«Nasceu para que dela nascesse Deus» Padre António Vieira
A celebração do nascimento da Virgem Maria, como disse Santo André de Creta, honra a natividade da Mãe de Deus. A Igreja universal celebra a Natividade de Maria no dia 8 de Setembro, isto é, na próxima quarta-feira. A tradição diz que a Virgem nasceu em Jerusalém, nas proximidades do tanque de Betesda, onde actualmente se venera uma cripta sob a igreja de Santa Ana, este o local onde nasceu Nossa Senhora. A Festa da Natividade é celebrada nove meses depois da Solenidade da Imaculada Conceição.
A Festa da Natividade da Virgem Maria é conhecida no Oriente desde o Século VI. Foi fixada a 8 de Setembro, dia com que se inicia o ano litúrgico bizantino, sendo este encerrado com a Assunção de Nossa Senhora, em Agosto. No Ocidente foi introduzida no Século VII e era celebrada com uma procissão-ladainha, a qual terminava na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma.
Esta Festa foi sempre celebrada, com louvores, por muitos Santos Padres. São Pedro Damião (1007-1072), Doutor da Igreja, no seu Segundo Sermão sobre a Natividade de Nossa Senhora, diz: “Deus omnipotente, antes que o homem caísse, previu a sua queda e decidiu, antes dos séculos, a redenção humana. Decidiu, portanto, encarnar-se em Maria”.
Maria foi concebida no ventre da sua mãe Ana, sem o pecado original, para ser um “vaso” puro e poder gerar o Criador em forma humana. Ela veio ao mundo de modo diferente de todos os demais humanos, plena da graça santificante e não sujeita ao pecado – pura, bela, formosa e gloriosa, adornada das graças mais preciosas que convinha àquela escolhida para ser a Mãe do Salvador.
D. Murilo S.R. Krieger SCJ, arcebispo emérito de São Salvador da Baía, num artigo publicado no “site” Vatican News, refere que não há, nos textos evangélicos, referência alguma ao nascimento de Maria, por uma razão muito simples: o objectivo que os evangelistas tinham ao escrever os Evangelhos era o de apresentar-nos Jesus Cristo. Adianta-nos que só há referências à Virgem Maria ou a qualquer outra pessoa quando se trata de ressaltar algum facto que diga respeito ao Salvador. “É verdade que a Palavra de Deus mostra-nos, mesmo que de forma discreta, a presença de Maria Santíssima nos momentos centrais da História da Salvação, como a encarnação, a inauguração do ministério de Cristo, a crucifixão, o nascimento da Igreja com a vinda do Espírito Santo, etc. Mas os Evangelhos não nos dão informações a respeito da família de Maria, da sua infância, da sua formação, do seu temperamento, do seu aspecto físico, etc.”, aponta D. Murilo.
No entanto, o arcebispo emérito sublinha que encontramos dados sobre o nascimento de Maria nos chamados Evangelhos Apócrifos, que não são textos inspirados, mas escritos para recolher tradições orais que circulavam entre o povo. Ao lado de poucos factos históricos verdadeiros, tais textos traziam muitas histórias fantasiosas e edificantes, para comover os fiéis. Para dar maior autoridade a tais textos, escritos a partir do segundo século da era cristã, eram divulgados como sendo da autoria de algum Apóstolo. Segundo os Evangelhos Apócrifos, Nossa Senhora teria nascido na cidade de Nazaré, na Galileia, e os seus pais chamavam-se Joaquim e Ana.
A Igreja Católica não costuma celebrar o dia do nascimento dos santos, mas sim o da sua morte – isto é, quando entraram para a glória eterna. Há, contudo, três celebrações de nascimento: de Jesus Cristo; de São João Baptista; e o da Virgem Santíssima.
Toda a Igreja faz o convite, enaltece D. Murilo pelas palavras de São João Damasceno: “Vinde, todas as nações, vinde, homens de todas as raças, línguas e idades, de todas as condições: com alegria celebremos a natividade da alegria! Que a criação inteira alegre-se, festeje e cante a natividade de uma santa mulher, porque ela gerou para o mundo um tesouro imperecível de bondade, e porque por ela o Criador mudou toda a natureza humana em um estado melhor!” (São João Damasceno, Século VIII).
D. Murilo lembra-nos um famoso sermão feito na Festa da Natividade, pelo padre António Vieira (Século XVII), em que perguntava: “Quereis saber quão feliz, quão alto é e quão digno de ser festejado o Nascimento de Maria?”. Ele mesmo respondeu: “Vede para que nasceu: nasceu para que dela nascesse Deus. Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina, dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde; perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios; perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo; perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação; perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres; perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança. Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz; os discordes, para Senhora da Paz; os desencaminhados, para Senhora da Guia; os cativos, para Senhora do Livramento; os cercados, para Senhora da Vitória. Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho; os navegantes, para Senhora da Boa Viagem; os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso; os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte; os pecadores todos, para Senhora da Graça; e todos os seus devotos, para Senhora da Glória. E se todas estas vozes unirem-se em uma só voz, dirão que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus”.
A Virgem Maria, realça ainda D. Murilo, foi escolhida por Deus, antes de todos os séculos, para ser a Mãe do Messias, a Mãe do Filho de Deus, a Mãe do Salvador, “a estrela que precede o Sol”. Daí que a Igreja, na Festa do seu nascimento, peça: “Exulte, ó Deus, a vossa Igreja (…), pois nos alegramos pelo nascimento de Maria, que foi para o mundo inteiro esperança e aurora da salvação” (Missa – Oração depois da Comunhão).
Santa Mãe de Deus, rogai por nós!
Miguel Augusto
com Vatican News e Acidigital