Olhando em Redor

O que poucos sabem sobre a Tailândia.

É triste, para não dizer confrangedor, ler e ouvir chorrilhos de mentiras de pessoas, ou agentes de informação mal-intencionados, bem como aturar o desconhecimento de quem pouco sabe o que é a Tailândia.

Após o passamento do rei Bhumibol Adulyadej – lê-se “Pumipon Aduniadet” – a Junta Militar, a Monarquia e o próprio monarca falecido, bem como o seu sucessor, foram alvo dos mais cerrados ataques de certa Imprensa ocidental, ou até mesmo de indivíduos com “voz” em muitas sociedades, que decididamente não se livram daqueles tiques colonialistas que tornaram o Ocidente num dos problemas do mundo.

Há a ideia generalizada que a Junta Militar constitui um grande foco de instabilidade na Tailândia e que, no seu tempo de vida, o rei Bhumibol Adulyadej (Rama IX) deu cobertura a golpes militares, como terá acontecido com o último, a 22 de Maio de 2014. E há também quem critique Rama IX, porque embora fosse um dos monarcas mais ricos do planeta, deixou muitíssimos tailandeses na pobreza.

Quanto ao sucessor, Maha Vajiralongkorn – lê-se “Maha Wachiralongkon” – é descrito como um playboy, com excentricidades que não fazem dele a pessoa mais indicada para subir ao trono real.

Por fim, há quem não entenda muito bem a razão de Bhumibol Adulyadej ser tão venerado pelos seus, algo que na perspectiva de milhões de ocidentais é vista como pura subserviência e falta de liberdade de expressão que afecta o povo tailandês. Já para não referir a lei de lesa-majestade, que segundo o entendimento ocidental continua a ensombrar o País dos Sorrisos.

 

Um pouco de História

Nos seus séculos de existência, a Tailândia (antigo Sião) sempre conseguiu livrar-se de ser colonizada por qualquer potência ocidental, pois foi ocupada a espaços pelos invasores birmaneses e japoneses, fazendo apenas concessões territoriais aos impérios coloniais da França e da Grã-Bretanha, o que lhe permitiu manter a soberania nacional inviolável.

A Tailândia desempenha desde há muito tempo um papel estratégico extremamente importante no contexto do Sudeste Asiático. Todavia, a cobiça da Grã-Bretanha originou um vácuo no “sul profundo”, agora a braços com o separatismo nas províncias de Narathiwat, Pattani e Yala…

Por outro lado, além de contribuir para que a França perdesse a Indochina durante a Segunda Guerra Mundial, a Tailândia também apoiou as tropas americanas durante a Guerra do Vietname.

Daí para a frente, libertou-se lentamente do seu papel estratégico em relação à influência e hegemonia dos Estados Unidos na região, procurando diversificar as relações com outras nações, em vez de estar dependente dos americanos, sendo disso prova o seu arsenal defensivo, com soluções chinesas, russas, europeias e até mesmo do Médio Oriente.

De igual forma, estreitou laços de cooperação no Sudeste Asiático, com preponderância ao nível económico e comercial com a República Popular da China, promovendo de certa forma a estabilidade nesta parte do globo.

E porque não querem que a Tailândia saia da sua esfera de influência, até porque o principal objectivo é isolar a República Popular da China das nações vizinhas, os Estados Unidos optam por minar e desestabilizar o País por dentro, através de ONG por si financiadas ou de movimentos políticos que representem os seus interesses, razão pela qual são frequentes os ataques aos mais directos adversários dos interesses americanos: a Monarquia e os militares.

Nesta linha de ideias, também é fácil perceber a razão do laborioso trabalho dos poderosíssimos Meios de Comunicação Social – CNN, BBC, Reuters, Associated Press, etc. – que moldam a opinião pública de pendor ocidental, adulterando ou manipulando cirurgicamente informação verdadeira e publicando mentiras como sendo verdades inquestionáveis. E porque assim é, os mais pequeninos de matriz ocidental “comem” o que todos estes graúdos deitam cá para fora, numa autêntica bola de neve mediática…

 

Repor a verdade

A monarquia tailandesa não pode ser comparada a qualquer outra monarquia existente no mundo ocidental, dado que ambas se regem por formas diferentes de actuação. Ou seja, a primeira está ao serviço do povo, enquanto a segunda rege-se de cima para baixo.

O rei Bhumibol Adulyadej tinha tudo para viver no luxo, conforme acontece, por exemplo, com vários monarcas europeus. No entanto, visitou todas as províncias do País, inclusivamente os locais mais remotos, devotando muito do seu tempo a desenvolver, implementar e financiar projectos agrícolas e infra-estruturas necessárias ao beneficio do seu povo, tendo envolvido neste objectivo membros da família real.

Em muitas ocasiões, o rei Bhumibol Adulyadej substituiu o marasmo de sucessivos Governos eleitos democraticamente (a Tailândia é uma monarquia constitucional), que estiveram mais interessados em olhar para o próprio umbigo do que em governar para a nação.

Em boa verdade, onde faltou a acção de políticos eleitos democraticamente, o rei Bhumibol Adulyadej, sem pedir nada em troca, “espalhou” meios de subsistência pelo País, chegando a sua acção, inclusivamente, a povoações esquecidas pelo Governo Central.

O leitor conhece algum monarca ocidental como este tipo de actuação? Efectivamente, não estranho nada que Bhumibol Adulyadej seja considerado um semi-deus pelo povo tailandês.

 

Estabilidade

No campo meramente político, o rei Bhumibol Adulyadej foi o garante da união nacional, intervindo sempre que necessário a bem da integridade territorial da nação.

Esquecem-se os críticos que o último Golpe de Estado foi extremamente oportuno, porque apesar das negociações mediadas pelo comandante da Royal Thai Army, general Prayut Chan-o-cha (actual Primeiro-Ministro), todos os lados da confrontação política persistiam em não chegar a entendimento, sendo iminente o eclodir de actos de violência generalizada, que poderiam descambar numa guerra civil com consequências trágicas para a nação.

Se o Golpe de Estado impediu um “banho de sangue”, a Junta Militar é agora o garante da ordem pública, porque sem ela a instabilidade iria irromper a olhos vistos após o falecimento do rei Bhumibol Adulyadej, pondo em perigo a soberania da Tailândia e, até mesmo, a paz regional.

Quanto ao sucessor Maha Vajiralongkorn, sem me alargar muito do que me chegou ao conhecimento no passado fim-de-semana, apenas digo que a tatuagem (não permanente) nas costas e as suas excentricidades são coisas de somenos importância para o futuro da Monarquia na Tailândia, que – garanto – vai continuar de pedra e cal com o apoio popular.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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