Defensor apaixonado da Encarnação
De Cesareia, voltemos a Alexandria. Quando o bispo Alexandre (cf. PAIS DA IGREJA, 22) morreu, em 328 d.C., sucedeu-lhe Atanásio, que se revelou o mais feroz opositor da heresia ariana (cf. PAIS DA IGREJA, 22), um erro que ainda hoje se manifesta sob diferentes formas.
O Papa Bento XVI afirmou: “Atanásio foi sem dúvida um dos Padres da Igreja antiga mais importantes e venerados. Mas sobretudo este grande santo é o apaixonado teólogo da encarnação do Logos, o Verbo de Deus, que como diz o prólogo do quarto Evangelho «se fez carne e veio habitar entre nós» (Jo., 1, 14)” (Audiência Geral de 20 de Junho de 2007).
No seu “De Incarnatione”, Atanásio escreveu que o Verbo de Deus “se fez homem para que nos tornássemos Deus; ele fez-se visível no corpo para que tivéssemos uma ideia do Pai invisível, e ele próprio suportou a violência dos homens para que nós herdássemos a incorruptibilidade (54, 3)”.
“A Igreja grega chamar-lhe-ia mais tarde ‘o Pai da Ortodoxia’, enquanto a Igreja romana o conta entre os quatro grandes Padres do Oriente” (Quasten, III, pág. 20).
“Nascido provavelmente em Alexandria, no Egipto, por volta do ano 300, Atanásio recebeu uma boa educação antes de se tornar diácono e secretário do Bispo da metrópole egípcia, Alexandre. Estreito colaborador do seu Bispo, o jovem eclesiástico participou com ele no Concílio de Niceia, o primeiro de carácter ecuménico, convocado pelo imperador Constantino em Maio de 325 para garantir a unidade da Igreja” (Papa Bento XVI, na Audiência Geral de 20 de Junho de 2007).
Atanásio demonstrou uma grande coragem, mesmo quando a sua vida estava em perigo. Defendeu a fé professada em Niceia. Por isso, os arianos consideravam-no como o seu principal inimigo. Conseguiram que o Imperador e as autoridades eclesiásticas corruptas ficassem do seu lado. “Por cinco vezes foi banido da sua sede episcopal e passou mais de dezassete anos no exílio” (Quasten, III, pág. 20). Apesar da sua oposição ao Arianismo, foi tolerante e paciente para com aqueles que se deixavam enganar pela falsa doutrina.
Os arianos ganharam o apoio do Imperador Constantino, porque este (e depois o seu filho Constâncio II) “não se interessava tanto pela verdade teológica como pela unidade do Império e dos seus problemas políticos, pretendia politizar a fé, tornando-a mais acessível segundo a sua opinião a todos os seus súbditos no Império” (Papa Bento XVI, na Audiência Geral de 20 de Junho de 2007).
Mesmo no exílio, porém, Atanásio conseguiu difundir a doutrina correcta. Além disso, levou consigo os ideais da vida monástica vivida pelo grande eremita Santo António (251-356), que foi seu amigo íntimo e é conhecido como um dos Padres do Deserto. António é também conhecido por outros nomes: António do Egipto, António Abade, António do Deserto, António Anacoreta, António Eremita e António de Tebas. É também considerado o pai de todos os monges.
Quando regressou pela última vez a Alexandria, Atanásio passou os seus últimos anos a trabalhar para restabelecer a paz e reorganizar as comunidades cristãs. Pôde continuar a escrever e a pregar sobre o tema da Encarnação, que defendera durante toda a sua vida.
O Papa Bento XVI considera que “Atanásio é também autor de textos meditativos sobre os Salmos, depois muito difundidos e sobretudo de uma obra que constitui o ‘best seller’ da antiga literatura cristã: a Vida de Antão, isto é, a biografia do abade Santo Antão, escrita pouco depois da morte deste santo, precisamente enquanto o Bispo de Alexandria, exilado, vivia com os monges do deserto egípcio” (Audiência Geral de 20 de Junho de 2007). O livro teve grande aceitação e inspirou a vida monástica tanto na Igreja Oriental como na Igreja Ocidental.
A 2 de Maio de 373, Atanásio consagrou Pedro II como sucessor do seu cargo. Nesse dia, morreu tranquilamente, rodeado pelo seu clero e pelos fiéis.
Pe. José Mario Mandía