Plena comunhão contra os muros do preconceito
O Papa Leão XIV encerrou, no Domingo, a sua primeira visita à Turquia, por ocasião dos mil e 700 anos do Concílio de Niceia, com várias mensagens pela unidade dos cristãos e em favor da paz. Em Niceia, rejeitou o uso da religião para justificar a violência. A viagem prosseguiu para o Líbano, onde confiou à intercessão de São Charbel Makhlouf as «esperanças e dores» do País dos Cedros e de todo o Médio Oriente.
No primeiro discurso, em Ancara, capital da Turquia, perante responsáveis políticos e representantes da sociedade civil, o Papa alertou para um cenário de crise e de possível expansão global das guerras, que podem colocar o futuro da Humanidade «em jogo».
O momento central da viagem aconteceu na sexta-feira, 28 de Novembro: a peregrinação conjunta com o Patriarca ecuménico Bartolomeu a Iznik (antiga Niceia), local onde, em 325, se definiu o Credo que une a Cristandade, com o Papa a apelar à reconciliação das Igrejas, rejeitando o uso da religião para «justificar a guerra e a violência».
Já no sábado, em Istambul, Leão XIV e o líder ortodoxo assinaram uma Declaração Conjunta na qual reafirmam a vontade de estabelecer uma data comum para a Páscoa e se comprometem a prosseguir o diálogo teológico, reafirmando o compromisso com a «plena comunhão».
A visita ficou ainda marcada pelo momento de oração silenciosa na Mesquita Azul, onde Leão XIV seguiu os passos de Bento XVI e Francisco num gesto de respeito pelo Islão.
À pequena comunidade católica local, que representa cerca de 0,04 por cento da população, o Papa deixou uma mensagem de encorajamento, pedindo que confiem na «lógica da pequenez» e não no poder ou nos números.
A dimensão social da viagem teve o seu ponto alto na visita à Casa das Irmãzinhas dos Pobres, onde o Papa criticou uma sociedade onde predomina «a eficiência e o materialismo», em detrimento do cuidado com os mais frágeis.
Na Missa celebrada na Volkswagen Arena, Leão XIV utilizou a imagem das pontes do Bósforo para desafiar os católicos a derrubar os «muros do preconceito» e ser construtores de unidade em três níveis: dentro das suas comunidades, no ecumenismo e com outras religiões.
LÍBANO: SOB OS AUSPÍCIOS DE SÃO CHARBEL
Na segunda-feira, já em território libanês, o Santo Padre visitou o túmulo de São Charbel Makhlouf (1828-1898), no Mosteiro de Annaya.
Depois de se ter ajoelhado diante do túmulo de madeira de cedro, numa gruta iluminada por uma luz ténue, Leão XIV proferiu: «Para a Igreja, pedimos comunhão, unidade: a partir das famílias, pequenas igrejas domésticas, passando pelas comunidades paroquiais e diocesanas, até chegar à Igreja universal. Comunhão, unidade. E para o mundo, pedimos paz. Imploramo-la especialmente para o Líbano e para todo o Médio Oriente».
O Papa percorreu mais de quarenta quilómetros desde Beirute, tendo subido a cerca de mil e 200 metros de altitude até ao mosteiro onde repousa São Charbel, monge maronita canonizado por São Paulo VI em 1977 e considerado o padroeiro do País. Na sua alocução, apresentou o monge maronita como um modelo contracorrente para a sociedade actual: «O Espírito Santo moldou-o para que ensinasse a oração aos que vivem sem Deus, o silêncio aos que vivem no barulho, a modéstia aos que vivem para aparecer, a pobreza aos que buscam riquezas». Para o Pontífice, estes comportamentos são como «água fresca e pura para quem caminha no deserto».
Leão XIV depositou no local uma lâmpada, como «símbolo da luz que Deus acendeu» através do santo, e descreveu o Santuário, onde a tradição atribui milhares de milagres de cura, como a nascente de um «rio de misericórdia». «Sabemos bem – e os santos no-lo recordam – que não há paz sem conversão dos corações», alertou ainda, pedindo a intercessão de São Charbel para a conversão de todos.
A manhã cinzenta, marcada pela chuva e o frio, não afastou os milhares de pessoas que se aglomeraram no trajecto e junto ao mosteiro, para ver o Papa, que saudou a multidão desde o papamóvel. A cidade foi decorada com as cores das bandeiras libanesas e do Vaticano. Inúmeros cartazes, a evocar a presença do líder da Igreja Católica, como mensageiro de “paz” e de “esperança”, cobriam as fachadas dos edifícios, incluindo alguns ainda marcados pela devastação da explosão no porto marítimo de Beirute.
À chegada, o Papa foi recebido pelo Superior Geral da Ordem Maronita Libanesa, o abade Mahfouz Hady, e pelo Presidente da República, Joseph Aoun.
A agenda incluiu também visitas ao Santuário de Nossa Senhora do Líbano, encontros com a comunidade católica e com jovens, além de uma oração ecuménica e inter-religiosa na Praça dos Mártires.
O Líbano, país com mais de dois milhões de católicos (cerca de 45 por cento da população), já recebeu no passado as visitas de Paulo VI (1964), João Paulo II (1997) e Bento XVI (2012).
Esta viagem, sob o lema “Bem-aventurados os obreiros da paz”, visou encorajar a reconciliação num contexto regional complexo.
In ECCLESIA – Texto editado

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