Olhando em Redor

A qualidade combate o crime

O chavão “Macau é uma cidade segura” continua a ser actual, visto que até mesmo durante o período negro de 1998-99 a insegurança era relativa, pois atingia essencialmente um número restrito de pessoas com ligações directas, ou indirectas, ao crime organizado.

Naquele período, assim como agora, o normal cidadão podia fazer a sua vida descansada sem ser vítima de “carjacking” ou ter receio de se deparar com assaltos à mão armada ou perseguições policiais a bandidos em fuga, tão ao estilo de determinados países “civilizados”.

A dimensão exígua do território é contrária à realização de certo tipo de crimes, mas as especificidades locais assentes numa economia muito dependente da indústria do Jogo também são favoráveis à existência de outros.

No ano passado houve um aumento do número de “crimes relacionados com o jogo” (3023, mais 424 do que 2013 e 953 do que 2012) e de “usura e agiotagem” (208, mais 47 e 58 do que nos dois anos anteriores), segundo dados estatísticos divulgados, na passada terça-feira, no “Encontro Anual do Ano Novo com a Polícia Judiciária”.

O facto de estarmos a viver num pólo de dinâmica internacional também é propícia à ocorrência de crimes informáticos ou de burlas por telefone praticadas a partir do exterior. Se a cooperação transfronteiriça com Hong Kong e com a província de Cantão está facilitada, já com outros países poderá haver dificuldade em levar os criminosos à Justiça (sempre que apanhados) devido às leis que vigoram em cada uma dessas jurisdições.

A segurança interna da RAEM assenta essencialmente no trabalho eficiente dos órgãos de polícia criminal do território (a Guarnição do Exército de Libertação do Povo Chinês tem outro objectivo), por isso é de louvar a aposta contínua no policiamento de proximidade e nas acções de sensibilização e prevenção efectuadas nos últimos anos pela Polícia Judiciária, ou pela Polícia de Segurança Pública, junto das escolas, das associações, das empresas e, até mesmo, através dos Órgãos de Comunicação Social.

Contudo, temo que a mensagem passe ao lado de uma considerável franja da população devido a aspectos culturais e sociais que muitas vezes moldam a ingenuidade dessas pessoas.

É dado adquirido que o crime vai continuar a existir em qualquer sociedade e que a ingenuidade das pessoas também existe noutras jurisdições, mas a forma como se implementam certas acções de sensibilização e prevenção também podem contribuir para minimizar a ocorrência de muitos crimes.

Os folhetos colados nas paredes dos prédios a explicar determinado tipo de crimes passa muitas vezes ao lado de quem entra ou sai dos elevadores desses edifícios. Também nem todos os cidadãos assistem à televisão no horário nobre ou leêm nos jornais as publicações institucionais da PJ ou da PSP, já para não mencionar que as acções de sensibilização e prevenção nas escolas, associações e empresas alcançam um número reduzido de audiência. Há, pois, que pensar em soluções mais atractivas, sempre sem descurar o trabalho que tem vindo a ser feito pelas polícias.

Tudo passa por dotar Macau com melhores infra-estruturas na área da Saúde (para quando o Hospital das Ilhas?), mais e melhor habitação pública, transportes públicos de qualidade (quando acabam as “latas de sardinha” que são os autocarros das três operadoras ou os abusos dos taxistas?), e por nivelar a mediania dos salários de acordo com o desempenho da Economia (sem nunca os baixar, mesmo que a título provisório) e optar por soluções amigas do ambiente (há falta de veículos não poluentes).

São também necessárias alternativas às unidades hoteleiras integradas em áreas de jogo (são precisos parques públicos para as famílias) e dotar o território com mais espaços para a prática desportiva, entre outros.

Um sistema de ensino moderno, eficaz e pró-activo (mesmo com valores chineses) é de vital importância para a formação de qualquer residente de Macau, porque além de ajudar à consolidação de valores morais e sociais, também irá ajudar à prevenção de certas práticas que são censuradas pela sociedade.

No entanto, tais medidas nunca irão ser concretizadas com governantes e decisores da Administração que primam as suas acções por incompetência ou por má gestão, algumas das quais lesivas ao erário público; nem oligarcas, empresários ou deputados sem qualquer tipo de responsabilidade social, mesmo que por vezes atirem umas migalhas (donativos ou discursos) que até calam as vozes mais críticas da sociedade; muito menos activistas que nada mais têm do que sede de reconhecimento social, em vez de lutarem de forma genuína pelo interesse do bem comum.

Uma população feliz e com boa qualidade de vida é seguramente o garante da estabilidade social e do decréscimo da criminalidade. Mas quando é que Macau vai estar ao nível destas duas exigências que também fazem parte do pilar da harmonia social?

PEDRO DANIEL OLIVEIRA

pedrodanielhk@hotmail.com

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *