Lisboa precisa de um Museu dos Descobrimentos, da Expansão e da Portugalidade.
Motivou compreensível interesse entre numerosos portugueses, entre os quais a Nova Portugalidade e a Associação Coração em Malaca se situam, a intenção da Câmara Municipal de Lisboa em criar um espaço museológico a denominar-se “Museu das Descobertas”. A instituição proposta virá preencher vácuo lamentável, posto não existir após a cessação de actividades da defunta Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1986-2002) em Portugal entidade pública com a missão de estudar e divulgar a aventura marítima dos Descobrimentos e da Expansão, movimento que mudou o destino do mundo e que nos irmana às nações e comunidades lusíadas da América, da África e da Ásia. Digna de aplauso é, pois, a vontade do Senhor Presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina.
O debate relativo à construção, concepção e denominação do museu tem suscitado expectável, mas deslocada, controvérsia na sociedade portuguesa. Em carta aberta publicada em Abril, a que oitenta cidadãos estrangeiros e portugueses de desigual perfil e qualificações apuseram a respectiva assinatura, sustenta-se que o museu a fazer não pode, nem deve, chamar-se “das Descobertas”, e que fazê-lo seria oferecer voz a uma suposta “imprecisão histórica”, insistindo numa narrativa parcial e centrada unicamente na experiência portuguesa do processo de Expansão. Mais, acrescenta-se que os povos por nós “descobertos” não se terão sentido descobertos e que aquele museu contribuiria, adoptando a designação que foi sugerida pela CML, para a perpetuação de “mitos” históricos.
Tal argumentação não pega e não convence. Não se compreende, antes de mais, de que modo seria de desprezar o “ponto de vista português” em acontecimentos de que foram os portugueses pioneiros e protagonistas. Lamentável e perigosa seria, pois, qualquer tentativa de revisionismo ou invenção do passado, particularmente se apostada em divorciar Portugal da mais importante realização da sua História. As Descobertas foram-no, sim, pois aos portugueses coube descobrir com o seu esforço os caminhos do mundo, revelando à Europa outras galáxias civilizacionais e revelando a outras civilizações a face da Europa. Dessa empresa tão sofrida resultou o orgulho de ter sido Portugal o iniciador da Era Gâmica, a que hoje chamamos globalização e pela qual o Norte encontrou o Sul, e o Sul o Norte. Por ter sido força criadora desse processo que colocou povos, culturas e fés em diálogo, só pode Lisboa sentir-se engrandecida. Aliás, a precisão científica da feliz designação indicada pela CML está largamente implantada na ciência historiográfica portuguesa contemporânea, de Jaime Cortesão a Vitorino Magalhães Godinho, nela se revendo, entre outros, A.H. de Oliveira Marques, Joaquim Veríssimo Serrão, António Borges Coelho, Luís Filipe Thomaz, José Manuel Garcia, Francisco Contente Domingues e Henrique Leitão.
O museu a fazer tem, pois, o direito e o dever de ser patriótico – fiel à verdade e, nela, à complexidade que a História sempre tem, mas comprometido igualmente com a dignidade nacional e o orgulho dos portugueses. Totalmente intolerável seria que viesse a fazer-se em Lisboa, por cedência a histerias importadas e politicamente inquinadas, uma casa dos horrores anti-Portugal, espécie de Disneylândia de denúncia dos nossos antepassados. Em lugar de concentrar-se em aspectos lamentáveis, e frequentemente exagerados por uma falsa historiografia politizada e anticientífica, da dita “Expansão portuguesa”, o museu a erguer deve ser um marco de afirmação da consciência nacional e de orgulho cívico, sem os quais não há nem cidadania nem memória que a justifique. Deve ainda, como as próprias Descobertas, ser factor de união, compreensão e aproximação entre os povos irmanados pelo grande projecto científico, tecnológico, logístico e cultural dos Descobrimentos. Mais que encerrar-se em narrativas simples de conquista e feitos militares, assim, a estrutura deverá focar-se na Expansão como projecto, processo e resultado: no que a fez e em como foi feita, mas igualmente no património humano – talvez possamos chamar a este a Portugalidade – que dela brotou.
