Em Portugal, segundo dizem, trabalha-se muito e produz-se pouco, pelo que a maioria dos portugueses (que podem) está de férias caseiras, compatibilizando o muito que a natureza lhes deu com o pouco que ganham.
Neste país, com uma dívida pública em permanente deriva, depois de tudo a que o Governo tem submetido e prometido, os portugueses foram de férias com única certeza no saco de bagagem: a crise não tem férias!
Para que ninguém se esquecesse dessa triste realidade, os deputados da maioria parlamentar fizeram questão de, no último dia de trabalho da Assembleia da República e antes de partirem para férias, aprovar mais um “pacote” de medidas consideradas “anti-crise”, para “animar” as férias dos portugueses…
Assim (com “animação”, ou sem ela e se o Tribunal Constitucional deixar), a partir de 2015 as pensões da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações, acima de mil euros (uma fortuna!), vão passar a ter um corte (desta vez permanente) de 2% e 3,5%. Mais uma bofetada nos rendimentos dos seniores, com uma nova designação apelidada de Contribuição de Sustentabilidade (CS), mas que, para o sustento dos reformados e o de todos os que deles dependem, será mais um pesadelo.
Mas, para que não acusem o Governo de só não gostar dos velhos, o resto da população vai também passar a pagar mais caro o consumo de todos os produtos de que necessita e os impostos seguem o mesmo caminho ascendente. O IVA aumenta, tal como a Taxa Social Única (TSU).
Num país que assiste a uma verdadeira sangria da sua população activa, estimada em mais de trezentos cidadãos por dia e centenas de milhares nos últimos três anos, que têm emigrado para os mais diversos países que lhes proporcionam trabalho, também já ninguém estranha que alguns dos seus ministros tenham partido de “férias” para a Comissão Europeia ou para o FMI e que a actual ministra das Finanças esteja a ser “requisitada” para as mesmas paragens.
Se tal se vier a concretizar pode levar-nos a pensar que quando o barco se começa a afundar os “roedores” são os primeiros a abandoná-lo.
Afinal, com um Governo cuja a única solução para diminuir a dívida nacional é diminuir o rendimento dos portugueses e a mesma não pára de aumentar, a população interrogasse se não seria talvez boa ideia (sem dar cavaco a ninguém) mandar igualmente o Governo “ir de férias” e de forma permanente (como os cortes que querem fazer nas pensões). Se como diz o povo, “só faz falta quem cá fica” e, se só ficarem os “velhos”, tenho a certeza que acabarão por corrigir os seus próprios “tratados orçamentais”, passando a “comer” alguns produtos nacionais, através de uma dieta à base de salgados (da marca Ricardo), acompanhados das azeitonas que ainda sobram da nossa oliveira (e Costa) e umas hortaliças plantadas pelo rendeiro das nossas propriedades.
Se há mais de uma dezena de séculos já nos acusavam de sermos um povo ingovernável e chegámos até aqui só com alguns a governarem-se, começo a reflectir seriamente sobre a eficácia de algumas teorias anarquistas como forma de resolver o problema nacional. Com tantos “buracos” no País até poderíamos ajudar a manter a boa forma física dos nossos “velhotes”, criando um enorme campo de golfe, para que possam dar umas valentes “tacadas”…
Mas férias são férias! Nada de pensamentos pessimistas! Embora ela não se coma, é preciso continuar a alimentar a esperança. E para aqueles que estão fartos de esperar pela esperança, o Governo “quase” que garante que, para 2015 (ano de eleições), tudo estará melhor e todos os portugueses poderão eventualmente gozar excelentes férias nas lindas praias de Gaza (em Moçambique, evidentemente…).
Desejo que passem as férias possíveis porque, à volta, cá vos espero.
Luis Barreira