Olhando em Redor

Desporto, casinos e David Chow

O Desporto de Macau continua, na sua generalidade, a pautar-se pelo amadorismo mais confrangedor, apesar de existir o “Regulamento dos Prémios do Desporto de Alta Competição” que abrange modalidades que pouco dignificam essa vertente mais profissional.

Assim que Alexis Tam iniciou o mandato como secretário para os Assuntos Sociais e Cultura percebi pelo seu discurso que o Desporto vai continuar a ser o parente pobre, não só da sua pasta, como também do Governo da RAEM.

Para quem conhece a fundo os meandros do desporto de alta competição sabe muito bem que este desígnio é sinónimo de atletas profissionais, ou semi-profissionais, que treinam quase todos os dias o binómio qualidade-intensidade (por vezes fazem treino bidiários e descansam apenas um dia por semana), em vez de cumprirem dois, três ou quatro treinos semanais, como regularmente acontece em Macau.

A falta de talentos – atletas e dirigentes desportivos – pode em parte explicar-se pela exiguidade do território, porque quando a oferta é pouca também a qualidade pode ficar aquém do desejado.

A ilha da Montanha, os novos aterros, o pavilhão de Mong Há com cinco pisos e o Centro de Estágios no COTAI poderão ser o balão de oxigénio para dar resposta à carência de infra-estruturas que afecta determinadas modalidades e para elevar a performance dos atletas locais.

É meu desejo – espero que também seja o de muitos cidadãos – que Alexis Tam não se esqueça deste importante sector chamado Desporto que está à sua responsabilidade. Uma pista sobre o futuro será dada aquando da apresentação das Linhas de Acção Governativa, vulgo LAG.

Se o digníssimo secretário quiser a evolução, antes de dotar o território com infra-estruturas de excelência para a prática das modalidade ou proporcionar outras condições para o aparecimento de mais e melhores atletas de alta competição (na sua acepção da palavra), terá primeiro que pensar na revisão de alguma legislação relacionada com o Desporto e olhar também com bastante atenção para os cargos de presidência, ou gestão, de certas associações desportivas.

E por que razão? Por vezes são pessoas a ocupar estes cargos que, movidas por interesses monetários, pessoais, familiares ou de uma minoria, condicionam o desenvolvimento das modalidades que estão sob a sua alçada. Para que o Desporto possa evoluir também é preciso haver melhores dirigentes desportivos.

 

Fumo tenso

A deputada Angela Leong, através de um comunicado divulgado na semana passada pelo seu gabinete, instou as autoridades competentes a proceder ao «trabalho do controlo total do fumo nos casinos o mais rápido possível» e a tomarem, desta vez, «medidas com orientação clara».

No entender da também administradora delegada da SJM, «centenas de milhões de patacas foram gastos para a construção de instalações, como as salas de fumadores», mas quando houver a proibição total «sem dúvida que essas instalações vão ser inúteis».

Para Angela Leong, «o desperdício de uma grande quantidade de dinheiro não aconteceria se o Governo tomasse a decisão da proibição absoluta de fumo nos casinos desde o início», pois «seria mais prático usar esse dinheiro para a melhoria do bem-estar dos trabalhadores do sector do Jogo».

Passaram alguns dias e li no Macau Daily Times as declarações de Ambrose So: «A SJM não se opõe à proibição total do fumo. Pensamos que os casinos podem ainda instalar salas de fumo, o que não estará em conflito com a proibição de fumar».

Ainda segundo o CEO da SJM, «é como nas salas de fumo dos aeroportos de Hong Kong e de Macau, onde existe a proibição de fumar. Só estamos a respeitar os hábitos dos fumadores, que não estarão a afectar os não fumadores [quando fumam] numa sala de fumo».

O secretário Alexis Tam teve, no passado dia 29 de Janeiro, uma reunião – a primeira – com as operadoras do Jogo em que o Governo abordou a sua intenção de enveredar pela total proibição do tabagismo nos casinos, incluindo a inexistência de salas de fumo. Apurei entretanto que da parte da indústria do Jogo houve quem defendesse, pelo menos, a permanência destas salas.

Pelas declarações dos responsáveis da SJM saltam à vista posições discordantes. Angela Leong é a favor da proibição total, mas Ambrose So pede salas de fumo. Em que ficamos?

 

Nova vida

A inauguração, na última quarta-feira, do Hotel Harbourview veio provar que David Chow ainda tem trunfos para jogar em Macau. Depois de tempos menos abonatórios, com “desentendimentos” a envolver Steve Wynn, investimentos falhados em África por imperativos de vária ordem e indefinição quanto à revitalização da Doca dos Pescadores, o homem forte da “Macau Legend Development” parece estar aí para as curvas como um gato de sete vidas.

A continuar com este andamento não será de espantar se quando chegar a altura da renegociação dos contratos do Jogo o Governo optar por atribuir uma licença à empresa de David Chow.

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

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