Recados do dia
Há dias veio-me parar às mãos a edição de fim-de-semana (4 e 5 de Abril) do China Daily. Num instante, houve duas mensagens na capa do jornal que me prenderam a atenção.
A primeira: “Xi [Jinping] planta raízes de consciência verde”, por altura de um evento relacionado com a plantação de árvores em Pequim, onde o Presidente da RPC realçou a importância da ecologia e da protecção ambiental, ao apelar à grande consciência dos seus benefícios neste «momento histórico».
A segunda: “Ex-chefe da segurança indiciado por suborno”, em referência à acusação que pende sobre Zhou Yongkang, o mais alto oficial a ser acusado em várias décadas, sendo certo que vai ser julgado em tribunal.
Os dois “recados do dia” mereceram-me a atenção porque, directa ou indirectamente, também estão relacionados com Macau. Num território de exíguas dimensões, com ruas não muito largas e avenidas de tamanho reduzido, onde não há auto-estradas, justifica-se plenamente a implementação de soluções tecnológicas amigas do ambiente, não só nos transportes públicos, como também na parafernália de veículos que facilitam a vida dos agregados familiares.
Nesse sentido, é imperioso que o Governo da RAEM crie, numa primeira fase, incentivos para a circulação de “scooters” eléctricas no território, em vez das movidas a combustíveis fósseis. Obviamente, as “scooters” precisam estar dotadas de buzinas com boa audição porque os veículos eléctricos primam pelo silêncio quando circulam a pouca velocidade. Caso seja necessário, que se elabore legislação a contemplar as duas soluções.
A RAEM também é um território desolador, onde não encontramos muitos espaços verdes para as famílias passearem descontraidamente ao fim-de-semana. Dois raros exemplos, em sentido contrário, são várias zonas de Coloane e alguns (poucos) locais na Taipa e na Península de Macau.
Tendo em conta a densidade populacional, os espaços disponíveis são manifestamente insuficientes para almejarmos a tão ambicionada qualidade de vida que estamos a perder a cada ano que passa.
Em suma: o betão armado tem ganho terreno, fruto dos desmesurados interesses dos lóbis da construção civil, da indústria do Jogo, do imobiliário, e por aí fora… Custa acreditar, mas no meio deste regabofe todo ainda há “tigres” de Macau que têm o descaramento de virar costas ao Presidente Xi Jinping. Embora haja a Lei Básica, espero que aprendam a lição, porque mecanismos para isso não faltam.
Por outro lado, é sobejamente conhecido que a campanha anti-corrupção na China continental não tem poupado os “tigres” e as “moscas”. A sobrevivência da RPC assenta na integridade de quem serve o Estado, mas também o sector privado. Macau devia seguir o exemplo à letra, por ser uma espécie de laboratório para o Poder Central, até porque os resultados – a meu ver – deixam muito a desejar.
Apresento as minhas razões: 1 – Em termos económicos, Macau não é nenhum modelo de sucesso para a China enquanto não consolidar a diversificação económica para além da indústria do Jogo, porque os casinos não são permitidos para lá das Portas do Cerco.
2 – Face às queixas de personalidades com cargos influentes nas operadoras de Jogo, ao admitirem que a queda das receitas brutas no sector está ligada à campanha anti-corrupção na RPC, sou levado a concluir que Macau é um paraíso para o branqueamento de capitais e demais crimes financeiros que passam ao lado da Polícia Judiciária e do Gabinete de Informação Financeira.
3 – É verdade que a desaceleração económica da China e a restrição dos vistos individuais têm contribuído para a queda das receitas brutas no território, mas os queixumes dessas personalidades também indiciam que estes dois factores são contas de outro rosário.
Lista negra
De acordo com a agência estatal Xinhua, as autoridades chinesas pretendem elaborar uma “lista negra” de turistas nacionais com comportamentos inadequados no estrangeiro, na sequência de vários incidentes que estão a pôr em causa o bom nome da China.
A Administração Nacional do Turismo pretende estabelecer uma base de dados de turistas chineses que tenham comportamentos anti-sociais nos transportes públicos, provoquem danos à propriedade privada ou pública, não respeitem os costumes locais, e participem em actividades pornográficas, entre outras. Os culpados vão ter o seu nome na “lista negra” durante dois anos.
É de louvar a preocupação das autoridades chinesas, mas temo que o problema não ficará resolvido na sua génese com a “lista negra”, porque – custa-me a admitir – há milhões de cidadãos chineses com muito pouca sensibilidade para as questões da “etiqueta e bons costumes”, seja pela precária educação no seio familiar, seja porque não tiveram os meios necessários à disposição para evoluírem na sua condição humana, seja porque no país mais populoso do mundo ainda há muito por fazer no sector da Educação.
PEDRO DANIEL OLIVEIRA