Olhando em Redor

A RAZÃO DE SÓNIA CHAN

A exigência colocada pela Comissão de Assuntos Eleitorais de Hong Kong para os candidatos ao Conselho Legislativo (LegCo) assinarem uma declaração a rejeitar qualquer apoio a movimentos separatistas contra a República Popular da China pode, à partida, fazer todo o sentido na ex-colónia britânica, enquanto a sua introdução pela entidade homóloga em Macau seja totalmente descabida.

Puro engano, visto fazer todo o sentido que a RAEM adopte idêntica medida, até porque mais vale prevenir do que remediar. A minha ideia baseia-se em pressupostos que devem ser tidos em conta.

O que acontecerá se algum candidato a deputado utilizar um discurso mais agressivo nas legislativas de 2017, apelando ou dando a entender que está a favor da independência de Macau? E se algum deles incitar terceiros a pôr em prática qualquer expediente dúbio relacionado com o separatismo apenas com a intenção de prejudicar uma ou outra lista rival?

Tendo em conta as eleições de 2013, é bem possível que algum repetente possa agora enveredar por um discurso mais fracturante, quiçá, ao sabor dos ventos que sopram de nordeste (muito próximo) e de oeste (bastante longínquo). E o que poderão fazer o Governo e a Comissão Eleitoral, ou o Ministério Público?

Tratando-se de candidatos a deputados, também podem estes instrumentalizar, junto da opinião pública, qualquer actuação vinda das autoridades competentes, acusando-as de atitudes persecutórias ou arbitrárias. Convém não esquecer que os discursos com teor separatista, além de terem impacto mediático, têm como objectivo desestabilizar a paz social e confundir muitos eleitores, que não terão o discernimento de entender, em toda a sua plenitude, o verdadeiro significado de tais acções.

Mais duas achegas: será que todos os candidatos vão estar de boa-fé nas legislativas? Serão todos fidedignos, ao ponto de não haver corrupção eleitoral? Não me parece!

Há ainda duas ressalvas a evidenciar: 1 – Embora a realidade de Macau em nada se compare com a de Hong Kong, é para mim ponto assente que qualquer tentativa de nos separar da Mãe-Pátria terá sempre uma mãozinha do exterior (não me refiro à ex-colónia britânica), pois nunca será com “meia dúzia” de traidores que intenções do género possam ser bem-sucedidas. 2 – Receio bem que a esmagadora maioria dos candidatos até pague a factura, do género “pagar o justo pelo pecador”.

Reagindo, na semana passada, à possível introdução da declaração de não-independência em Macau, a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, avançou que será feito um «estudo profundo» após a Comissão de Assuntos Eleitorais ser constituída, acrescentando que «nos termos da lei já há algumas disposições, mas quando a Comissão for constituída ela vai debruçar-se sobre o estudo destas situações».

Sónia Chan não podia ter outro discurso, mas também não admira que possíveis cenários sejam antecipados por quem de direito e que a introdução da tal declaração ganhe força. Há ainda outro factor a ter em conta: por vezes, até para se conquistar um lugar ao Sol, nascem alianças improváveis. E como quem não deve não teme…

 

Tufão Nida

O tufão Nida já faz parte do passado, mas não as declarações de Fong Soi Kun, director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), que em conferência de Imprensa explicou por que foi accionado o sinal 3 de alerta, em vez do sinal 8.

Pessoalmente não me interessam as suas justificações, mas sim os factos. O tufão Nida derrubou árvores e vários objectos, tais como janelas e painéis publicitários, além de causar acidentes rodoviários e inundações.

Se os SMG fundamentaram a sua decisão em critérios científicos e na experiência adquirida – justificação sempre plausível – cabe-me dizer a Fong Soi Kun que tais critérios de avaliação são perigosos e a experiência adquirida precisa de ser reciclada, porque só por milagre não houve consequências mais gravosas para quem atravessou a ponte da Amizade de motociclo, sem esquecer a sorte a que estiveram votados milhares de cidadãos que se viram e desejaram para chegar ao seu local de trabalho ou a casa.

As explicações de Fong Soi Kun são irrazoáveis. Por isso, é compreensível haver muita gente – mesmo muita – a questionar a relação entre o não hastear do sinal 8 e a indústria do Jogo?

 

Sorvedouro

O Kiang Wu é um sorvedouro de dinheiros públicos, já todos sabemos, assim como a ligação de vários deputados e familiares do Chefe do Executivo àquele empreendimento do sector privado. O Governo tem vindo a financiar o Kiang Wu com avultadas verbas de fazer corar qualquer cidadão que seja incapaz de utilizar os serviços ali prestados por não ter poder económico para o fazer.

Ficou-se a saber esta semana que os Serviços de Saúde disponibilizaram no segundo trimestre de 2016 o montante de 231,4 milhões de patacas de subsídios ao Hospital e ao Instituto de Enfermagem do Kiang Wu, por mim classificado como o verdadeiro concorrente à melhoria do sistema de saúde universal em Macau, pois recebe dinheiros públicos de monta que depois não beneficiam um todo. Há algo muito errado nisto tudo. Há algo que tem de ser revisto.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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