Justiça para todos
A detenção do ex-Procurador da RAEM, Ho Chio Meng, sendo para muitos inimaginável de acontecer, foi para mim um grande choque. Não por saber que “onde há fumo, há fogo”, mas sim pelo nome e cargo da pessoa em questão.
Sabemos muito bem que a Justiça não é igual para todos em qualquer parte do mundo, incluindo em Macau. No entanto, há que dar o benefício da dúvida para que se faça justiça no caso Ho Chio Meng, em absolvê-lo se for inocente ou castigá-lo se for culpado.
Há quem diga que esta detenção vem colocar em causa a credibilidade do Ministério Público e da RAEM, mas também há quem considere o contrário. Muito haveria a discorrer sobre ambas as teorias, porém, o foco continua limitado até porque quem de direito ainda não actuou sobre outros “tigres”.
Importa dizer que devido ao caso Ho Chio Meng haverá quem tente perturbar o andamento da Justiça, nuns casos por lhes dar jeito, noutros por estarem mal informados e ainda noutros por saberem demais. Haverá também quem queira reclamar justiça, a mesma que terá faltado no tempo de Ho Chio Meng.
Nos tempos que correm na Grande China, há que ter esperança de que nenhum “tigre” estará acima da Lei. Já escrevi várias vezes neste espaço que muito do que ultimamente sucede no continente chinês tem repercussão em Macau.
É óbvio que a política anti-corrupção implementada por Xi Jinping está a mudar o paradigma ao nível da governação e do sector empresarial na RAEM, porque se antes havia espaço para o regabofe, dá a impressão que o cerco aperta-se cada vez mais, razão pela qual as oligarquias vigentes e os interesses instalados terão que se adaptar à nova ordem.
Um caso flagrante é a convicção e o empenho do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, em recuperar a favor do Governo os terrenos que não foram aproveitados em tempo útil, que foram ocupados ilegalmente, ou conseguidos de forma criminosa.
Voltando a Ho Chio Meng: arrepia só de pensar que até na Assembleia Legislativa havia quem torcesse para que ele fosse eleito Chefe do Executivo em 2009…
Alimentação saudável
O recém-empossado José Tavares prometeu reforçar a segurança alimentar enquanto presidente do Conselho de Administração do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. A tarefa não se apresenta fácil, se tivermos em conta as inúmeras lojas alimentícias que pululam no território.
Segundo Tavares, o IACM vai dedicar especial atenção à falta de licenciamento das lojas que vendem “take-away”, ou “tapau”, estando também na mira do IACM as encomendas de comida “online”. Espero que não sejam palavras de circunstância, até porque para fazer face a tamanha empreitada terá que aumentar consideravelmente o número de fiscais.
José Tavares fez bem em falar da segurança alimentar, mas esqueceu-se de dizer o que irá o IACM fazer com os restaurantes e os estabelecimentos de comida, ou outros negócios da restauração devidamente licenciados, que impunemente continuam a colocar a saúde das pessoas em perigo, seja porque o óleo das frituras não é mudado com a devida regularidade, seja porque vários produtos são adquiridos no mercado paralelo.
Estou certo que estará mais do que garantida a cooperação entre o IACM e os Serviços de Alfândega. Talvez, em parte, esteja explicada a razão de Alex Vong ter saltado do IACM para os Serviços de Alfândega, e José Tavares do Instituto do Desporto para o IACM.
O segredo de Trump
O magnata Donald Trump está prestes a tornar-se no candidato do Partido Republicano às eleições presidenciais dos Estados Unidos. A razão para o seu mediatismo e inesperado sucesso está no discurso inflamado, por vezes a roçar o inimaginável.
Embora não tenha uma bola de cristal para prever o futuro, arrisco a dizer que Donald Trump será o próximo Presidente dos “States”. A razão é simples: o republicano adopta um discurso vincadamente populista, porque apenas diz o que a generalidade dos americanos pensa, ou acredita, embora muitos não tenham o atrevimento de admiti-lo.
Vamos por partes: Donald Trump quer um muro na fronteira com o México porque a maioria da população americana olha com desdém para os mexicanos. O magnata quer estender a mão à Rússia, porque a maioria dos americanos vê na China – forte aliada de Putin – a principal ameaça à paz mundial. Estreitando as relações com os russos, Trump espera minar a confiança destes com os chineses.
O pré-candidato republicano também quer combater o ISIS, porque sabe que será uma luta sem tréguas que perdurará no tempo, o que beneficiará o poderoso lóbi da indústria do armamento norte-americano. Reconheço, porém, ser difícil lidar de outra forma com grupos terroristas.
Trump quer ainda proibir a entrada de muçulmanos no País, porque a generalidade dos americanos é preconceituosa, já para não dizer racista. Se lembrarmos a proveniência do Ku Klux Klan e a cronologia dos confrontos raciais no dito país das liberdades, certamente que o leitor perceberá o alcance das minhas palavras.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA
pedrodanielhk@hotmail.com