Aquelas roupas que os padres vestem para a Missa
O que são aquelas roupas que os padres vestem quando dizem missa, e o que significam? É o que tentaremos explicar-vos hoje. Atenção: a ideia base para escrever este artigo não é minha. Se o leitor quiser ler o original poderá ver no Google dois documentos: “A Homilia de Quinta Feira Santa, 5 de Abril de 2007, do Papa Bento XVI”, e o documento do “Ofício de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice – Vestes Litúrgicas e Vestes de Oração”.
Deixem-nos responder à primeira questão, da razão em si de se vestir algo especial. O Papa Bento XVI começou a sua homilia com uma história (que não vos contarei aqui) para apresentar a razão dessas vestes. Ele recordou as palavras de S. Paulo aos Gálatas: «Os muitos que foram baptizados vestiram Cristo» (Gálatas 3:27). Estranhas palavras essas, não? Como é que se pode “vestir” uma pessoa? Vestimos roupas, mas não pessoas. Essa foi a maneira que S. Paulo encontrou para nos dizer que teríamos de nos transformar noutros Cristos, deixando-O tomar conta das nossas vidas, deixá-Lo dirigir a nossa vida, ao ponto de podermos dizer: «Não sou mais eu que vivo, mas Cristo que vive em mim» (Gálatas 2:20). Isso corresponde, grosso modo, a já não decidir por mim, deixando que Jesus tome as decisões. Eu não dou um simples passo que ele possa desaprovar, fazendo coisas que possivelmente nunca sonharia fazer. Vestir Cristo não é fácil.
As vestes lembram-nos disso. Tal como no baptismo, quando fomos ungidos, estávamos vestidos de branco. Quando alguém se torna sacerdote é ungido de novo, aceitando a tarefa de celebrar os sacramentos in persona Christi (“impersonando Cristo”). Quando um sacerdote baptiza, é Cristo quem baptiza. Quando perdoa os pecados, é Cristo quem perdoa esses pecados. Quando celebra missa, é Cristo que a está celebrando. O padre não é um presidente ou um “performer” que deve efectuar uns truques bonitos sobre o Altar. Ele não se encontra ali para brilhar, ele está ali para passar desapercebido, de forma a que Cristo possa brilhar. Não é ele quem reza, é Cristo que reza através dele. É por essa razão que usa aquelas vestes; para se lembrar que “veste” Cristo – ele É Cristo no Altar.
Antes do padre “vestir Cristo” (realizado pelo uso dos paramentos) lava as suas mãos. O significado desse gesto é claro. Ao fazer esse gesto o padre diz ao seu Mestre: “Dai virtude às minhas mãos, Senhor, para que ao limpá-las de todas as manchas eu possa servir-Vos com pureza de corpo e alma”.
Normalmente ele veste uma peça de vestuário quadrada, com dois laços colocados em dois lados adjacentes. É conhecida por Amito. Muitos padres colocam-na habitualmente sobre a cabeça antes de a vestir. Este gesto significa pôr um capacete sobre a cabeça. Então reza “Senhor, colocai sobre mim o capacete da Salvação, e que este possa proteger-me dos ataques do demónio”.
O Papa Bento XVI sempre disse que o Amito é como um capuz que ajuda o padre a focar-se nos rituais sagrados que está prestes a celebrar, e na voz de Deus que lhe diz a Liturgia.
Depois o padre veste uma peça de roupa branca e longa que se assemelha ao Vestário que usámos no dia do baptizado. Tanto a Alva como a Estola lembram as vestes e o cachecol que o pai agradecido deu ao filho pródigo arrependido. O padre reza: “Torna-me branco, Senhor, e limpa o meu coração; que ao tornar-me branco no Sangue do Cordeiro possa merecer uma recompensa eterna”.
Bento XVI admitiu que quando era jovem se interrogava como é que o sangue poderia tornar algo em branco, em vez de encarnado. «A resposta é» – disse ele – «o ‘Sangue do Cordeiro’ é o amor de Cristo Crucificado. E esse amor faz com que as nossas roupas sujas fiquem brancas».
Então o padre cinge um cordão à cintura. É chamado de Cíngulo, significando o autodomínio e a castidade, ambos frutos do Espírito Santo. “Cinge-me Senhor com o cinto da pureza, e diminui no meu coração o fogo da minha concupiscência, que a virtude da continência e da castidade possa residir em mim”. Que bela admissão de fraqueza, numa altura em que vivemos obcecados com o prazer.
A Estola, uma estreita faixa de tecido usada sobre os ombros, em celebrações dos sacramentos e actos sacramentais, simboliza o poder consagrado do padre.
Em alguns rituais extraordinários o sacerdote pode usar um pequeno pedaço de tecido branco, no antebraço esquerdo, chamado Manípulo. Esse tecido representa um lenço, para limpar as lágrimas e o suor. O padre diz: “Possa eu merecer, Senhor, envergar o manípulo de limpeza e tristeza de forma a que possa colher alegremente os frutos do meu trabalho”.
Finalmente a Casula é vestida por cima de tudo. É como se fosse uma capa que cobre o Ministro. A oração que acompanha este ritual lembra-nos as palavras da Carta aos Colossianos («Sobre tudo isso [coloquem] a caridade, a qual é o laço de união com a perfeição» 3:14) e o Evangelho segundo S. Mateus («A minha prisão é fácil e o meu fardo ligeiro» 11:30). A Casula, o símbolo da caridade, é usada sobre a Estola, símbolo do poder eclesiástico. Caridade acima do poder! Assim é o Papa Francisco. E sabemos que a caridade não é fácil. O padre John Hardon, S.J., disse que a caridade pode-se definir como «a prática de TODAS as virtudes pelo Amor (de Deus)», assim se eu falhar em uma só das virtudes, falharei na Caridade. Duro não? É por essa razão que necessitamos da Graça de Deus, é por isso que precisamos de Orações e dos Sacramentos. Não podemos fazer tudo sozinhos.
Então, a que conclusão chegámos? Rezem por nós, padres, para que, por essas vestes sagradas, possamos merecer o dom que Jesus Cristo, nosso Salvador e Senhor, nos concedeu. Rezem por nós para que possamos dizer: «Já não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim» (Gálatas 2:10).
Pe. José Mario Mandía