«Temos de assumir esta missão com mais responsabilidade»
A irmã Maria Lúcia Fonseca aplaude a decisão, tomada no início da semana pelo Papa Francisco, de autorizar a participação de mulheres na liturgia católica, mas entende que o decreto que oficializa práticas já enraizadas em boa parte das dioceses pelo mundo fora exige novas responsabilidades a quem se propõe ajudar à Missa ou ler a Palavra de Deus. Responsável pela catequese na ilha da Taipa, a missionária franciscana quer juntar crianças e pais numa representação da Última Ceia.
Uma grande honra, mas também uma grande responsabilidade. É assim que a irmã Maria Lúcia Fonseca, obreira das Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, recebeu o decreto papal que autoriza as mulheres a distribuir a comunhão, a servirem como acólitas e a lerem a Palavra de Deus durante a Eucaristia.
Numa boa parte das dioceses espalhadas pelos quatro cantos do mundo, há décadas que mulheres, jovens e meninas ajudam no altar. Durante a Missa, há acólitas e mãos femininas que, entre outras missões, recolhem o ofertório e distribuem a comunhão. Até ao início da semana, esse trabalho era feito sem reconhecimento, ao abrigo de legislação que especificava que apenas os homens podiam auxiliar os sacerdotes durante a celebração. Na segunda-feira, um decreto promulgado pelo Papa Francisco institucionalizou a prática, permitindo que as mulheres – sejam elas religiosas ou leigas – conduzam essas actividades de forma regulada. As alterações foram feitas através de um “motu proprio”, documento pontífice que introduz alterações no actual código de Direito Canónico. O decreto revê o documento “Ministeria quedam”, promulgado em 1972 pelo Papa Paulo VI, que apenas permitia aos homens receber os ministérios do Leitorado e do Acolitato.
Para a irmã Maria Lúcia Fonseca, as referidas alterações constituem um voto de confiança no trabalho desenvolvido, ao longo das últimas décadas, pelas mulheres no âmbito da Eucaristia, mas também as confronta com novas responsabilidades. A missionária franciscana considera o decreto papal «uma chamada de atenção para que aquilo que se fazia, se possa fazer com dignidade». «O Santo Padre oficializou esta actividade, em intercessão das mulheres e eu acho bem. É bom. Agora, nós temos que assumir [esta missão]com mais responsabilidade, preparando muito melhor as pessoas que vão agir, que vão ler, que vão fazer o ofertório, que vão interagir na Eucaristia», assumiu a religiosa. «Estas pessoas devem ter formação. Um leitor, por exemplo, não deve ir ler apenas porque sabem que ele gosta de ler. A preparação consiste em formá-los primeiro, para que percebam a Palavra de Deus, a dignidade que o altar exige, quais são as partes do altar que devem ser reservadas aos sacerdotes e aquelas que podem ser utilizadas pelas pessoas. Têm que ser informados e formados primeiro por pessoas que os consigam orientar», acrescentou a responsável pela Catequese em língua portuguesa da paróquia de Nossa Senhora do Carmo.
Para a maior parte dos católicos, o decreto papal não implica mudanças substanciais, até porque boa parte das práticas agora institucionalizadas – como o acolitato feminino ou a distribuição da comunhão – estão já amplamente difundidas e enraizadas no quotidiano da Igreja. A irmã Maria Lúcia Fonseca não espera, por isso, qualquer tipo de resistência, desde que os fiéis recebam a devida formação para que possam cumprir as funções a que se propõem, com a dignidade que lhes é devida: «Isso já sucede há muito tempo. Por exemplo, eu sou ministra da comunhão há quarenta e tal anos. Aqui em Macau, a Diocese tem tido o cuidado de anualmente dar uma formação de várias horas a todos aqueles homens e senhoras que são indigitados como pessoas idóneas para distribuir a Sagrada Comunhão, que são ministros da Sagrada Comunhão. Aqui em Macau já se faz há muito tempo. O Papa agora oficializou tudo, mas já se fazia».
UM ANO CHEIO PELA FRENTE
Entretanto, a irmã Maria Lúcia Fonseca prepara por estes dias o que se prefigura como uma verdadeira maratona espiritual. Entre Abril e Maio, a igreja de Nossa Senhora do Carmo recebe as cerimónias da Primeira Comunhão e da Profissão de Fé das crianças que frequentam a Catequese na ilha da Taipa, para além do Baptismo de sete crianças e de uma pessoa adulta. «Não é só a Primeira Comunhão. É a cerimónia do Baptismo, a Primeira Comunhão, a Profissão de Fé e a Confirmação. Só me falta ajustar uma data, porque tínhamos previsto fazer o Baptismo com a Primeira Comunhão, mas agora estamos a pensar fazer em separado, porque o Baptismo é um Sacramento de capital importância para os católicos, para os cristãos», explicou. «Estamos a pensar organizar as duas celebrações em separado, mas entre Abril e Maio vai ser tudo realizado, se Deus quiser: Baptismos, Primeira Comunhão, Profissão de Fé e Confirmação. A Confirmação vai decorrer em Macau», adiantou ainda.
Com uma tarefa que se afigura titânica pela frente, a responsável quer ainda continuar a promover um maior envolvimento dos pais e das famílias nas lides da Catequese, por meio da representação de passagens e episódios emblemáticos das Sagradas Escrituras. A opção recai agora sobre a Última Ceia. «Estou a pensar seriamente – e se for oportuno – fazer a representação da “Última Ceia”, no Domingo de Ramos, com os pais. No Natal, fizemos a festa com os filhos, com a intervenção dos pais, mas agora, para se fazer uma coisa destas da Paixão, é necessária preparação. Eu estou a pensar por os pais e as crianças a assistirem, mas uns e outros têm que saber o que vão fazer», concluiu a missionária franciscana.
Marco Carvalho