KAREN ARAÑO TAGULAO

KAREN ARAÑO TAGULAO, COORDENADORA NO INSTITUTO DE CIÊNCIA E AMBIENTE DA UNIVERSIDADE DE SÃO JOSÉ

«A área dos mangais está a aumentar gradualmente»

Organizada pelo Instituto para os Assuntos Municipais, a 43.ª Edição da Semana Verde de Macau decorreu na ilha da Taipa, durante os dias 16 e 17 de Março. Este ano, a Semana Verde realizou-se sob o tema “Transmissão do amor pela arborização para a construção de uma bela cidade”, com o agendamento de várias actividades, entre as quais a já habitual plantação de árvores. A Universidade de São José foi convidada, mais uma vez, a participar neste evento anual. O CLARIM entrevistou a professora Karen Araño Tagulao, coordenadora do Programa de Mestrado em Ciências e Gestão do Ambiente, que falou sobre a Semana Verde e revelou os objectivos do Instituto de Ciência e Ambiente da USJ.

O CLARIM – Há dias teve lugar a Semana Verde de Macau. A Universidade de São José foi convidada a participar na iniciativa. Que tarefas vos coube realizar?

KAREN ARAÑO TAGULAO – A Semana Verde de Macau é um evento anual organizado pelo Instituto para os Assuntos Municipais e realiza-se, normalmente, no mês de Março, quando o Ambiente em Macau – especialmente por estarmos numa região subtropical – está em plena floração. Esta é a melhor época para organizar uma Semana Verde, pois é Primavera; as plantas florescem e trazem consigo mais espécies de animais, como aves, insectos, etc. O objectivo é sensibilizar a comunidade para a protecção ambiental. Daí serem plantadas novas árvores e plantas. A Universidade de São José foi convidada pelo IAM a participar na Semana Verde, por meio de expositores e várias actividades, com o intuito de dar a conhecer ao público em geral os resultados da sua investigação académica. Entre outras acções, montámos um tanque de água interactivo com o qual demonstrámos como os mangais podem proteger a linha costeira de Macau, ao atenuarem o impacto das ondas. Também procurámos realçar a biodiversidade dos mangais, recorrendo a fotografias e jogos interactivos. Este ano centrámo-nos com mais afinco na ecologia das zonas húmidas e em questões como a conservação dos mangais, ecossistemas de água doce, gestão da água, utilização sustentável do mar, pesca sustentável, poluição produzida pelos plásticos e, ainda, a forma como as zonas húmidas podem ajudar a resolver os problemas em torno dos recursos hídricos.

CL – Todos os anos, um dos pontos altos da Semana Verde é a plantação de árvores. Depreendemos que esta vez não foi excepção…

K.A.T. – Este ano, o Instituto para os Assuntos Municipais centrou-se no reforço dos mangais, tendo sido plantadas centenas de plantas, o que irá contribuir para acelerar o processo de recuperação da diversidade natural das zonas costeiras da Taipa e de Coloane. A taxa de sobrevivência das plantas de mangal que plantámos nos últimos anos tem sido muito elevada, pelo que a área dos mangais está a aumentar gradualmente. No entanto, a poluição nas zonas costeiras continua a constituir uma ameaça para estes ecossistemas. Apesar da sua forte adaptabilidade ao meio e boa resistência à poluição, alguns mangais estão a ficar murchos, pois estão sufocados pelos plásticos. Esta é uma das áreas de estudo em que me tenho vindo a especializar nos últimos anos. Estes eventos são óptimos para promover a importância da plantação de plantas de mangal. É muito encorajador ver o envolvimento dos estudantes do nosso Instituto, bem como dos alunos de outros departamentos da USJ.

CL – Que disciplinas são leccionadas pelo Instituto de Ciência e Ambiente da USJ?

K.A.T. – O Instituto oferece quatro programas principais: uma licenciatura em Ciências do Ambiente, um mestrado em Ciências e Gestão do Ambiente, um mestrado em Neurociências e Comportamento, e um doutoramento em Ciências. No futuro, haverá um doutoramento em Biotecnologia – o lançamento oficial está previsto para o próximo ano. O principal objectivo do Instituto é formar profissionais em Macau que possam trazer competências práticas à comunidade local, por forma minorar (ou mesmo resolver) os problemas ambientais com que Macau se depara.

CL – O que é a ciência ambiental? Sempre que a palavra “Ambiente” é mencionada, as pessoas associam-na a protecção do Ambiente…

K.A.T. – Também, mas não só… É mais do que isso! O nosso programa inclui algumas ciências básicas, relacionadas com ecologia e ecossistemas. Oferecemos também cursos sobre poluição e outros que ajudam a compreender o Ambiente, incluindo estes a Biologia, a Química e a Física. Se não tivermos conhecimentos básicos nestas áreas, muito dificilmente poderemos gerir o Ambiente de forma eficaz. Para além disso, oferecemos programas e disciplinas de natureza mais prática, como a licenciatura e mestrado em tecnologia ambiental, poluição e gestão de resíduos. Portanto, não se trata apenas de protecção ambiental. Há que ir à raiz do problema, aplicar as medidas mais eficazes e resolvê-los de forma eficaz. Por vezes, deparamo-nos com alguns mangais em estado quase terminal, ou seja, mangais que estão a morrer. Sabendo as razões por detrás do problema e o modo de o resolver, a solução por vezes torna-se simples.

CL – Falou há pouco que vai ser lançado um Bacharelado em Biologia e Biotecnologia, uma área de que muito ouvimos falar nos últimos três anos, devido à pandemia de Covid-19. Mas, afinal, o que é a Biotecnologia?

K.A.T. – É uma combinação de conhecimentos biológicos, sendo que a Biologia é o estudo da vida. Portanto, basicamente, estamos a falar sobre seres vivos; sobre organismos que vão desde bactérias a vírus, até às plantas e aos animais. A Biotecnologia tem a ver com a utilização destes organismos e seus derivados. A Biotecnologia é aplicada à Indústria Farmacêutica. Por exemplo, no contexto da pandemia, sem a Biotecnologia não teriam sido desenvolvidos medicamentos, nem vacinas. Mas não só! A Indústria Alimentar também precisa da Biotecnologia. Como podemos produzir uma maior variedade de alimentos para nosso consumo? Como podemos utilizar produtos biológicos para resolver problemas ambientais na nossa vida quotidiana? Trata-se, portanto, de uma área muito diversificada, com ampla aplicação, que pessoalmente considero ser muito importante para a vida das pessoas e para o desenvolvimento de Macau.

J.Y.

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