«Estamos feridos, ofendidos e tristes».
O estilo irreverente de Rodrigo Duterte, Presidente das Filipinas, causa invariavelmente grande controvérsia, tanto dentro como fora de portas.
O padre Leonard Dollentas, missionário filipino ao serviço da diocese de Macau, explicou a’O CLARIM a razão para a Igreja Católica evitar responder às polémicas que envolvem o Presidente Duterte, pois tudo gira à volta da politização.
«Depois de ser eleito com dezasseis milhões de votos, os esforços de Duterte são surpreendentemente satisfatórios para muitos», realçou o sacerdote filipino, valendo-se do índice de satisfação lançado no primeiro trimestre de 2018, que se situava na casa dos 56 por cento.
«Para não ficarem para trás, os seus opositores estão sempre prontos e equipados para lançar-lhe golpes com palavras ainda mais hostis», vincou, lembrando «que a política é uma competição sem fim».
Nesse sentido – conforme frisou – há sempre uma aversão interminável aos opositores políticos, pois são vistos como depravados, corruptos, imorais e implacáveis, enquanto o resto são males menores. «Mas isso nem sempre é verdade – podemos encontrar muitas pessoas na política e na governança filipina que são correctas e responsáveis», sublinhou.
O padre Dollentas considera que «num país democrático somos livres para gritar o quão ruim é o Presidente, mas também temos que admitir a quantidade de coisas boas e as mudanças que foram iniciadas por ele».
Apesar de tudo, Duterte não tem poupado a Igreja Católica, apelidando-a como “a instituição mais hipócrita” que conhece. Há poucos dias chamou Deus de “estúpido”. «Muitos admitem sentir repulsa e ódio contra o Presidente e os seus aparentes lapsos. Se desafiamos a sua ira com vingança, é algo contraproducente, que não vai dissipar a confusão», assinalou.
«Estaríamos apenas ao mesmo nível dos seus opositores e apoiantes que continuamente se criticam entre si», explicou o padre Dollentas, para quem «esta é uma oportunidade para se dar um passo em frente, não tanto para odiar o pecado e amar o pecador de forma sentimental, mas para odiar o pecado com ódio perfeito e amar o pecador com compaixão perfeita».
A atitude de “amar o pecador” não significa ser agradável de maneira superficial, mas sim ter uma profunda compaixão cristã que o vê como um pobre e ferido filho de Deus que precisa da Sua misericórdia e amor. «É preciso dizer-lhe que estamos feridos pelas ofensivas palavras que vêm da sua “boca obscena”, que estamos ofendidos com o seu “estilo irreverente” e tristes com as suas “observações sexistas e maliciosas”», afirmou o padre Dollentas.
A fórmula que propõe é seguir em frente e deixar a politização de lado: «Se o Presidente apenas modificasse a sua postura e respeitasse o cargo mais importante que lhe confiámos, os seus opositores teriam menos a dizer contra ele e os filipinos aprenderiam a admirá-lo ainda mais. Podia até mesmo impulsioná-lo para o cume das honrarias».
Nesse sentido, notou que os filipinos, incluindo aqueles que estão em Macau, têm o desafio de acabar com a politização de tudo. «Que haja discordâncias dentro do meio saudável da política e, ao mesmo tempo, que todos avancem em busca da excelência no trabalho, nas nossas aptidões e nos relacionamentos, e encontrem Deus no meio do nosso trabalho», concluiu.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA