“Big Bang” aponta ao Criador.
A história da criação não é exclusiva dos judeus e dos cristãos, faz parte da memória colectiva que passou de geração em geração desde Adão e Eva, mas por vezes alterada e “corrompida”. Os povos primitivos mantinham a tradição de um deus criador, a história da criação do céu e da terra por um ser divino. Num poema épico encontrado no Iraque, em Mosul, no séc. XIX, de nome “Enûma Elish”, que significa “quando nas alturas” – poema babilónico que narra a origem do mundo – encontramos alguns paralelos com o relato do Génesis. Isto demonstra que houve um tempo em que toda a humanidade cria na mesma coisa: acreditava na origem do Universo por um deus.
As ciências bíblicas ensinam-nos que o alicerce de toda a escritura, a sua fundação, está no Génesis, dos capítulos 1 a 12 – Génesis é um termo grego que significa “origem”, “nascimento”.
A existência do Diabo, a origem do pecado, a origem do povo de Israel, a descendência de Abraão (a semente dos ancestrais do Messias), donde viria a história da Salvação, surge no Génesis. Se removermos esta parte das escrituras, tudo o mais se perde.
Talvez por essa razão há tantos ataques a estes capítulos. A confirmação da existência de Deus, a origem do Universo e a criação do homem são dos temas mais atacados em todas as esferas da sociedade, até mesmo nas escolas.
Assim começa o Génesis: «No princípio, quando Deus criou os céus e a terra…», aqui a palavra “princípio”, em Hebraico, no Antigo Testamento, era associada à palavra “fim” (conotação escatológica), sugerindo um começo que vai ter um fim, como nos advertem os exegetas. Este é o principio da criação, onde se inicia a história humana: o tempo, o espaço, a matéria.
Deus disse: «Faça-se a luz», (fiat lux – em Latim) e fez-se luz, a criação pelo “fiat”. Deus permeia todo o Universo, inatingível à nossa compreensão, Ele é o Alfa e o Ómega.
Nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, no entanto, esses atributos que nos são dados constituem um mistério, no seu modo e dimensão. Como tal, não devemos ferir a dignidade do próximo, igualmente feito à imagem e semelhança de Deus. Jesus Cristo deu-nos um novo mandamento: «que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei» (Jo, 13:34-35).
O homem, feito à imagem e semelhança de Deus, não podia deixar de espelhar a natureza divina. Deus parece ter colocado o “desenho” do Universo no olhar luzente de cada um de nós, para que, intrinsecamente, em segredo, cada um de nós “carregue” e seja uma imagem do todo. Assim, vemos o quão importante somos para Deus: cada homem, cada mulher, espelha “Deus” nos seus olhos.
Repare-se na configuração visual dos nossos olhos desde a íris, pupila, até à extremidade do círculo que as contem, normalmente tangente à nossa vista, junto às pestanas. Se compararmos com a ilustração aqui presente da configuração do Universo, não podemos deixar de nos admirar e envolver nos sinais que o Criador parece ter colocado em tudo, “uma corda no labirinto” que nos leva a Ele. Perdidos nos achamos, procurando encontramos.
O próprio apóstolo Paulo adverte-nos que o espírito de Deus habita em nós: «Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?» (1 Cor, 3:16). E, aliás, na sua segunda carta aos Coríntios, reforça a imagem de Deus em cada um de nós: «E nós todos que, com o rosto descoberto, reflectimos a glória do Senhor, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória, pelo Senhor que é Espírito» (2 Cor, 3:18).
Filosofias e crenças
A visão que temos sobre as origens define como consideramos o Universo à nossa volta: quem nós somos, o modo como devemos viver e o que esperamos da vida.
Há várias visões religiosas, sendo que as três principais visões mundiais são: Teísmo (Deus fez tudo), Panteísmo (Deus é tudo) e Ateísmo (Não há Deus).
