Olhando em Redor

Outra vez Chui Sai Peng.

A vida empresarial do deputado José Chui Sai Peng começa a ter grande destaque na Imprensa escrita do território. Ou não fosse ele primo do Chefe do Executivo!

Primeiro foi a polémica relacionada com a assinatura do despacho, por parte de Chui Sai On, a autorizar uma adjudicação directa, no valor de 5,9 milhões de patacas, à Associação Promotora das Ciências e Tecnologias de Macau, dirigida pelo primo.

Depois foi a antiga casa da família de Chui Sai Peng, na Avenida Ouvidor Arriaga, que deverá ser demolida para dar lugar a um prédio com trinta pisos, sem que o Instituto Cultural fosse chamado a dar uma opinião sobre a preservação do edifício.

Por último, quanto à consulta do Governo feita por convites para a gestão e fiscalização da obra do Complexo Hospitalar das Ilhas, ficou a saber-se que a empresa vencedora, a AECOM, escolheu a CAA Planning Engineering, de Chui Sai Peng, para realizarem o projecto em conjunto.

Sobre este assunto, o Hoje Macau revelou na edição da passada sexta-feira que o serviço adjudicado pelo Gabinete de Desenvolvimento de Infra-estruturas cifra-se nos 197 milhões de patacas. De acordo com a mesma publicação, foram apenas feitos convites directos a seis empresas de Hong Kong, relegando as homólogas de Macau para um papel secundário.

Ressalvando a presunção de inocência dos visados, desejo sinceramente que Chui Sai On, quando deixar de ser Chefe do Executivo, possa finalmente desfrutar de um merecido descanso de tão aturada governação, ao viajar a seu bel-prazer para fora da Grande China, usando de livre e espontânea vontade o seu passaporte de viagem.

Quanto ao primo Chui Sai Peng, é certo que tem direito ao empreendedorismo e a enveredar pelas áreas de negócios para as quais tem reconhecidas competências, seja em Macau, nos Estados Unidos ou em qualquer outro local do planeta.

No entanto, entre a assinatura do despacho e a notícia da AECOM (pelo meio há a questão da moradia), distam cerca de duas semanas. A impressão que passa para a opinião pública é que há “ajudas” de estruturas governamentais ao primo do Chefe do Executivo. A ser verdade, é mau, muito mau!

 

Cadetes da Air Macau

O concurso para a formação de pilotos da Air Macau está a dar pano para mangas. Depois de ter denunciado nesta rubrica a obrigação dos candidatos a serem portadores do passaporte de Macau, excluindo quem não seja cidadão chinês titular do BIR, como é o caso dos residentes permanentes portugueses, a Imprensa escrita em Chinês, Português e Inglês abordou o assunto em boa hora.

Na resposta, a Air Macau tornou claro que os candidatos devem ser portadores do BIR e de um passaporte válido com outra nacionalidade, sem ser a chinesa, algo que se confirma pela rectificação efectuada na página electrónica daquela companhia aérea.

Salta um pormenor à vista: não sendo feita qualquer referência aos géneros, masculino e feminino, tendo em conta a foto do anúncio de recrutamento (quatro homens com farda), subentende-se que o concurso está vetado às mulheres. Não será isto pura discriminação?

 

“May Day”

Na passada segunda-feira cumpriu-se a habitual manifestação do Dia do Trabalhador, ou “May Day”, sendo o “glamour” de tão singela passeata embelezado com a marcha lenta de taxistas (cerca de 140 táxis e dois motociclistas), organizada pela Federação de Motoristas de Táxi Profissional de Macau.

São ridículas as pretensões do porta-voz do grupo, Au Iat Sun, ao assumir que não são justas as medidas que poderão constar nas alterações ao regime de táxis, que prevê a inclusão de polícias à paisana e a punição dos proprietários de táxis quando os taxistas cometem ilegalidades, porque – no seu entender – é a maioria que vai pagar pelo mau comportamento da minoria.

Au Iat Sun devia ter vergonha na cara ao assumir esta atitude, até porque não tomou qualquer posição de força quando não há muito tempo o sector dos táxis – quiçá promovido pela tal minoria – dava a impressão de mais parecer um bando do crime organizado.

 

Sabe a Pato

Desengane-se o caríssimo leitor se vou escrever sobre gastronomia, porque o arroz de pato e quejandos não são para aqui chamados. Venho, isso sim, abordar a vinda do pato à Região (até poderia chamar-se Julião), mais concretamente, do péssimo exemplo dado pelo Governo ao financiar o que não devia ser financiado com dinheiros públicos.

Tal como Carlos Morais José escreveu no Hoje Macau, também não tenho nada contra o simpático pato de borracha, criação do holandês Florentijn Hofman, que já deu a volta ao mundo e presta-se a fazer as delícias dos amantes das “selfies” e de alguns negócios a retalho em Macau. Também percebo os desabafos e as preocupações de Marco Carvalho, no Ponto Final.

Se para o Governo da RAEM vale a pena entrar no roteiro mundial do simpático pato de borracha, esquece-se amiúde que continua a construir a Cultura pelo telhado, em vez de começar pelos alicerces.

O busílis da questão é simples: Como pode o Governo esbanjar três milhões de patacas, quando o sector está uma lástima? Como pode o Governo esbanjar tanto dinheiro quando as indústrias criativas definham em Macau, havendo casos de uns serem “filhos” e outros “enteados”?

Para a Associação de Cultura Criativa e Artes de Macau até sabe a Pato que o Governo tenha comparticipado directamente metade da quantia para trazer o gigante de borracha à RAEM. A não perder, até 29 de Maio, em frente ao Centro de Ciência… refiro-me aos excursionistas das “selfies”.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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