Nomeação de bispos é a grande muralha.
A nomeação de bispos pelo Governo chinês é o principal obstáculo à normalização das relações entre o Vaticano e a República Popular da China, referiu o porta-voz da Santa Sé, Greg Burke, descartando que esteja iminente um acordo entre as partes. O que vem contrariar o optimismo do bispo Guo Jincai, reconhecido por Pequim.
Um acordo histórico entre a República Popular da China (RPC) e o Vaticano quanto à nomeação de bispos «não está iminente», disse no passado dia 29 de Março o porta-voz da Santa Sé, Greg Burke, embora continue o diálogo entre as partes. A declaração contradiz uma declaração optimista de um bispo reconhecido pelo Governo chinês.
«Gostaria de sublinhar que o Santo Padre está em constante contacto com os seus colaboradores sobre as questões chinesas e que também está a acompanhar as etapas do diálogo em curso», acrescentou o porta-voz. No mesmo dia, uma importante fonte do Vaticano referiu que a Santa Sé ainda não sabia exactamente quando é que uma delegação chinesa iria deslocar-se a Roma.
A reacção do porta-voz da Santa Sé veio na sequência das declarações proferidas pelo bispo Guo Jincai, secretário-geral da Conferência Episcopal da Igreja Católica na China, que ao ser citado pelo jornal estatal Global Times frisou que as negociações com o Vaticano estão na «recta final». «Se tudo der certo, o acordo pode ser assinado no final do mês», avançou o bispo Guo Jincai, que é reconhecido pelo Governo Central.
O Vaticano retomou as demoradas negociações com Pequim há três anos. O grande obstáculo ao progresso tem sido a questão em torno de quem recai a nomeação dos bispos do continente chinês: na China ou na Santa Sé?
Relativamente a um possível acordo, o Vaticano poderá eventualmente concordar em reconhecer sete bispos escolhidos pelo Poder Central, na esperança que Pequim aceite a autoridade do Papa como chefe da Igreja Católica na China, sustentou recentemente fonte conhecedora do processo.
Pequim e o Vaticano romperam as relações diplomáticas em 1951. Embora os laços tenham melhorado à medida que a população católica cresce na China continental, há ainda que contornar o desacordo em relação à nomeação de bispos.
Aproximadamente doze milhões de católicos estão divididos entre a Associação Patriótica Católica Chinesa, de cariz governamental, cujo clero é escolhido pelo Partido Comunista Chinês, e uma igreja clandestina não oficial leal ao Vaticano. Enquanto alguns acreditam que um acordo irá criar divisões entre ambas as partes, há também quem tema que as concessões ao Governo chinês possam ser contraproducentes para os devotos “clandestinos”, sendo que muitos dos quais sofreram anos de perseguição por seguirem o Papa.
O Vaticano já aceitou bispos nomeados por Pequim. Alguns opositores – entre eles o cardeal de Hong Kong, D. Joseph Zen – manifestaram que um acordo pode levar ao abandono de fiéis e equivaler a um acordo com o diabo.
Uma católica leiga, da região central da China continental, sublinhou que o acordo irá «certamente» levar a um «menor grau de liberdade para a igreja clandestina», garantindo que «se o Vaticano violar a sua consciência, os católicos que vivem na clandestinidade não o vão certamente aceitar».
Numa carta aberta divulgada em Fevereiro último, um grupo de quinze católicos composto por professores universitários, docentes, investigadores, activistas de direitos humanos e advogados de Hong Kong, dos Estados Unidos e do Reino Unido, expressou preocupação sobre o reconhecimento de bispos indicados por Pequim, visto poder levar à «confusão e dor, dando origem ao cisma».
O consenso entre o Vaticano e a RPC já havia sido noticiado em Fevereiro de 2017, tendo na ocasião o então bispo de Hong Kong, D. John Tong, referido que a partir daquele momento não iria haver mais crises em termos de divisões entre as comunidades oficiais e clandestinas da Igreja na China, mostrando-se optimista em relação à gradual reconciliação e comunhão nos aspectos legais, cuidados pastorais e relações entre as partes.
Vozes de Macau (Caixa)
Luiz Oliveira Dias disse estar convicto que «estamos a viver ainda alguns dias de esperança» para que se torne realidade o reatamento das relações diplomáticas entre a RPC e a Santa Sé. «Sei que vai acontecer. E fico muito feliz com isso, mesmo à custa de algum problema com a nomeação de bispos e da “alteração” das relações entre o Vaticano e a ilha Formosa», acrescentou o ex-presidente do Instituto Politécnico de Macau. Para ele, «as diplomacias vêem à distância, tanto a pontifícia, como a chinesa», razão pela qual «não interessa se é preciso sacrificar algo, tendo em vista um objectivo mais importante».
Após a procissão do Senhor Morto, realizada na passada Sexta-feira Santa, a ex-presidente da Assembleia Legislativa, Anabela Ritchie, sustentou que gostaria de ver concretizada a aproximação total entre o Vaticano e a China, pois era algo que seria «óptimo» acontecer. «Oxalá tudo corra pelo melhor e seja possível uma aproximação total e cabal, porque todos temos a lucrar com isso», vincou.
P.D.O. com SCMP e agências internacionais