Os ateístas materialistas afirmam que tudo surgiu do acaso, de uma grande explosão, o chamado “Big Bang”, defendendo que não há propósito em toda a existência, mesmo em cada um de nós – uma terra de ninguém. Num universo que surgiu do acaso não temos responsabilidade sobre nada; o homem deve explorar ao máximo, retirando tudo o que o mundo lhe oferece enquanto puder.
Com este pensamento ateísta vemos o caos instalado em todas as esferas da sociedade: caos social, económico, político… Isto torna o homem moderno infeliz. O homem moderno deixou de agradecer a Deus pela chuva, pela colheita, pelo Sol, pelas estrelas, pela vida… O homem moderno não louva a Deus pela Sua criação. O Universo, que nos deveria deslumbrar, torna-se frio. A nossa mente, desde a nossa infância, é cheia, continuamente, com mentiras quando nos dizem que tudo o que existe ao nosso redor é fruto do acaso: o existencialismo, a rejeição de que Deus é o criador.
Os existencialistas criaram uma filosofia de vida dominante no mundo moderno, a qual defende que fomos lançados neste mundo e não há nenhum propósito. Jean-Paul Sartre defendeu que, ao contrário das máquinas que foram criadas com um propósito, o ser humano não tem propósito para existir, só tem que disfrutar da vida. E foi nesta linha de pensamento que surgiu o extremo do existencialismo, o hedonismo. Este afirma: já que estamos aqui para viver, cada um como quiser, vamos procurar o prazer, todas as formas de prazer, porque no fim tudo é efémero, tudo acaba para sempre.
O evolucionismo teísta defende que Deus criou efectivamente as coisas, mas num estado, diga-se, primitivo, e que depois de certa forma tudo foi evoluindo. No entanto, Deus não criou os seres incompletos, estava tudo pronto: os seres aquáticos, as aves, os animais… Deus separou e criou todas as espécies e fez com que elas se multiplicassem, pelo que não faz sentido a ideia evolucionista da criação de uma espécie transitando para outra, uma ideia de evolução que se deu aos saltos.
Por outro lado, se a criação baseia-se na fé e o evolucionismo baseia-se na ciência, temos que chegar à conclusão que, como não se pode comprovar cientificamente a origem do Universo, tudo se resume a uma questão de fé: sejamos crentes em Deus, sejamos crentes no “Big Bang”. Quando não se crê em Deus está-se condenado a crer em qualquer coisa, alguém já o disse.
Em Hebreus pode-se ler: «Ora a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se veem. Foi por ela que os antigos foram aprovados. Pela fé, sabemos que o mundo foi organizado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê provém de coisas não visíveis» (Heb, 11:1-3).
Ciência e fé, o paradigma
David escreveu no Salmo 19: «Os céus proclamam a glória de Deus; o firmamento anuncia a obra das suas mãos». Em Isaías podemos ler: «A quem, pois, me comparareis, que seja igual a mim?, pergunta o Deus Santo. Levantai os olhos ao céu e vede! Quem criou todos estes astros? Aquele que os conta e os faz marchar como um exército. A todos Ele chama pelos seus nomes. É tão grande o seu poder e tão robusta a sua força, que nem um só falta à chamada» (Is, 40:25-26).
Há pelo menos cem bilhões de estrelas na nossa galáxia, e a distância mais curta entre elas é superior a quatro anos-luz. O número de estrelas em todo o Universo é quase igual ao numero de grãos de areia em todas as praias da Terra. Tempo, espaço e matéria passaram a existir no “Big Bang”.
O argumento cosmológico fala do início do Universo. Segundo esta teoria, tudo o que teve um começo teve uma causa. Se o Universo teve um começo, consequentemente teve uma causa.
Foi um padre jesuíta, Georges Lemaître, que formulou a visão “científica” da origem do Universo, que hoje é conhecida como “Big Bang”.
