Santa Sé e Fátima de mãos dadas ao mundo
O Papa Francisco consagra hoje, no Vaticano, os países da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria. Não é a primeira vez que se consagram países ou cidades a Jesus, a Nossa Senhora ou a algum santo intercessor, mas esta consagração tem um significado especial.
A ocasião, que terá lugar na Santa Sé durante a Celebração da Penitência, resulta do pedido insistente dos bispos ucranianos ao Papa, recordando o pedido de Nossa Senhora em Fátima. A decisão de Francisco confirma esta referência e, para a tornar mais explícita, anunciou simultaneamente o acto de consagração e o envio do cardeal D. Krajewski como legado pontifício, para fazer a consagração no Santuário de Fátima, no mesmo dia, à mesma hora.
Através dos núncios apostólicos, a Santa Sé pediu aos bispos e a todas as autoridades da Igreja que se associassem à consagração. Não só em Fátima se fará a consagração da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, como, por todo o mundo, milhões e milhões de corações se unirão em uníssono para pedir a Deus por esta intenção.
A Conferência Episcopal Portuguesa convocou “todas as paróquias, comunidades, institutos de vida consagrada e outras instituições eclesiais para que assumam esta intenção de consagração nas celebrações desse dia, nomeadamente nas Vias-Sacras, nas Eucaristias, na Oração do Rosário” e noutras celebrações.
A consagração da Rússia visa em primeiro lugar a salvação do povo russo. Não se dedica um povo a Nossa Senhora para o prejudicar, mas para que alcance a prosperidade na terra e no Céu. Nos tempos da ditadura comunista, o povo russo sofreu as torturas dos gulags, a privação da liberdade, a pobreza e o crime. E agora, nesta guerra injusta, além das dezenas de milhar de heroicos ucranianos que morreram, há também milhares de mortos entre os agressores. Rezamos por todos, lembrados de que é mais trágica a morte de quem pratica o mal que a de quem morre inocente.
Em face do pedido de Nossa Senhora em Fátima, de que o Santo Padre, unido a todos os bispos, consagrasse especificamente a Rússia, Pio XII, em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, consagrou o mundo, a Igreja e a humanidade e, dez anos depois, consagrou especialmente o povo russo por meio de uma Carta apostólica. No final do Concílio Vaticano II, em 1964, Paulo VI renovou a consagração da Rússia, juntamente com os bispos que tinham participado no Concílio. João Paulo II renovou estas consagrações em Fátima no dia 13 de Maio de 1982 e repetiu-a em 1983, e novamente em 1984, desta vez pedindo aos bispos de todo o mundo para se unirem a ele, para cumprir mais à letra o pedido por Nossa Senhora. Pouco depois de ser eleito, Francisco consagrou novamente o mundo a Nossa Senhora, no significativo dia 13 de Outubro de 2013, aniversário da última aparição de Nossa Senhora em Fátima.
Nem sempre estas consagrações se referiram explicitamente à Rússia, para evitar que esse gesto de oração fosse mal-entendido. Por exemplo, João Paulo II usou muitas vezes expressões como «todo o mundo e especialmente os povos que, pela sua situação, são particular objecto do vosso amor e da vossa solicitude». Sob esse ponto de vista, há hoje uma novidade porque se consagrarão a Ucrânia e a Rússia e só estes países.
O comunicado dos bispos portugueses termina com um convite, a que podemos aderir todos os dias, a partir de agora: “Por intercessão do Imaculado Coração de Maria, Rainha da Paz, continuemos a rezar pelo povo ucraniano, perseguido na sua terra e disperso pelo mundo, para que o Senhor atenda as nossas preces e os esforços das pessoas de boa vontade, e lhe conceda a paz e o regresso a suas casas”.
A cerimónia tem lugar às 16:00 horas em Fátima, Portugal (17:00 horas no Vaticano e meia-noite em Macau). Onde quer que estivermos, vamos participar intensamente neste acontecimento histórico.
José Maria C.S. André
Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa
LEGENDA:Papa João Paulo II e Irmã Lúcia, vidente de Fátima