Estaremos diante do corpo real de Jesus Cristo?
O fascínio pelo Santo Sudário despertou com uma imagem misteriosa, de um corpo desnudado no pano com as características de Jesus crucificado, que se deu a conhecer em 1898 após a revelação de um negativo – fotografia tirada ao Sudário pelo fotógrafo Secondo Pia. Mas a imagem ganha agora um novo clímax, com a exibição de uma escultura tridimensional da figura humana presente no Santo Sudário, no culminar do trabalho realizado por cientistas da Universidade de Pádua e do hospital local, onde a ciência acaba por alimentar a fé, num encontro de Deus feito Homem.
Não é a primeira vez que falamos do Santo Sudário de Turim, pano de linho que a Igreja Católica e os fiéis, cada vez mais, acreditam ter envolto o corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo no túmulo. A ciência não consegue, até hoje, explicar a natureza da imagem no tecido, mesmo depois de inúmeras equipas terem analisado o Sudário.
Um grupo da Universidade de Pádua (Itália) veio acrescentar um novo capítulo à investigação ao dar vida ao corpo do Sudário com uma escultura feita a partir de tecnologia 3D, que foi apresentada recentemente no dia 20 de Março no Palácio Bo, pertença da própria Universidade, por especialistas que trabalharam durante dois anos com o escultor Sergio Rodella, sob a direcção de Giulio Fanti, professor de Medições Mecânicas e Térmicas do Departamento de Engenharia Industrial daquela Instituição.
O professor Giulio Fanti tem vindo a estudar o Santo Sudário e numa das suas anteriores pesquisas os resultados das análises determinaram que é razoável datar o Sudário no século I d.C., a época em que Jesus de Nazaré viveu na Palestina. «O trabalho que fizemos produziu resultados compatíveis entre si, indicando uma data em torno de 33 a.C., com uma incerteza de mais ou menos 250 anos», disse.
Segundo Fanti, para a tradição cristã a imagem que se vê no Santo Sudário, deixada pelo corpo na tela, é a de Cristo morto crucificado, sendo que agora a ciência, através desta escultura, usando uma tecnologia sofisticada em 3D, confirma a tradição.
Giulio Fanti considera que estamos finalmente diante de uma imagem precisa de como era Jesus, descrevendo a estátua como a representação tridimensional do Homem do Sudário, em tamanho natural, feita com base em medidas milimétricas tiradas do pano em que o corpo de Cristo foi envolto após a Crucificação.
Numa entrevista exclusiva à revista italiana Chi, o professor explicou: «Segundo os nossos estudos, Jesus era um homem de extraordinária beleza. Longilíneo, mas muito robusto. Tinha metro e 80 de altura, quando a altura média naquele tempo era de cerca de metro e 65. E tinha uma expressão real e majestosa».
Mediante os estudos e a projecção tridimensional, Fanti pôde também registar as numerosas feridas no corpo do Homem do Sudário. «No Sudário contei 370 feridas de açoites, sem considerar as laterais que o pano não revela porque envolveu apenas a parte anterior e posterior do corpo. Mas podemos supor pelo menos 600 golpes. Além disso, a reconstrução tridimensional permitiu observar que, na hora da morte, o Homem do Sudário pendeu para a direita, porque o ombro direito foi deslocado de modo tão grave que lesou os nervos», referiu.
De acordo com a Universidade de Pádua, este trabalho revela que a figura humana reflectida no Santo Sudário “tem uma notável rigidez cadavérica, uma postura igual à de um homem crucificado cujos braços foram preparados para a sepultura. O alongamento da extremidade superior direita e a redução do ombro direito confirmam a hipótese de que o Homem do Sudário sofreu um trauma grave no pescoço, no tórax e no ombro, provavelmente caindo sob o peso da cruz com a consequente luxação do ombro e paralisia do membro direito”.
O professor Gianmaria Concheri, que participou na pesquisa, explicou que «para construir o modelo em 3D utilizou-se um método interactivo para chegar a uma aproximação real, envolvendo um tecido semelhante ao do Santo Sudário em redor de um modelo tridimensional de um corpo humano com as dimensões ideais». Este processo tecnológico para “decalcar” a imagem do Sudário realizou-se até que as medidas do modelo tridimensional coincidissem com a parte frontal e dorsal do tecido. De seguida, foi construído um esqueleto metálico que representava a posição do corpo e foi moldado progressivamente até se conseguir chegar ao resultado final.
Por sua vez, Matteo Bevilacqua, cientista que também participou no trabalho, disse que «o mais surpreendente é que o corpo de Jesus se tornou quase imediatamente rígido e permaneceu incorrupto até ao momento da Ressurreição. A explicação poderia estar nas cem libras de mirra e aloés trazidas por Nicodemos, substâncias conhecidas desde a antiguidade pelo seu poder conservador e de anti-decomposição».
ENTRE A FÉ E A CIÊNCIA
Exaustivamente analisado e estudado por uma volumosa quantidade de cientistas, o Sudário parece apresentar o mesmo fenómeno do manto (tilma) com a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe (México). A impressão do suposto corpo de Jesus não é directa sobre o tecido, mas “flutua” ligeiramente acima dele. As tentativas de reproduzir a impressão nunca resultaram e até hoje não se explica de que forma a imagem foi gerada sobre o tecido de linho. O que parece mais provável é que tenha ficado impressa mediante a irradiação de uma luz poderosa, originada pelo próprio corpo aquando da ressurreição de Jesus no sepulcro.
O Santo Sudário – tecido delicado – é guardado dentro de uma pequena câmara com controlo de temperatura, na Catedral de São João Baptista, na cidade de Turim.
Em 1532 irrompeu um incêndio na Santa Capela, que por pouco não destruiu a relíquia, deixando-a com várias manchas visíveis provocadas pelas chamas.
Em 2006, o Pontifício Ateneu Regina Apostolorum criou uma Exposição Permanente em Roma sobre o Sudário de Turim, a fim de promover o diálogo entre a fé e a ciência, para todos os que sentem o chamamento espiritual do Sudário. Nesta exposição já havia sido feita uma escultura de bronze do Homem do Sudário pelo escultor italiano Luigi E. Mattei, com base na imagem do tecido, mas não com o rigor e perfeição da escultura agora apresentada pela Universidade de Pádua.
Miguel Augusto
com Aleteia