A semana passada foi marcada por um facto inédito, senão muito pouco habitual.
Ao largo de Peniche, no espaço aéreo sob jurisdição portuguesa, foram avistados dois aviões militares russos, de grande porte, sem que tenham avisado as autoridades portuguesas da sua posição e intenção.
Prontamente, a nossa esquadra de F-16 (2…) partiu ao seu encontro e, brandindo os valores da defesa da nossa soberania nacional, obrigou-os a mudar a rota, rechaçando qualquer tentativa de ataque perverso à nossa “zona exclusiva”… de surf!
No entanto, esta história, por mim gracejada pelo insólito e sem qualquer intenção de desvalorizar a atitude dos nossos militares, não esconde a importância dos factos.
Na quarta-feira passada dois bombardeiros russos Tupolev TU-95 entraram no espaço aéreo sob a nossa responsabilidade e, sem aviso prévio, nem resposta às solicitações dos nossos pilotos dos caças F-16, foram conduzidos por estes últimos para fora do nosso espaço de intervenção. Dois dias depois voltaram a “passear-se” até Sagres e, após nova intercepção da nossa força aérea, lá seguiram “viagem”. Embora só duas horas depois!?
Ouvi alguns breves e circunstanciais comentários sobre o assunto e o “assunto” morreu.
Como também não vi, nem ouvi, qualquer atitude do nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros, protestando em Moscovo contra esta intromissão e desrespeito pelas normas internacionais e só veio a público (igualmente sem resposta portuguesa) a afirmação da embaixada russa em Lisboa de que os seus aviões não tinham violado o espaço aéreo português, só posso tirar uma conclusão: os nossos pilotos enganaram-se. Não eram dois aviões militares russos, eram dois OVNIS!
Bem certo que, marcianos ou russos, possam estar interessados nas “ondas” de Peniche, que fazem do nosso mar local uma verdadeira atracção turística internacional, é preciso termos algum cuidado com estes “amigos”, avisando-os previamente de que não poderão lançar as suas “pranchas de surf” no território, como o fizeram na Crimeia e, mais recentemente, em Donetsk e Lugansk, sem terem autorização para frequentar as nossas “praias”. O máximo que a lei portuguesa lhes permite é adquirirem um “Visa Gold”, por meio milhão de euros, na compra de uma casa com vista para o mar (que é nosso).
Além disso, se os pilotos destas naves invasoras não responderam aos avisos dos pilotos portugueses, por não falarem Português, seria uma boa altura para, no caso de serem russos, apresentarem o problema linguístico ao Presidente Putin que, no momento, está a alterar os manuais escolares russos, justificando que têm falta de sentido patriótico.
Se o “Urso” quer vir para climas quentes é melhor começar a aprender a comunicar correctamente com os autóctones e não “à dentada” na sua soberania nacional.
Estas “beliscadelas” no espaço aéreo europeu, por parte de aeronaves militares russas, tem tido ultimamente uma inusitada frequência, sem que se apurem convenientemente os propósitos, embora se percebam as causas.
Provocação? Desafio? Preparação? Afirmação? Enfim, um sem número de motivos que a crise ucraniana suscitou e que podem ter aberto o “apetite” da antiga potência regional para “voos mais altos”?
Só que já não estamos em 1945, e um novo tratado de Potsdam e a “Guerra Fria” que se lhe seguiu já não seria possível sem uma “Guerra Quente”, com perdas incalculáveis para toda a humanidade.
Mais do que as alianças bélicas é preciso que a diplomacia internacional funcione para resolver eventuais conflitos. Mas não à custa de um qualquer “Chamberlain” que, em 1938, entregou a Checoslováquia a Hitler.
Não estamos em guerra com a Rússia, mas não sei se o contrário não é verdadeiro. Pelo menos no espírito e na acção dos seus dirigentes.
Amigos, de Peniche ou não, respeitam os limites da amizade.
Luis Barreira