Georges Lemaître nasceu a 17 de Julho de 1894 em Charleroi, na Bélgica. Foi um padre belga da Igreja Católica, astrónomo, cosmólogo e físico. É geralmente citado como o primeiro a elaborar a formulação definitiva da ideia de um universo em expansão, que viria a ser conhecida como a teoria do “Big Bang” da origem do Universo, que o próprio Lemaître chamou de “hipótese do átomo primordial” ou o “ovo cósmico”.
Albert Einstein, considerado uma das mentes mais brilhantes da humanidade, vindo de uma família judia, numa das suas biografias, veio demonstrar o seu lado espiritual no fascínio pelo Universo; crente numa fonte inteligente e criadora, a que chamamos Deus. Assumindo-se judeu, Albert Einstein não deixou de expressar a sua admiração pela figura de Jesus Cristo, dizendo: «A resplandecente figura do Nazareno fascina-me. Ninguém pode ler os Evangelhos sem sentir a presença real de Jesus. A sua personalidade pulsa em cada palavra. Não há nenhum mito que esteja embebido de tanta vida!».
Em 1916 Einstein questionou os seus cálculos ao ver que a teoria da relatividade apontava para um resultado que iria contra a sua convicção de que o Universo era estático, eterno e auto-existente. Apesar de introduzir uma constante cosmológica nas suas equações, que muitos mais tarde chamaram de “factor disfarce”, a fim de tentar demonstrar que o Universo é estático, evitando a ideia de um início absoluto, Einstein acabou por observar, anos mais tarde, por si mesmo, o irrefutável: o Universo estava mesmo em expansão, como havia predito a teoria da relatividade. Mais tarde, Einstein chegou a admitir que a constante cosmológica tinha sido o pior erro da sua vida, afirmando que queria saber como Deus havia criado o mundo: «Não estou interessado neste ou naquele fenómeno, no espectro deste ou daquele elemento. Quero conhecer os pensamentos de Deus, o resto são detalhes».
Uma outra linha de comprovação científica de que o Universo teve um início foi descoberta por casualidade em 1965. Arno Penzias e Robert Wilson detectaram uma estranha radiação na antena do Laboratório Bell, em Holmdel, Nova Jersey EUA – o brilho avermelhado da explosão da bola de fogo do “Big Bang” – a qual foi dada como uma das mais incríveis descobertas do século XX e que lhes valeu o Prémio Nobel.
Arno Penzias diria: «A astronomia leva-nos a um acontecimento único, um universo que foi criado do nada e cuidadosamente equilibrado para prover com exatidão as condições requeridas para a existência da vida. Na ausência de um acidente absurdamente improvável, as observações da ciência moderna parecem sugerir um plano por trás de tudo ou, como alguém poderia dizer, algo sobrenatural».
O próprio apóstolo Paulo, no início da sua carta aos Romanos, escreveu: “[…] o que de Deus se pode conhecer está à vista deles, já que Deus lho manifestou. Com efeito, o que é invisível Nele – o seu eterno poder e divindade – tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras. Por isso, não se podem desculpar” (Rm, 1:18-20).
A “Arca de Noé” e a sua escassa tripulação continua a navegar no dilúvio global em que vivemos – não o das águas profundas – mas um dilúvio que cega a consciência humana e nos desvia de Deus, o dilúvio do materialismo, do ego, da vaidade, da cobiça, do egoísmo narcisista que espelha o caos da humanidade e que não olha a meios para alcançar os seus objectivos.
Mesmo perante a evidência, o homem insiste em rejeitar Deus, e destrói tudo o que lhe foi oferecido gratuitamente, no seu modo existencialista de viver.
Será que ainda vamos a tempo de resgatar um planeta, a casa global de todos, que começa a desabar em todas as suas fontes vitais?
Podemos reflectir nisto – a responsabilidade dessa mudança, certamente começa em cada um de nós: «Sê a mudança que queres ver no Mundo», disse um dia Mahatma Gandhi.
Miguel Augusto