Olhando em Redor

Combater o terrorismo… de mansinho

O exacerbado radicalismo de vários grupos terroristas está a pôr a Europa em polvorosa, enquanto os Estados Unidos, quiçá o principal responsável por toda esta calamidade, anda a fazer pela vida, seja para proteger os interesses que tem instalados um pouco por todo o mundo, seja para manter a soberania nacional do seu território.

O foco do autoproclamado Estado Islâmico (ISIS, na sigla inglesa) está mais voltado para a Europa, por razões várias. Apresento algumas: 1 – A Europa está mais perto do mundo árabe do que os Estados Unidos; 2 – As fronteiras do espaço Shengen são mais permeáveis; 3 – A União Europeia carece de liderança forte, justa e equilibrada, o que enfraquece políticas de coesão que deveriam torná-la num modelo para outros países.

Há outro factor a ter em conta: a Europa, de um modo geral condicionada pelo Reino Unido e pela França, ainda não se livrou do estigma da Segunda Guerra Mundial, pois mais parece continuar refém da eterna dívida de gratidão que tem para com os americanos, os grandes responsáveis pelo fim do conflito armado no Velho Continente. Por outro lado, a ambiguidade da Alemanha em muitas questões fracturantes estão a fragilizar o modelo europeu.

Razões à parte, é certo que onde há interesses americanos espalhados pelo mundo também a ameaça terrorista paira no ar. Idem, idem, aspas, aspas, para quem faz parte da sua coligação. A Rússia entrou recentemente no rol, não por morrer de amores pelos americanos, mas devido às intervenções militares desencadeadas na Síria contra o ISIS.

Convém esclarecer o seguinte: qualquer grupo terrorista deve ser fortemente reprimido, porque a violência, ainda por cima invocando uma religião (neste caso, o Islão), é perfeitamente inaceitável num mundo onde existe o Direito Internacional.

 

Macau

 

Supostamente tudo estaria bem em Macau, não fosse o antigo director do Gabinete de Inteligência Criminal da Polícia de Hong Kong, Steve Vickers, defender que o Governo de Macau deveria canalizar um maior investimento para o sector da segurança, por considerar que a RAEM está mais exposta a um ataque terrorista do que qualquer outro país ou território da região.

Para ele, «Macau apresenta determinadas características em termos de Jogo, de investimento norte-americano, em termos do investimento de algumas personalidades judaicas famosas [Sheldon Adelson e Steve Wynn] na gestão ou propriedade de casinos, em termos de publicidade no caso de um incidente e do facto de se realizar em solo chinês». De igual forma, segundo acrescentou à Rádio Macau, a RAEM «apresenta-se como um alvo mais do que qualquer outro território na região».

Nada disto é novidade para mim, ou não tivesse há alguns anos focado precisamente a análise nestes mesmos pontos na minha rubrica de opinião n’O CLARIM. Compreendo, no entanto, por que razão são importantes os “paninhos quentes” sobre o tema, por parte do Governo de Macau e da Polícia Judiciária (PJ), porque o contrário só iria criar uma onda de alarmismo com repercussões catastróficas para a economia local.

 

Polícia Judiciária

 

A ameaça terrorista em Macau foi comentada há dias pelo director da PJ, Chau Wai Koung, que muito pouco adiantou. Não fiquei surpreendido, embora esteja plenamente consciente que o trabalho da PJ possa ir muito mais além do que a cooperação com os Serviços de Polícia Unitários, a PSP, o Serviços de Alfândega e o Gabinete de Informação Financeira, sem esquecer a cooperação transfronteiriça com as congéneres da província de Guangdong e de Hong Kong. Ou com outras entidades policiais do continente chinês e da região Ásia-Pacífico, tendo ainda presente a troca de informação com a Interpol…

Num mundo cada vez mais global é primordial que a PJ mantenha canais de comunicação abertos com entidades que possuem informação privilegiada – diria mesmo, bastante específica – sobre o terrorismo internacional, constando entre elas a CIA e o MI5. Ou seja, havendo indícios de algum atentado terrorista estar a ser planeado para Macau, certamente alguma dessas agências poderá estar em condições de partilhar informação com a PJ. Também não ponho em causa que tal possa suceder indirectamente, por via dos ex-agentes da CIA afectos a uma ou outra operadora do Jogo.

Numa análise mais geral, não me admira nada se as autoridades policiais de Macau tiverem em seu poder uma lista com terroristas e suspeitos devidamente referenciados, com o intuito de serem interceptados em qualquer posto fronteiriço. Será que igual expediente será utilizado pelas operadoras de Jogo mais permeáveis à ameaça terrorista, neste caso para salvaguardar a segurança interna das suas instalações?

Neste particular, há que reformular a exigência ao nível de quem faz o controlo de acessos nos casinos (os segurança) porque tal serviço não deve ser desempenhado por pessoas cujas aptidões deixam muito a desejar – para mim, é algo que salta à vista amiúde!

Numa reacção aos comentários de Vickers, o responsável da Associação de Polícias Aposentados de Macau, Lei Wai Meng, defendeu que as escolas e os hospitais são bons locais para testes de simulação de um ataque terrorista, porque, conforme disse ao jornal San Wa Ou, é difícil organizá-los em locais turísticos, tais como as Ruínas de São Paulo.

Convém informar o senhor Meng que os interesses americanos podem estar em grande risco, por isso tais simulacros devem ser efectuados, o quanto antes, nas instalações do Venetian e do Wynn Resorts, porque é lá que todos os procedimentos de segurança, planos de contingência incluídos, podem ser devidamente testados.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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