É de pedir, assim, um Museu dos Descobrimentos, da Expansão e da Portugalidade tematicamente amplo, cientificamente sério e apostado numa leitura total do encontro português com o mundo. A nova instituição deverá oferecer ao público geral, português como estrangeiro, um vasto quadro compreensivo do contributo decisivo que coube a Portugal na construção do mundo moderno, não só pelo carácter pioneiro que desempenhou no domínio das técnicas de navegação, no cartografar das rotas e das terras incógnitas, na domesticação dos oceanos desconhecidos, na revelação à Europa de povos, culturas e civilizações, no diálogo inter-religioso e inter-linguístico que accionou, na revelação das formas artísticas e da riqueza espiritual das crenças e das religiões, na criação de uma economia-mundo integradora, na ignição da revolução alimentar, na circulação de espécies botânicas e animais, na disseminação das técnicas, mas também enquanto alavanca para a organização da comunidade internacional baseada no diálogo entre as civilizações e para a construção de uma comunidade de povos – o espaço cultural português, ou a Portugalidade – que merece bem ser conhecida da população. O mundo que o português criou pôs fim às galáxias civilizacionais fechadas, realizou sínteses, produziu instituições e criou sociedades novas na Europa, em África, nas Américas, na Ásia e na Oceânia, sendo desse processo evidência as múltiplas comunidades que por esse mundo fora se consideram sentimentalmente ligadas a Portugal e que no novo Museu devem ver-se recordadas, estudadas e celebradas. Essa revolução antropológica de signo universalista, igualitário e integrador deve ser apontada como exemplo benigno, benéfico e estimulante para uma nova era multipolar em gestação. Que mais poderíamos oferecer ao mundo que o próprio mundo em Portugal?
Os proponentes
Rafael Pinto Borges, Presidente da Nova Portugalidade. Portugal.
Luísa Timóteo, Presidente da Associação Coração em Malaca. Portugal.
Miguel Castelo-Branco, Historiador e técnico superior do Estado. Portugal.
Carlos Nougué, Professor e filósofo tomista. Brasil.
Dom Duarte de Bragança.
Dom Vasco Xavier Teles da Gama, Antiquário. Portugal.
João António de Castro de Lancastre e Távora, Jurista e presidente da Real Associação de Lisboa. Portugal.
Jirawach Wongngernyuang Dias, Líder da Comunidade Portuguesa do Reino da Tailândia.
Sidney Luiz Silveira da Costa, Jornalista, escritor e especialista em filosofia medieval. Brasil.
Joaquim Magalhães de Castro, Investigador da História da Expansão Portuguesa. Portugal.
Eduardo Manuel Rodrigues Zagalo Coimbra Arêde, jurista. Portugal.
Abel Matos Santos, Psicológo Clínico, Vice-presidente da Concelhia do CDS de Lisboa e membro da Comissão Política Nacional do CDS. Portugal.
Maria Margarida Faria Ribeiro da Cunha de Castro Seixas, Bibliotecária, docente universitária. Portugal.
Jeremiah Johnross Hendricks, destacado membro da comunidade portuguesa de Malaca. Malásia.
José Maria Eça de Queiroz, reformado. Portugal.
Manuel Beninger, Eng. Civil e Presidente da APAM – Associação Portuguesa dos Autarcas Monárquicos. Portugal.
Nuno Miguel da MV Carvalho Alves, Arquitecto. Macau.
Manuel José Marques Ribeiro de Faria, Ex-director do Museu Militar e oficial superior do Exército na situação de reforma. Portugal.
Pedro Quartin Graça Simão José, Professor Universitário e ex-deputado à Assembleia da República. Portugal.
Eurico de Barros, jornalista e crítico de cinema. Portugal.
João Paulo Micael, Presidente da Matriz Portuguesa-MPADC-Associação para o Desenvolvimento da Cultura e do Conhecimento. Portugal.
Vitório Manuel do Rosário Cardoso, empresário, membro da Comissão das Relações Internacionais do PSD e Presidente da Comissão Política da Secção do PSD em Macau e Hong Kong. Macau.
Pedro Baptista-Bastos, Advogado. Portugal.
Rui Ferreira Pires, fotógrafo. Portugal.
Paulo Manuel Múrias Bessone Mauritti, Jurista. Portugal.
Nuno Miguel Matos Silva Pires Pombo, Jurista / docente universitário. Portugal.
Carlos Lourenço Bobone, Livreiro. Portugal.
Ana Isabel Líbano Monteiro, Técnica Superior do Estado, investigadora. Portugal.
Dom José Maria da Piedade de Lancastre e Távora, Artista Plástico. Portugal.
Jorge Manuel Gomes dos Santos, Advogado. Portugal.
Para assinar a petição:
http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT89341