é necessário descobrir a cada pessoa que a executa. Nunca pode ser considerado um simples passeio, o que não quer dizer que, sendo longo no tempo e no espaço, não inclua actividades culturais, como visitar museus e monumentos, não necessariamente religiosos, ou espectáculos considerados lícitos, belos, sem ferir os bons costumes.

Sei que estou a escrever para um jornal que não se edita em território português, uma vez que Macau pertence agora à China, mas como me dirijo à comunidade portuguesa aí residente penso que todos conhecem os locais de Portugal Continental ou do território europeu a que me refiro.

 Maria Fernanda Barroca 

Professora

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