Pobreza

Por mais falácias que a propaganda oficial difunda e por mais cérebros que consiga lavar, em nada altera a realidade que comprova que os destinos de Portugal estão entregues a uma classe de gente que está a conduzir a sociedade portuguesa para o maior retrocesso civilizacional da história recente, reflexo da degradação acelerada das instituições políticas, económicas e sociais.

Debrucemo-nos sobre a redução do consumo em Portugal que foi e é um dos esteios fundamentais do programa de ajustamento. Recordemos que a propaganda asseverou da necessidade da austeridade como caminho para o sucesso do programa de ajustamento assinado com a troika internacional e que a austeridade e o empobrecimento da maioria, lembremos, era o caminho necessário para a urgente redução do consumo interno, com o grande objectivo do equilíbrio da balança comercial com o exterior e da redução do défice do Estado. Ou seja, a narrativa oficial, com enorme sucesso, diga-se, convenceu a maioria dos portugueses da necessidade de empobrecerem, não só por questões relacionadas com a conjuntura, mas fundamentalmente porque seriam os grandes responsáveis pela crise vigente e pelos desequilíbrios da economia portuguesa, em consequência de fazerem uma vida desregrada e acima das suas possibilidades reais.

Há que reconhecer que a redução do consumo é desejável e até necessária por razões económicas, mas sobretudo por razões de sustentabilidade ambiental e de recursos, mas tal redução do consumo não pode nem deve ser levada a cabo só do lado da procura, pela via do empobrecimento da maioria, como está a ser feito pelo programa que o Governo chefiado por Passos Coelho se encarregou de executar. Porque quando se força a redução do consumo cortando nos rendimentos da maioria sem qualquer alteração do lado a oferta, ou seja, sem regulação das instituições de incentivo ao consumo que se mantêm intactas, o que acontece, e já está a acontecer dramaticamente, é o mercado da procura, entretanto restringido, ser alvo de monopólio pelas grandes corporações que usarão todos os seus enormes recursos para não perderem cota de mercado nem redução de vendas e, em consequência disso, a redução do consumo geral recairá quase na totalidade sobre os sectores tradicionais e de pequena escala, levando ao seu desaparecimento ou ao seu enfraquecimento, criando gravíssimos desequilíbrios económicos e sociais, que é o que acontece quando os mais importantes sectores económicos de um país são controlados por oligarquias e monopólios concorrendo entre eles. Esta tendência nefasta que já vinha do passado recente foi acentuada e reforçada com o ajustamento vigente, patrocinado e executado pelo Governo e apoiado pela troika nas suas diversas variantes.

Colectivo Ortigão

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