Eusébio de Vercelli: a aproximação entre a vida clerical e a vida monástica
De França, passamos agora para a Sardenha, em Itália, onde Eusébio de Vercelli nasceu de uma família nobre, provavelmente por volta de 283. Depois do pai ter sido martirizado, a mãe levou-o consigo para Roma. Manteve a sua fé e foi nomeado leitor. Era muito estimado, pelo que em 345 foi escolhido como bispo de Vercelli, no Norte de Itália. Uma vez que muitos ainda não tinham abraçado a Fé, desenvolveu um grande trabalho de evangelização.
Santo Eusébio inspirou-se em Santo Atanásio, especialmente na sua obra “Vida de Santo António” (ver PAIS DA IGREJA, 24), o que o levou a fundar na sua diocese uma comunidade sacerdotal que seguia o estilo de vida de qualquer comunidade monástica.
“Segundo o testemunho de Santo Ambrósio (Carta 63, Ad Vercellenses), ele [Eusébio] foi o primeiro bispo do Ocidente que uniu a vida monástica e a vida clerical. Conduziu com o clero da sua cidade uma vida comum, segundo o modelo dos cenobitas orientais (Santo Ambrósio, Carta 81 e Sermão 89). Por esta razão, os Cónegos Regulares de Santo Agostinho honram-no, juntamente com Santo Agostinho, como seu fundador (Proprium Canon. Reg., 16 de Dezembro)” (Ott, Michael. “Santo Eusébio”. A Enciclopédia Católica. Vol. 5 http://www.newadvent.org/cathen/05614b.htm).
O monaquismo cenobítico (ou coenobítico) é uma tradição monástica que dá ênfase à vida comunitária. Um grupo de monges que vive em comunidade é frequentemente designado por “cenóbio”.
O Papa Bento XVI observou que com “a sua sólida formação na fé nicena, Eusébio fez tudo o que estava ao seu alcance para defender a plena divindade de Jesus Cristo, definida pelo Credo Niceno como ‘um só ser com o Pai’. Para este fim, aliou-se aos grandes Padres do século IV – especialmente a Santo Atanásio, porta-estandarte da ortodoxia nicena – contra a política filo-ariana do Imperador” (Audiência Geral de 17 de Outubro de 2007).
A sua posição firme contra o Arianismo colocou Eusébio em conflito com o Imperador Constâncio II (337-361), que via o Arianismo como um instrumento político útil. Tal como Hilário, Eusébio recusou-se a acatar a ordem do Imperador de condenar Atanásio e, por isso, tal como muitos outros Bispos do Oriente e do Ocidente (como Atanásio, Hilário de Poitiers e Ósio de Córdova), foi enviado para o exílio.
Mas, também tal como Hilário (cf. PAIS DA IGREJA, 31), o seu tempo de exílio não foi desperdiçado. De facto, uma pessoa disposta encontra sempre oportunidades para fazer o que tem de ser feito: “Em Citópolis na Palestina, onde foi confinado entre 355 e 360, Eusébio escreveu uma página maravilhosa da sua vida. Também aqui fundou um cenóbio com um pequeno grupo de discípulos, e daqui cuidou a correspondência com os seus fiéis do Piemonte, como demonstra sobretudo a segunda das três Cartas eusébianas reconhecidas como autênticas. Em seguida, depois de 360, foi exilado na Capadócia e em Tebaide onde sofreu maus-tratos físicos” (Papa Bento XVI, Audiência Geral de 17 de Outubro de 2007).
Após a morte de Constâncio II, em 361, Eusébio foi autorizado a regressar à sua Sé. No ano seguinte, Atanásio convidou-o a participar no Concílio de Alexandria, onde foi decidido perdoar os bispos arianos, mas com a condição de regressarem ao estado secular. Eusébio pôde exercer o seu ministério episcopal até à morte, em 371.
“Santo Eusébio é hoje recordado não só como um acérrimo defensor da verdadeira natureza de Cristo, mas também como um santo pastor que suportou corajosamente o exílio e muitos sofrimentos pela sua fé. Por esta razão, é considerado um dos grandes confessores da Igreja primitiva. Durante a sua vida, exerceu o seu ministério entre alguns dos outros grandes confessores da Igreja – um ‘confessor’ que sofreu pela fé, mas não sofreu o martírio. Entre eles, Santo Atanásio de Alexandria, São Basílio Magno, São Gregório de Nazianzo, São Gregório de Nissa, Santo Hilário de Poitiers e Santo Ambrósio de Milão” (https://mycatholic.life/saints/saints-of-the-liturgical-year/august-2-saint-eusebius-of-vercelli-bishop/).
Pe. José Mario Mandía